Associação de Benavente une gerações e preserva tradições através da inclusão

Associação Recreativa Nossa Senhora da Graça promove as tradições locais aliadas à inclusão social. Fundada há pouco mais de dois anos, a colectividade tem vindo a consolidar-se como uma referência cultural e comunitária na região, mas quer mais apoios do município.
Em Benavente, entre memórias históricas e novos desafios sociais, ergueu-se uma associação que preserva tradições, integra pessoas e transforma vidas. A Associação Recreativa Nossa Senhora da Graça afirma-se como um dos pilares culturais e sociais da região, com uma actividade tão intensa quanto diversa. “Somos mais do que uma associação, somos uma família”, afirma José Santos, presidente da colectividade. Fundada há apenas dois anos, a associação já conta com mais de 70 pessoas envolvidas e um vasto leque de iniciativas, que vão do teatro ao folclore, passando pelas marchas populares, grupo de cantares e outros eventos interculturais. O nome da associação carrega a memória da antiga padroeira da vila.
A grande força da associação é o rancho folclórico, que une crianças de quatro anos a seniores com mais de 70. É o caso de Maria do Carmo, que cresceu em França, mas sempre teve o interesse de se juntar a um rancho, um sonho que concretizou quando veio para Portugal. Considera que a actividade a tornou menos tímida e mais envolvida com a comunidade, não se sentindo isolada socialmente. Sofia Coutinho, outra das mulheres mais experientes no rancho, considera que o ambiente do grupo é diferente de outros em que já participou e salienta o espírito familiar que sente na tomada de decisões.
Apesar de contar com mais de 40 membros, um dos desafios que o rancho enfrenta é a atracção de mais jovens para a actividade. Bruno Rocha, de 22 anos, é natural da Moita e foi por lá que deu os primeiros passos no rancho. A vida levou-o para Benavente e, sendo adepto das tradições ribatejanas, não perdeu tempo em juntar-se ao grupo. “Acolheram-me de uma maneira que não estava à espera”, confessa, lamentando a falta de mais jovens. A colectividade conta com algumas crianças que têm o “bichinho” pela dança. “O Rodrigo sempre teve gosto pela dança e pela cultura local”, afirma João Gil, um dos associados que, juntamente com a restante família, se juntou ao rancho por influência do filho. “É uma escapatória ao stress da semana”. Maria João Silva, que também começou por acompanhar o filho, valoriza o espírito de entreajuda, união e amizade entre as crianças do grupo, algo que considera “não ser comum” noutros ranchos.
Um dos destaques do calendário anual da associação são as marchas populares. “Como o município não organiza marchas, tornaram-se o nosso maior investimento”, explica o presidente, admitindo que são convidados vários grupos de fora. Entre os convidados, há sempre presença de marchas lisboetas, mas o presidente acredita que a tradição na capital também deveria atrair mais grupos de fora. “Um dia, quem sabe, estaremos nós a desfilar na Avenida da Liberdade”.
Mais reconhecimento ao município
Mais do que promover a cultura, a Associação Nossa Senhora da Graça é um espaço de acolhimento e integração social. “Temos crianças com défice de atenção, jovens com hiperactividade, pessoas que estavam isoladas e hoje são das mais activas”, explica o presidente. O rancho é inclusivo, com pessoas que outrora mal falavam em público e hoje brilham nos palcos e sentem-se envolvidos nas diversas actividades que a associação promove. Quanto ao apoio da câmara municipal, José Santos reconhece o esforço, mas pede mais reconhecimento, especialmente para o rancho folclórico da entidade.
Recorde-se que na reunião de câmara de 7 de Abril, duas dezenas de membros da associação marcaram presença para exigir um maior apoio para o rancho folclórico da entidade. O posicionamento do executivo liderado por Carlos Coutinho justificou-se com a existência de vários ranchos no concelho, não existindo recursos disponíveis para apoiar novas entidades com a mesma actividade. O presidente da associação relembra a diversidade do projecto. “Temos uma associação com actividades diversas, não apenas um rancho. Não estamos em competição com ninguém. Estamos a fazer o nosso trabalho, com inclusão, com dedicação e com resultados”.