Festival Internacional de Cinema põe Santarém no mapa da sétima arte

O Cineclube de Santarém prepara-se para organizar a 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Santarém em Maio, a terceira desde que o evento foi recuperado, em 2023. O MIRANTE conversou com Rita Correia e Francisco Noras sobre a história do festival e o impacto do cineclube na cidade de Santarém.
Entre 2007 e 2008 um grupo de cinéfilos escalabitanos juntou esforços e formou a comissão instaladora do Cineclube de Santarém, que seria responsável por recuperar essa associação que funcionou de 1955 até meados dos anos 80. Após algumas sessões no Fórum Mário Viegas para promover a reativação do Cineclube aconteceu a primeira sessão no Teatro Sá da Bandeira no dia 18 de Março de 2009, com o filme “Le Graine et le Mulet”. Os apoios da Câmara de Santarém, do Instituto do Cinema e do Audiovisual e do Fórum Mário Viegas têm sido essenciais ao longo dos anos para que o Cineclube de Santarém funcione sem condicionalismos na escolha da programação e na oferta de bilhetes acessíveis para o público. Quem o conta é Rita Correia, 46 anos, directora do Cineclube de Santarém.
Francisco Noras, 33 anos, realizador e membro da direcção do Cineclube de Santarém, considera que se vive uma época de esperança no cinema português, graças aos esforços colectivos dos cineclubes, produtoras e distribuidoras. “O que nos está a faltar é em termos de consolidação do público não cinéfilo”, afirma, vincando que a indústria do streaming tem condicionado a forma de consumo não só do cinema como de toda a ficção visual”, afirma.
O jovem cineasta escalabitano considera que existirem muitas plataformas não é um problema e que o cinema existe para proporcionar uma experiência diferente ao espectador. O Cineclube de Santarém, explica, procura diferenciar-se do cinema comercial através de uma programação mais individualizada e especializada e proporcionando momentos de conversa com realizadores e actores depois da exibição dos filmes. O clube organiza meses temáticos, como são exemplo o mês de Janeiro dedicado à produção nacional, Março é o mês de realizadoras femininas e da temática feminista, em Abril passam filmes ligados à Revolução dos Cravos e à ditadura e em Junho são privilegiados filmes relacionados com a infância e a juventude. Durante o ano a prioridade é passar filmes em estreia e que não têm espaço noutros circuitos de programação. “O serviço público da programação do cineclube é trazer olhares distintos e complementares a uma visão mais massificada do que é o cinema”, garante Francisco Noras.
A segunda vida do festival
A 18.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Santarém vai acontecer de 21 a 26 de Maio e terá como tema central os 50 anos da Reforma Agrária em Portugal. O evento nasceu em 1971 e até 1989 trouxe a Santarém filmes de todo o mundo, tornando-se um marco do mundo cinematográfico português. Depois de 34 anos de interregno o festival voltou em 2023, pelas mãos de Rita Correia e Francisco Noras, os directores. Ao recuperar as matrizes do festival fundador, recuperaram também a temática agrícola, rural e ambiental, que tem uma origem peculiar.
A história foi partilhada na 16.ª edição por João Castelo, filho de Manuel Castelo, um dos fundadores do festival, que perguntou ao pai a razão da escolha daquele tema em 1971, tendo em conta que ninguém no cineclube entendia de agricultura, ao que o pai replicou “não entendemos nós, nem entende a PIDE”, reconta Rita Correia. Mas essa será a versão reduzida da história, ressalva Francisco Noras, sublinhando a riqueza agrícola da região ribatejana, algo que diz muito sobre Santarém. “A temática ambiental é imperiosa nos dias que correm. É urgente utilizar todas as plataformas para falarmos da nossa relação com o mundo, que está a transformar não só o mundo, mas a nós próprios”, acrescenta.
Na 16.ª edição, a do regresso, o festival contou com mil espectadores e foram projectados 36 filmes de 19 países. Em 2024, na 17.ª edição, o número de espectadores chegou perto dos dois mil. “É um evento que mexe com a economia da cidade e uma mais-valia, um símbolo de Santarém”, assegura Francisco Noras. Para 2025 o mote é a continuação da aposta num projecto educativo, um dos pilares da programação, através da realização de iniciativas em várias escolas nos concelhos de Santarém, Almeirim, Alpiarça e Rio Maior. “Acreditamos que é aí que conseguimos gradualmente fazer a chamada criação de público”, contextualiza Francisco Noras. A crescente visibilidade levou o festival a receber um convite para marcar presença no Festival de Cinema de Berlim e no European Film Market.