Cultura | 11-02-2025 18:00

Atouguia mantém viva a tradição do Leilão dos Cargos

Atouguia mantém viva a tradição do Leilão dos Cargos
Ana Rita Raimundo e Paulo Mendonça durante o Leilão dos Cargos, em Atouguia, concelho de Alenquer

Voltou a cumprir-se a tradição secular do Leilão dos Cargos, em Atouguia, nas Festas em Honra de São Sebastião. Após a missa, os cargos enfeitados com murta, laranjas e bolo de açafate foram leiloados ao som de música. A tradição, cuja origem se perde no tempo, é passada de geração em geração pelas famílias da terra. O Atouguia Futebol Clube está em conversações com a Câmara de Alenquer para classificar este costume.

O lugar de Atouguia, no concelho de Alenquer, voltou a receber o secular Leilão dos Cargos. Manda a tradição que os cargos - armações resistentes feitas com ripas de madeira de pinho, revestidas com murta e enfeitadas com laranjas e bolo de açafate - sejam leiloados após a missa na Capela de São Sebastião. Desde 1961 que o Atouguia Futebol Clube tem a responsabilidade de organizar as festas em honra do mártir São Sebastião e o Leilão dos Cargos. Antigamente, realizava-se no dia do santo, a 20 de Janeiro. Com o estilo de vida actual as festas em honra do mártir realizam-se na sexta-feira, sábado e domingo seguintes ao dia 20.
A tradição está muito enraizada em Atouguia e no dia 26 de Janeiro os cargos expostos à porta da capela foram transportados até à sede da colectividade ao som da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Alenquer. A chuva ditou que o percurso fosse encurtado, mas a tradição cumpriu-se e os cargos foram leiloados durante a tarde, ao som de música e baile.
A presidente da colectividade, Ana Rita Raimundo, explica a O MIRANTE que não se sabe bem a origem do leilão, mas acredita-se que esteja relacionado com as festas do Divino Espírito Santo e a tradição da Festa dos Tabuleiros, em Tomar, pela parecença com os cargos. “A minha avó já contava que a sua avó não sabia a origem do leilão, mas acreditava ter origem numa promessa. As pessoas têm muita fé no mártir e fazem promessas por esta altura como, por exemplo, ficarem com o bolo de açafate”, conta.
O clube está em conversações com a Câmara de Alenquer para dar início ao processo de estudo aprofundado e classificação da tradição. Uma forma de a manter viva. Ana Rita Raimundo acredita que o hábito não irá perder-se porque as famílias têm vindo a passar a história de geração em geração. “Eu vou passar aos meus filhos como as famílias de Atouguia tem passado aos seus. As pessoas da terra vêm sempre ao Leilão dos Cargos, mas desde há três anos que temos curiosos e forasteiros”, relata.

Famílias de Atouguia asseguram a tradição
Antigamente o leilão contava com cinco cargos, mas agora são três, com tamanhos distintos, por isso variam no preço de remate. O leilão é feito há 31 anos por Paulo Mendonça, que está emigrado em Londres há 21 anos, mas que vem a Portugal de propósito para participar na tradição. A família passou-lhe o gosto pela festa e quando ficou com a responsabilidade do primeiro cargo ainda era menor de idade e o irmão assinou por ele. “Lembro-me da azáfama do meu pai no domingo da festa a enfeitar o cargo e a levá-lo para o largo da igreja e depois fazer o leilão na colectividade. Chegaram a juntar-se três cargos na nossa família. Eu já passei o gosto ao meu filho”, explica.
São três famílias que ficam com o encargo de melhorar os cargos no ano seguinte. Ou seja, a pessoa que os compra tem de desmontá-lo e oferecer ao mártir São Sebastião um ano depois, e mandar fazer os bolos de açafate para melhorar o cargo. Após o leilão é elaborada uma acta onde consta o valor do remate do cargo e o nome de quem ficou com ele. As actas mais antigas que existem são dos anos 70.
Idalina Arsénio e Anabela Raimundo são as duas responsáveis por confeccionar na padaria os bolos de açafate. A receita leva farinha, canela, limão, manteiga e açúcar, mas o segredo principal não se pode revelar. Os bolos são cozidos em forno a lenha e duram um ano se bem acondicionados em sacos de pano. À medida que o tempo passa os bolos, em forma de ferradura, ficam mais saborosos. Os bolos são vendidos apenas na altura das Festas em Honra do Mártir São Sebastião e pelo Carnaval. Fora estas datas só se forem encomendados na padaria de Atouguia.

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