Filhas de presos políticos recordam impactos da repressão da ditadura salazarista nas famílias

Impactos da ditadura nas famílias dos opositores do Estado Novo foi o tema central de um evento realizado na Junta de Freguesia de Benavente, que contou com testemunhos de filhas de presos políticos. Documentário pretende consciencializar sobre uma realidade muitas vezes desconhecida.
O auditório da Junta de Freguesia de Benavente recebeu a exibição do documentário “Aqueles que Ficaram (Em toda a parte todo o mundo tem)”, seguida de uma conversa com filhos de presos políticos. O evento contou com a presença da realizadora Marianela Valverde, ela própria filha de um preso político, e o testemunho de Herculana Velez, também filha de presos políticos.
O documentário aborda o impacto profundo e duradouro que a prisão de opositores ao regime ditatorial teve nas suas famílias, com especial enfoque nas experiências dos filhos. Muitos dos presos políticos estavam detidos em prisões como o Forte de Caxias e a Fortaleza de Peniche, enquanto os seus filhos eram enviados para escolas especiais onde, segundo testemunhos, eram alvo de intensa politização e discriminação por parte dos responsáveis.
O filme dá voz a memórias por vezes dolorosas, mas fundamentais para compreender as marcas que a repressão política deixou nas gerações seguintes. A obra é resultado da tese de doutoramento de Marianela Valverde e inclui 28 entrevistas a filhos de presos políticos, embora a realizadora tenha conversado com mais de uma centena de pessoas durante o processo de investigação e realização. Todos estes testemunhos e a sua análise estão disponíveis em formato de livro.
No final da exibição da obra, a realizadora esteve disponível para responder a perguntas dos presentes e fez ainda um discurso em que apelou a que estas histórias não caiam no esquecimento, dada a sua importância naquela que foi a luta pela democracia e liberdade. A convidada, Herculana Velez, complementou o testemunho com uma mensagem dirigida especialmente às gerações mais jovens, para que saibam tratar de preservar a democracia, de modo que episódios como os que a sua família passou não se repitam.
O documentário tem estreia marcada na RTP 2 no dia 24 de Abril, às 22h55, como parte da programação dedicada à celebração do 25 de Abril, oferecendo ao grande público a oportunidade de conhecer estas histórias muitas vezes esquecidas da resistência e das consequências do autoritarismo em Portugal.