Mais de 1600 litros de sopas ribatejanas no festival de Vale de Cavalos

Mais de 5 mil pessoas passaram pelo Festival das Sopas Ribatejanas, em Vale de Cavalos. O MIRANTE acompanhou o último dia de festival para falar com algumas cozinheiras e associações.
A terceira edição do Festival das Sopas Ribatejanas decorreu no último fim-de-semana de Março em Vale de Cavalos, concelho da Chamusca, com mais de 5 mil visitantes e mais de 1600 litros de sopa consumidos, mais 100 litros do que na edição anterior, esgotando as 15 sopas no sábado. Uma das novidades foi a possibilidade de o público votar na sua sopa favorita, tendo vencido a sopa rica da Universidade Sénior de Vale de Cavalos. Por outro lado, a Confraria da Gastronomia do Ribatejo deu a vitória à sopa de feijão verde à moda do campo da freguesia de Vale de Cavalos, seguindo-se a sopa de touro bravo do chefe Luís Dias, do Restaurante Dias Mistos, e a sopa de coentros da Associação SLB Goal Team.
A aluna de primeiro ano na universidade sénior, Isabel Godinho, 67 anos, foi a autora da sopa rica e responsável por cozinhar. Segundo descreve, a sopa leva carne de porco, ossos, chouriço e negra. Este ano, a universidade sénior ficou pela primeira vez responsável pelo restaurante, cozinhando petiscos como a carne de alguidar, moelinhas, jaquinzinhos, ovos com farinheira, bifanas e pastéis de bacalhau. Isabel Godinho manteve-se na cozinha os três dias das oito da manhã à meia-noite e nem os pés inchados a impediram de continuar entre tachos e panelas. “Toma-se um comprimido de manhã, outro ao almoço…”, explica contente pelo quarto lugar atribuído pela Confraria e por ter sido a escolha do público. Isabel Godinho trabalhou num café em Vale de Cavalos e aos 40 anos tirou um curso de cozinha durante 15 meses, ficando colocada como cozinheira na Escola EB 2,3/S de José Relvas, em Alpiarça, até se reformar.
Manuela Rosa, 69 anos, confeccionou a sopa de feijão verde à moda do campo. A receita leva alho, cebola, batata e tomate triturados, depois coloca o feijão verde, a massa e o bacalhau. “É uma sopa à moda do campo, os netos adoram”, diz. E não só os netos, porque o convite para representar a junta de freguesia surgiu da presidente Joana Gonçalves, que costuma comê-la em sua casa aos sábados, quando junta sete e oito pessoas à mesa. Manuela Rosa aprendeu costura, casou com 18 anos e passado um ano ficou com o mini-mercado onde o marido trabalhava e onde vendiam um pouco de tudo. No fim de 2020 passaram o negócio a outra pessoa e juntou-se à universidade sénior.
E se prémios de boa disposição houvesse, ganharia a funcionária da instituição Aconchego, Susana Pardal. O centro de apoio social localizado em Vale de Cavalos apoia entre 60 a 70 pessoas nas valências de centro de dia, apoio domiciliário e centro de convívio. Participou este ano com a sopa de feijoca elaborada pela cozinheira da instituição Esmeralda Pais, da Chamusca, num total de mais de 100 litros de sopa. Uma das principais dificuldades da instituição tem sido a de atrair pessoas para trabalhar. A pessoa mais jovem ronda os 40 anos e Susana Pardal admite que é um trabalho difícil e mal remunerado.
Ao lado estava a sopa de couve e feijão da Associação para a Defesa do Património Etnográfico e Cultural de Vale de Cavalos, servida por Fátima Leandro, 70 anos, e confeccionada por si e pela secretária Ida Raimundo. No ano passado, o rancho participou com a sopa de entulho e no anterior com a sopa de tripa. Fátima Leandro trabalhou desde os 12 anos no campo e reformou-se devido a um cancro nos rins. Pertence ao rancho há 10 anos e a verba que será distribuída servirá para alguma deslocação do grupo.
Catorze a servir sopa
Estiveram envolvidas no festival cinco associações, três restaurantes, quatro freguesias e duas empresas. Houve espectáculos, showcookings, workshops e exposições. Outras novidades foram o concurso para a entrada de uma sopa do público no festival e actividades intergeracionais em que as crianças aprenderam a plantar e o que se planta em cada época do ano.