Cultura | 21-01-2025 21:00

“Cada vez se lê e fala pior em Portugal e o problema começa nas escolas”

“Cada vez se lê e fala pior em Portugal e o problema começa nas escolas”
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Vida e obra de Alice Vieira estão em exposição no Centro Cultural do Bom Sucesso até 9 de Fevereiro

A escritora e jornalista Alice Vieira esteve no Centro Cultural do Bom Sucesso, em Alverca, para inaugurar uma exposição sobre a sua vida e obra. A autora natural de Torres Novas não deixou passar a oportunidade para lamentar a forma como a língua portuguesa tem sido tratada.

Hoje em dia fala-se mal em Portugal porque se lê pouco e o problema começa nas escolas, que não estão a conseguir capacitar e motivar os alunos para largarem as plataformas digitais e começarem a ler em papel, considera Alice Vieira, escritora e jornalista que tem raízes em Torres Novas.
A autora esteve no Centro Cultural do Bom Sucesso, em Alverca do Ribatejo, no dia 8 de Janeiro, para inaugurar uma exposição alusiva à sua vida e obra, que tem entrada livre e está em exibição até 9 de Fevereiro. “Infelizmente lê-se muito pouco hoje em dia e o problema começa nas escolas. Já visitei escolas onde os professores falavam muito mal e isso acontece porque hoje em dia se lê muito pouco. Se a pessoa lesse um bocadinho mais, habituava-se a ver como as palavras se escrevem e como devem ser ditas”, afirmou a O MIRANTE à margem da abertura da exposição “Retratos Contados”, que tem curadoria de Nélson Mateus.
“As pessoas gostam sempre que alguém as homenageie e eu não sou diferente. Penso que a exposição está bem feita, foca-se nos pontos que são importantes e gostava muito, acima de tudo, que levasse as pessoas a ler. Porque a minha vida, essa, é um livro aberto e toda a gente a conhece”, refere Alice Vieira.
Cláudio Lotra, presidente da União de Freguesias de Alverca do Ribatejo e Sobralinho, destacou a importância de ter na sua comunidade uma exposição sobre uma figura como Alice Vieira, destacando a sua “juventude e ânimo” para continuar a escrever. Nos seus 45 anos de vida literária, Alice Vieira escreveu mais de 80 livros e detém uma forte projecção nacional e internacional, sendo detentora de vários prémios conquistados ao longo da sua carreira, incluindo em 2023 o Prémio Ibero-Americano SM de Literatura Infantil e Juvenil.

Jornais regionais dão o exemplo
Alice Vieira é uma crítica da situação actual da imprensa, que diz ser o reflexo de uma sociedade onde cada vez se lê menos e onde os jornalistas andam pouco na rua. “No meu tempo não me diziam sobre o que tinha de escrever. Eu chegava ao jornal e fazia o que me apetecia. Um dia, no Rossio, cruzei-me com um actor de uma novela brasileira, agarrei-o pelo braço e fiz-lhe uma entrevista que foi capa do jornal. Não precisei de pedir a ninguém para escrever sobre qualquer assunto”, recordou.
Alice Vieira diz não ter dúvidas que muitos jornais vão acabar nos próximos anos, fruto de mau jornalismo, deficientes modelos de negócio e, sobretudo, leitores. “Os jornais regionais são um exemplo para os jornais nacionais, por darem notícias de proximidade que interessam às pessoas. E, neste momento, os regionais até estão melhores do que os nacionais”, considera a autora.
Alice Vieira, compradora habitual de jornais em papel, admite também já ter aderido às assinaturas digitais. “Mas não é a mesma coisa, falta sentir o papel e poder riscar. E eu risco muito”, admite. Ainda assim, se fosse hoje, garante que continuaria a querer ser jornalista. “Não trocava esta profissão por outra qualquer. Eu invento pouco nos meus livros, escrevo sobre o que vejo e leio. Preciso mesmo de escrever, de contar o que vejo. Seja online ou em papel, o que é preciso é que as pessoas leiam, mas nota-se uma grande diferença, para pior, na qualidade do jornalismo que se pratica. E mais uma vez isso começa nas escolas”, lamenta.

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