Guerra Colonial debatida numa “Roda de Conversa” na aldeia do Boquilobo
Para o jornalista e investigador Carlos Lopes Pereira os movimentos de libertação foram empurrados para luta armada pela ditadura salazarista. Testemunhos de ex-combatentes foram partilhados na “Roda de Conversa”, uma iniciativa promovida pelo Centro Humberto Delgado que se realizou na aldeia do Boquilobo, em Torres Novas.
O jornalista e investigador Carlos Lopes Pereira, nascido em Bissau, defendeu em Torres Novas que os movimentos de libertação foram empurrados para a luta armada pela ditadura salazarista, que recusou a proposta de uma negociação pacífica. Numa sessão da “Roda de Conversa”, promovida pelo CHUDE – Centro Humberto Delgado, na aldeia do Boquilobo, sobre “A Guerra Colonial e as lutas de libertação nacional nas ex-colónias portuguesas em África”, Carlos Lopes Pereira e o médico ex-combatente José Vaz Teixeira, foram os “espivatadores” de um debate marcado pelo testemunho emocionado de ex-soldados portugueses marcados pela violência do que foram “obrigados a fazer”.
“Não há dúvida que a responsabilidade política das guerras foi da ditadura fascista”, pois “recusou-se negociar a independência com os movimentos de libertação de forma pacífica”, declarou o também responsável pela publicação “Textos da luta / Amílcar Cabral”, lembrando que o “pai” da independência da Guiné-Bissau escreveu, em 1960, uma carta ao Governo português, na qual pedia que os portugueses fossem poupados a uma guerra que Portugal inevitavelmente iria perder, a qual ficou sem resposta.
Carlos Lopes Pereira recordou que “a ditadura não quis falar”, pelo que lhe cabe “a responsabilidade da guerra colonial de 13 anos”. Na sua intervenção, o ex-militante do Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC) e actual director de informação da Rádio Voz da Planície, em Beja, alertou para a “deturpação da História”, pedindo o reforço da “vigilância contra a falsificação” e a que se mantenha “viva a verdade histórica”. “Ao fim de 50 anos da independência das antigas colónias [é natural] que a História seja feita e refeita […], mas é necessário ter grande cuidado para combater a manipulação, a falsificação que também acontece, não de maneira ingénua, não por acaso, mas que está associada a determinadas forças políticas que foram sempre contra a independência das colónias e que ainda hoje continuam com um discurso colonialista em relação ao que se passou”, declarou.