Cultura | 18-03-2025 18:00

Fábio Galhanas transforma memórias de infância no Carregado em livro divertido

Fábio Galhanas transforma memórias de infância no Carregado em livro divertido
Fábio Galhanas junto ao prédio do bairro onde cresceu, no Carregado

Fábio Galhanas revisita a infância no Carregado no livro Dallas – O Meu Bairro. A obra retrata, com humor e nostalgia, as vivências num bairro que marcou gerações. Inspirado no videoclube Dallas, o nome tornou-se sinónimo da zona urbana do Carregado. Agora, aos 34 anos, o autor homenageia esse passado através da escrita.

As memórias da infância passada no Carregado foram o mote para Fábio Galhanas escrever um livro, já depois dos 30 anos. Dallas – O Meu Bairro é o título da obra que retrata personagens da vida real, incluindo os seus nomes. Nascido em 1990, Galhanas, como assina, morou na Praceta João Álvaro Fagundes. Na altura, o Carregado urbano era conhecido por “Dallas”, um nome que terá surgido devido ao videoclube do senhor Morais, que funcionava noutra praceta. Os mais novos diziam que eram do bairro de Dallas porque dava mais pinta.
A primeira vez que foi para a rua tinha seis anos. Do sexto andar do prédio onde vivia, viu outras crianças a jogar à bola. Foi convidado pelo vizinho do 3.º direito e, desde esse dia, nunca mais foi igual. Até ser adulto, conviveu sempre com os amigos na rua. Jogavam futebol contra crianças de outros bairros, andavam de bicicleta ou brincavam às escondidas. Mesmo quando os pais lhe compraram uma consola, nunca trocou as brincadeiras ao ar livre.
“O que se passava neste bairro é replicado noutros. Mas, por exemplo, o tipo de vivências no bairro da Guizanderia e no Casal do Sarra, também no Carregado, era diferente”, conta. No livro, Galhanas espelha os episódios que viveu de forma positiva; mesmo os menos agradáveis são retratados com humor e a devida distância. A sua família é alentejana e cresceu no meio de pessoas engraçadas, que sempre souberam rir de si próprias.

Mudança para Alenquer foi difícil
No 9.º ano esforçou-se pouco e chumbou quase de propósito para poder ficar mais um ano na mesma escola com os amigos mais chegados e a namorada da altura. Quando fez 17 anos, os pais mudaram-se do Carregado para Alenquer. Foi difícil adaptar-se à mudança e, por isso, começou logo a tirar a carta de condução para poder regressar ao antigo bairro sempre que possível. Não se adaptou à nova escola, começou a faltar e acabou por desistir dos estudos. Começou a trabalhar em fábricas, armazéns e indústrias no Carregado, e só terminou o ensino secundário aos 27 anos.
Na capa do livro, o bairro onde cresceu é visto de cima, como se fosse um círculo fechado. As mães das crianças chamavam os filhos pela janela para jantar ou para dar ralhetes. Diz que vivia num círculo acolhedor. Hoje vê o bairro de outra forma. “Quando vou ao bairro, sinto-o muito cheio e degradado. Mas já voltei a entrar no meu antigo prédio e sinto conforto, tristeza e saudosismo. As pessoas mais velhas, na altura, eram uma referência. Passamos a vida a idolatrar desconhecidos nas redes sociais e raramente o fazemos com quem realmente fez algo por nós. Essas pessoas, às vezes, nem sequer sabem que influenciaram a minha vida de forma positiva”, reflecte.

Livro começou com um blog
Dallas – O Meu Bairro começou a ser escrito há menos de um ano. Galhanas era vigilante numa herdade em Santo Estêvão, concelho de Benavente, e passava muito tempo sozinho. Já escrevia poemas sobre a sociedade e os sentimentos, mas começou a perceber que também conseguia escrever noutros estilos.
Participou com um conto numa actividade da FNAC e, pouco tempo depois, já estava a escrever a primeira frase do seu livro no bloco de notas do telemóvel. Como tem uma excelente memória, a escrita foi-se desenrolando de forma cronológica. Ainda antes de enviar o livro para editoras, desenvolveu a história num blog pessoal, onde o retorno dos leitores foi positivo.
“Depois do blog, ficaram surpreendidos porque pensavam que, como desisti da escola, não era capaz de desenvolver nada. No lugar deles, pensava o mesmo. Eu próprio me surpreendi a mim mesmo, mas ajudou o facto de ter escrito de memória e coração. É um livro que tem muito sentimento”, sublinha. O autor contactou todas as pessoas retratadas no livro, algumas através da internet, mesmo aquelas com quem não falava há 20 anos. Nem todas responderam.

Fazer humor com pessoas é homenageá-las

Fábio Galhanas cresceu a ver sitcoms e talk-shows com o irmão mais velho. Sempre gostou de humor e, por isso, as suas histórias são escritas de forma leve e divertida. “Para mim, o limite do humor é ter piada. Mas algo pode ter graça para uma pessoa e não ter para outra. Também me debati com isso no livro. Para mim, fazer uma piada sobre alguém é uma homenagem”, afirma. Aos 34 anos, está a ter formação com o humorista Ricardo Araújo Pereira e já escreve o seu segundo livro, que, tal como o primeiro, tem um fio condutor claro: provocar sorrisos.

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