Cultura | 05-02-2025 21:00

Alhandra refresca concurso literário para homenagear Henrique Lamas

Alhandra refresca concurso literário para homenagear Henrique Lamas
Prémio literário de Alhandra tem ganho dinâmica nas duas últimas edições e premiado obras de crianças e adultos

Figura da terra que causou incómodo ao antigo regime, quando defendeu que Camões não escreveu Os Lusíadas, Henrique Lamas morreu na miséria a vender cautelas em Alhandra. Junta de freguesia mantém homenagem a uma figura cultural que muitos dizem ser merecedora de maior atenção.

Henrique Lamas, detentor de uma rica cultura geral, poeta e alfarrabista, que morreu na miséria há 42 anos a vender cautelas nas ruas da vila de Alhandra, vai continuar a ser homenageado pela União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, dando nome ao prémio literário da freguesia, que este ano vai para a sua terceira edição. O prémio, explica o presidente da junta, Mário Cantiga, foi refrescado este ano para lhe dar nova dinâmica. Uma das principais mudanças foi deixar de contar com a imagem do rosto de Henrique Lamas nas imagens promocionais e antes de um logótipo visando modernizar a imagem do prémio.
Este ano, o prémio conta também com um cheque de 5 mil euros para entregar aos vencedores, divididos em três escalões: dos 8 aos 12 anos, dos 13 aos 18 anos e aos concorrentes adultos. Podem candidatar-se obras de poesia e conto até 31 de Março, através do site da junta de freguesia. A terceira edição do prémio literário foi lançado na Praça 7 de Março em Alhandra, contando com grupos de leitores da união de freguesias e com alunos da escola básica nº2, incluindo uma encenação teatral com leitura de poesia.
“Aspirávamos que o prémio fosse de âmbito nacional mas temos receio de dar um passo maior que a perna, porque implicaria a duplicação ou triplicação dos trabalhos a concurso com um júri que trabalha graciosamente”, refere a O MIRANTE Mário Cantiga. O objectivo do concurso, diz o autarca, é continuar a cultivar o interesse da comunidade pela leitura e reconhecer o papel dos autores locais. Começando pelas escolas até aos seniores. O júri é composto por voluntários e todos eles professores.

Um estudioso apaixonado por Camões
A vida e obra de Henrique Lamas é em grande parte uma incógnita depois do antigo regime de Salazar ter destruído e tentado apagar boa parte dos relatos da sua existência, depois de este questionar, em 1938 e posteriormente, em 1965, a veracidade de “Os Lusíadas” de Camões, considerando que não foram escritos por Camões, por relatar eventos posteriores à vida deste, facto que foi contra a doutrina nacionalista da época.
Sabe-se que Henrique Lamas nasceu em Alhandra em 1893 e fez a instrução primária. Foi poeta, alfarrabista, comentador de Camões - figura cuja escrita o apaixonara - e foi autodidacta, pedreiro na fábrica da Pólvora e na fábrica da antiga Sociedade Têxtil do Sul e na Carris, em Lisboa. Era um ávido frequentador de museus, bibliotecas e livrarias e foi sócio fundador da Sociedade de Língua Portuguesa e da Associação de Esperanto, uma língua que dominava.
Lançou pequenos livros de sua própria edição, como “Cantando e Rindo” e “Cantiga de um Rústico”, tendo também escrito “A rota das naus da Índia”, em 1935, e “O maior erro de todas as edições de Os Lusíadas”, de 1938. O museu de Alhandra ainda mantém algum do seu espólio. “Infelizmente morreu na pobreza, a vender cautelas, mas tinha uma riqueza intelectual fantástica como poucas pessoas. Temos algumas coisas no museu mas não há mais porque acredita-se que o regime apagou tudo o que podia apagar dele. O que sobrou é o que as gentes da terra foram escrevendo sobre ele”, lembra Mário Cantiga.

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