Defesa e reforço da democracia são imperativos legados pelo 25 de Abril
Carlos de Matos Gomes, coronel reformado do Exército envolvido na conspiração que deu origem ao 25 de Abril de 1974, esteve presente na “Jornada de história local: 50 anos de 25 de Abril”, em Vila Nova da Barquinha. O militar abordou a vida após a revolução e temas da actualidade como a inteligência artificial e o uso das tecnologias.
Carlos de Matos Gomes, coronel reformado do Exército, acredita que aprofundar a democracia, desenvolvendo mais e melhores formas de pensar e de expressão, é a principal lição que se deve retirar 50 anos depois da revolução de 25 de Abril. O coronel foi um dos envolvidos na conspiração dos oficiais portugueses que originou a revolução de Abril e esteve presente na “Jornada de história local: 50 anos de 25 de Abril”, em Vila Nova da Barquinha, onde abordou a vida em democracia e reflectiu sobre a actualidade.
Carlos de Matos Gomes afirma que a revolução de Abril trouxe a modernidade, para um país que era beato, rural, medieval e de classes. No entanto, defende que a grande preocupação a ter nos dias de hoje é a mesma de há 50 anos, a defesa da democracia, referindo que um país não se constrói só com obras públicas mas também com obras mentais. “Desenvolver capacidade para produzir paz, pão, habitação e educação. Hoje temos o poder local que dá voz ao povo, seja através das autarquias ou das assembleias municipais, mas os cidadãos têm de exigir, sempre, o reforço da democracia”, defendeu.
O oficial do Exército aponta a informação e a tecnologia como potenciais ameaças à humanidade. “A informação emitida, por exemplo, pela televisão, é uma arma poderosa de pensamento dominante. Por exemplo, andamos a discutir um aeroporto para Portugal que já nem deve ir servir para muita coisa. Se usarmos a Internet para procurar um hotel em determinada localidade, cinco minutos depois temos imensos anúncios de hotéis nessa região. Estamos a ser tratados como consumidores e não como cidadãos e isso é o contrário de democracia” afirma.
No entanto, o coronel acredita que a pior ameaça é a espécie humana. “Somos a espécie mais perversa de todas. A primeira coisa que o Homem fez foi afiar uma pedra, colocar na ponta de uma seta e matar outros. Para conquistar poder. Só depois se lembrou de fazer fogo para cozinhar, para se alimentar e sobreviver”, disse, acrescentando que a sede do ser humano por poder continua com a inteligência artificial. Uma tecnologia que acredita servir mais para alcance de poder por parte de alguns, do que para servir a população como um todo.
Durante a sessão, foi ainda abordada a saúde no Médio Tejo, como o aparecimento dos primeiros hospitais e funcionamento actual, com os oradores Isabel do Carmo, Nelson Baltazar e Alexandre Tomás. Francisco Fanhais, ex-sacerdote católico e cantor português de intervenção era um dos convidados para fechar a sessão com um momento musical, no entanto, por motivo de doença, não pôde comparecer.