Associação Marcial de Samora Correia precisa de espaço para continuar a crescer

Na Associação Desportiva Marcial de Samora Correia, as artes marciais são mais do que uma prática desportiva e o foco está no desenvolvimento pessoal e não em exibir cintos ou egos. Criada em 2019, a colectividade debate-se com a falta de espaço para manter o ritmo de crescimento no número de atletas de kenpo e de ju-jitsu.
A Associação Desportiva Marcial de Samora Correia (ADMSC) tem registado um crescimento significativo desde a sua fundação, em 2019, com um aumento de cerca de 50% no número de atletas. Actualmente, a academia conta com 112 praticantes permanentes de kenpo e ju-jitsu, mas enfrenta um desafio que a impede de acolher novos atletas e que se relaciona com a falta de espaço.
Além das turmas que preenchem o dojo de Samora Correia, de segunda a sexta-feira, há também uma classe júnior que já treina noutro local, no Pavilhão do Porto Alto, porque no número 36B da Rua Almirante Cândido dos Reis é impossível crescer. Luís Coelho, instrutor e presidente da associação, reconhece a dificuldade. “Estamos a tentar desbloquear um espaço maior, porque já não conseguimos responder à procura. Não é o que desejamos, mas, por vezes, temos mesmo de dizer que não”, diz.
Fundada em 2019, a ADMSC nasceu da visão de Luís Coelho em criar um projecto autónomo que colocasse o foco no crescimento dos atletas. “Ainda estivemos ligados a outras colectividades em Samora Correia, mas achei que era preferível ter algo próprio para apoiar melhor os atletas”, explica. Os primeiros tempos foram desafiantes porque, como refere, o associativismo é complicado porque as pessoas não querem compromisso ou perder tempo. E, além disso, a colectividade enfrentou a pandemia de Covid-19, que a obrigou a fechar portas em 2020 e a recomeçar em 2021.
Durante esse período, as aulas eram dadas gratuitamente, e os alunos contribuíam com valores simbólicos para ajudar a manter o dojo. “Foi um esforço colectivo para não perdermos o nosso espaço. Felizmente, em 2023, conseguimos consolidar um projecto marcial independente e, actualmente, representamos uma marca a nível nacional”, afirma Luís Coelho.
Modelo de ensino inovador com foco na formação
Um dos aspectos diferenciadores da ADMSC é o modelo de ensino, que adapta as classes às capacidades motoras e intelectuais dos alunos, ao invés de seguir uma separação rígida por idades. “Podemos ter um menino de 7 anos na classe iniciada e outro da mesma idade na classe juvenil, dependendo do nível técnico. Isto permite que a transição entre classes seja feita de forma tranquila”, explica o presidente.
O objectivo é garantir que, ao atingirem o escalão júnior, os atletas já possuam um nível técnico elevado, facilitando o trabalho nos seniores. As turmas são também pensadas para fomentar a integração e a continuidade. Os atletas juniores treinam uma vez por semana com os seniores, e os iniciados participam em treinos dos juvenis. Este contacto constante ajuda a criar um ambiente coeso.
Embora a associação mantenha uma abordagem tradicional às artes marciais, o foco principal está na formação técnica e mental dos atletas, mais do que na competição. No caso do ju-jitsu, não existem competições, já que a prática é encarada como uma terapia pelos alunos, que são mais maduros, ainda que existam alguns jovens. Os atletas querem desfrutar ao máximo da prática marcial. A competição, muitas vezes, tira esse foco e centra-se apenas em ganhar, como salienta Luís Coelho.
No kenpo, a associação está aberta à competição em formatos adaptados às regras das organizações, mas a prioridade continua a ser a formação. O instrutor explica que a ADMSC é um dojo tradicional em que a primazia está no desenvolvimento pessoal e não em exibir cintos ou egos. Segundo Luís Coelho, pretendem ainda formar treinadores qualificados, disponibilizando-lhes uma carteira profissional. O dirigente está em crer que esta situação irá abrir novas oportunidades profissionais para os atletas.
Praticar artes marciais sem a playstation
A prática de artes marciais traz benefícios significativos tanto a nível físico como mental. Luís Coelho destaca que muitos jovens enfrentam dificuldades motoras devido ao sedentarismo e ao uso excessivo de telemóveis. “Os nossos filhos e os atletas já não correm nem saltam a uma árvore, estão, por outro lado, mais destros com os dedos. Como lhes costumo dizer, se fazem aqueles truques todos de artes marciais numa playstation então vamos fazer aqui na realidade. Trabalhamos essas capacidades e ajudamos a transferir essas melhorias para a escola”, explica.
Além das aulas regulares, a ADMSC organiza seminários internacionais, formações em áreas marciais complementares e acções de solidariedade, como recolhas de alimentos e roupas para entregar em instituições locais. Já houve uma colaboração com o Lar Padre Tobias e a Cáritas, e em breve haverá com a ASASC, para quem a associação irá fazer uma recolha de vestuário. A colectividade também participa em iniciativas promovidas pela câmara e junta de freguesia, promovendo aulas gratuitas em espaços verdes ou na própria academia.
O instrutor de artes marciais na escola dos homens de negro
Luís Coelho, de 50 anos, instrutor de artes marciais, é natural de Coruche, mas vive em Samora Correia desde criança. Trabalha para o Ministério da Justiça e iniciou-se nas artes marciais aos 23 anos, com o kenpo, e teve como mentor Artur Pinto, de Benavente. Além disso, também se dedicou ao full contact, boxe e ju-jitsu, paixão descoberta em 2011.
Actualmente, é presidente da Associação Desportiva Marcial de Samora Correia (ADMSC), fundada em 2019, onde implementa um modelo pedagógico inclusivo, focado na formação técnica e pessoal dos atletas, promovendo a coesão e o impacto positivo na comunidade. “Ando há alguns anos nisto, ainda não aprendi nada, mas tenho em conta uma coisa que é: nunca posso fechar os olhos aos meus alunos, nem nunca posso ter medo que os meus alunos vejam as coisas boas dos outros instrutores”.