Cultura | 12-02-2025 15:00

Zé Morto e a Gala do Circo: uma paixão que faz história em Samora Correia

Zé Morto e a Gala do Circo: uma paixão que faz história em Samora Correia
José Ribeiro é o mentor da Gala do Circo de Samora Correia

A Gala do Circo de Samora Correia nasceu de uma exposição sobre a vida circense, mas rapidamente evoluiu para um espectáculo único, que celebra e homenageia artistas. Criada pelo entusiasta José Ribeiro, conhecido como Zé Morto, a iniciativa é hoje um evento de referência que reúne talento e paixão no universo do circo.

O circo tem em Samora Correia um dos seus maiores palcos de homenagem e celebração em Portugal. A Gala do Circo, idealizada por José Ribeiro, conhecido no meio como Zé Morto, surgiu a partir de uma exposição sobre a vida circense e transformou-se num evento que destaca artistas, preserva memórias e promove novas gerações.
“Tudo começou com uma exposição que uma senhora queria fazer em Loulé. Propus que fosse realizada mais perto de Lisboa, em Samora Correia, e o então presidente da junta de freguesia, Hélio Justino, juntamente com a câmara municipal, apoiou a ideia”, conta Zé Morto, sentado numa das bancadas do circo à conversa com O MIRANTE, momentos antes da 6.ª Gala do Circo de Samora Correia.
Na génese do evento, o actual presidente da Câmara de Benavente, Carlos Coutinho, que na altura era vice-presidente, sugeriu complementar a mostra com alguns números de circo para que a exposição não fosse realizada “a cru”. O sucesso deste formato levou ao convite para criar uma gala de circo com maior regularidade.
Desde então, a gala tornou-se um ponto de encontro de artistas, familiares e apreciadores do circo, com um carácter único no mundo. “Em nenhum outro lado se fazem homenagens públicas a artistas circenses ainda vivos”, especifica o mentor do evento, que já questionou a Federação Mundial do Circo, que mantém ligação ao Circo de Monte Carlo, sobre iniciativas semelhantes sem encontrar precedentes. “Somos os pioneiros e espero que sejamos também uma influência para outros casos e noutros países”, vaticina.
A gala, que teve a sua primeira edição a 3 de Maio de 2013, conta com um Prémio Revelação para incentivar jovens artistas entre os 13 e os 19 anos, além de homenagens a figuras que marcaram a história do circo. “O circo foi muito esquecido em Portugal e, por isso, estas homenagens são um reconhecimento daquelas pessoas mais antigas, já retiradas”, vincou José Ribeiro.
O concelho de Benavente tem uma forte tradição circense, com artistas de renome ligados à região, incluindo uma senhora da família Cardinali que foi casada com um regedor de Benavente, estando sepultada no cemitério da vila. Com grande ligação à terra há outro artista que vive há mais de 50 anos no Porto Alto. Outros há que estão presentemente no activo e que se encontram no estrangeiro, mas têm casa na zona.
Com um orçamento entre sete e oito mil euros, financiado pelo município, a gala deste ano decorreu dentro de limites orçamentais apertados, mas sem perder brilho. “A gala anterior foi um pouco mais dispendiosa, mas este ano conseguimos com as verbas que mencionei. Mesmo sendo apertadinho, vamos conseguindo fazer”, refere Zé Morto. A edição deste ano teve, no entanto, uma ausência de peso: Ângelo Munhoz, o palhaço mais premiado de Monte Carlo, embaixador e a cara da gala, que, aos 94 anos, não pôde viajar da Alemanha, onde reside, devido à idade avançada. “Foi uma das minhas grandes mágoas este ano”, confessa Zé Morto.

Cresceu rodeado de feirantes e artistas do circo
A ligação de José Ribeiro ao circo vem de infância. O pai tinha uma barbearia. Natural da Cruz de Pau (Amora), no Seixal, cresceu rodeado de feirantes e artistas do circo que abasteciam água numa torneira, que mais parecia um chafariz, nas traseiras da casa térrea onde vivia. Naquele circuito estavam os irmãos de Victor Hugo Cardinali, primos e um conjunto de artistas com idades próximas à de Zé Morto. Partilhavam brinquedos e brincavam juntos, numa época, na década de 60, em que “havia um deslumbramento pelo circo”. O fascínio em torno do circo levou-o a trabalhar, em 1985, no famoso circo alemão Roncalli, que se tornou a sua principal inspiração. “Foi um acaso da vida, por ironia do destino e com algumas histórias pelo meio que não tinha tempo para explicar”, recorda.
Aos 68 anos, casado e pai de quatro filhos, Zé Morto intitula-se uma criança em ponto grande e mantém a energia de quem não pode ouvir sequer falar em reforma. “O que me dá prazer é organizar esta gala. O circo tem o poder de unir, mesmo com as suas rivalidades internas. Já houve familiares que aqui fizeram as pazes depois de anos sem se falarem”, diz.
José Ribeiro vive em Samora Correia há cerca de 30 anos. Teve várias profissões. Nascido numa família de músicos teve queda e mestria para a bateria. Explica ter sido educado por um homem que tinha uma visão da vida “um bocadinho à frente da época” e que entendeu que o filho deveria manter-se ocupado. Avesso ao estudo não lhe restou alternativa senão ir trabalhar. Foi também serralheiro. Hoje brinca com uma horta num pedaço de terreno onde vive, mas em regra o que planta morre. A ‘sua’ gala do circo é mesmo o seu enorme prazer.

Acrobacias marcaram evento

Centenas assistiram à 6.ª Gala do Circo

A sexta edição da Gala do Circo de Samora Correia decorreu na noite de quinta-feira, 30 de Janeiro, numa tenda montada junto ao Parque Ruy Luís Gomes. O evento, idealizado por José Ribeiro, conhecido como “Zé Morto”, e promovido pela Câmara Municipal de Benavente, evocou a ligação histórica da cidade ao circo, num espectáculo que contou com malabarismo, acrobacias, palhaços, música ao vivo e momentos de emoção com várias homenagens.
A gala distinguiu Maria Isabel (“Bélita”), Ana Bessa Ferreira e Policarpo Santos (Kinito Jr.) pelo seu contributo para o mundo do circo. Foram ainda entregues o Prémio de Excelência a Michele Chen e o Prémio Revelação a Kyara Silva.

Momento de homenagem a Ana Bessa Ferreira durante a 6.ª Gala do Circo de Samora Correia

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