Cultura | 21-02-2025 12:38

Quinta no Sardoal onde se refugiou Bocage pode receber classificação nacional

Quinta no Sardoal onde se refugiou Bocage pode receber classificação nacional

Manuel Maria du Bocage refugiou-se na Quinta do Vale da Lousa, que pertenceu a Manoel Constâncio, cirurgião da Casa Real que dá nome ao Hospital de Abrantes. Quinta pode receber classificação de âmbito nacional.

O Instituto Património Cultural abriu um procedimento para a classificação de âmbito nacional da Quinta do Vale da Lousa, em Sardoal, propriedade que pertenceu a Manoel Constâncio, cirurgião da Casa Real, segundo publicado em Diário da República (DR). O presidente da Câmara Municipal de Sardoal disse à Lusa que a Quinta do Vale da Lousa, situada junto à Estrada Municipal 532, “é uma quinta lindíssima, um espaço lindíssimo, com alguma história”, que pertenceu a Manoel Constâncio, nomeado em 1786 como cirurgião da Casa Real, tendo sido médico de três reis: D. José, D. Maria I e D. João VI, espaço que, inclusive, “terá servido de refúgio a Manuel Maria Bocage”, na fuga ao intendente Pina Manique.
“A quinta, chamada também de Manoel Constâncio, que foi um grande cirurgião, aliás, o Hospital de Abrantes tem o nome de Hospital Dr. Manoel Constâncio, que viveu lá na segunda metade do século XVIII, e é uma quinta que tem uma história, não só a do Dr. Manoel Constâncio, que fez ali os seus investimentos, mas também consta que Bocage por aqui passou”, declarou Miguel Borges. Segundo o autarca, “Bocage, em 1797, que teria na altura 30 e poucos anos, fugindo do intendente Pina Manique, sendo amigo dos filhos do Dr. Manoel Constâncio, refugiou-se nesta quinta”, que é privada, notou. “É uma quinta privada e há interesse da parte dos proprietários nesta classificação e faz todo o sentido, porque com a classificação do património de interesse nacional é dado também um conjunto de obrigações para a sua preservação e manutenção, não só daquilo que é a história que encerra em volta dela, mas também de todo o património arquitectónico e artístico que pode estar nesta quinta, e que tem algum”, salientou.
Manuel Maria du Bocage ficou conhecido por ser um grande poeta, mas também por ser um inadaptado aos convencionalismos do século XVIII. Autor de poemas satíricos, eróticos e burlescos, foi acusado de “herético perigoso e dissoluto de costumes” e preso pela Inquisição. A Quinta do Valle da Louza, designação original, serviu-lhe de refúgio na fuga ao intendente Pina Manique. A propriedade pertencia ao Dr. Manoel Constâncio, cirurgião da Casa Real, que dá nome ao hospital de Abrantes – e pai de Margarida, que seria a sua musa inspiradora. Manoel Constâncio terá recebido por temporadas na sua quinta o poeta Manuel Maria du Bocage, grande amigo dos seus três filhos, e a sua filha, Maria Margarida Rita Constâncio, será a “Marília” e “Ritália” dos poemas de amor que escreveu, e que alguns estudiosos dizem ter sido a grande paixão de Bocage.
Cirurgião do reino, Manoel Constâncio estava a par das correntes artísticas da época e transpôs para o Valle da Louza canais de irrigação e métodos de conservação da água utilizados nos jardins do palácio de Queluz, sendo a quinta rodeada de largos hectares de bosques e floresta. A construção da Quinta terá começado em 1760, com a edificação da casa primitiva, a capela, o celeiro, alguns jardins, tanques, fontes, minas, caleiras, caminhos, terraços agrícolas a serem construídos até perto do ano 1800.

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