Cultura | 30-04-2025 21:00

Semana Santa transforma o Sardoal num lugar de fé, cor e tradição

Semana Santa transforma o Sardoal num lugar de fé, cor e tradição
Comitiva que trabalhou tapetes florais na capela de Santa Ana

Catorze capelas e igrejas do concelho voltaram a ser decoradas com pétalas e verduras, numa tradição centenária que une gerações e enche de vida a vila do Sardoal durante a Páscoa. As celebrações têm reflexo positivo na economia local, dada a afluência crescente de visitantes.

Durante a Semana Santa, o Sardoal voltou a engalanar-se com a força da tradição, da fé e da criatividade. Este ano catorze igrejas e capelas do concelho ganharam nova vida com tapetes de flores e verduras meticulosamente criados pelas mãos dedicadas de toda a comunidade. No coração da vila, encontramos Ana Borges, 54 anos, professora de História e uma das guardiãs desta tradição. À frente da ornamentação da Igreja da Misericórdia, não esconde o orgulho de continuar o legado da sua avó, mãe, tia e de tantas outras mulheres da sua rua que contribuíram para esta prática que atravessa gerações. “Já são 40 anos a criar tapetes e a tentar nunca repetir um único desenho”, conta com um sorriso cansado.
Na Igreja da Misericórdia, Ana tem o apoio do marido, da prima e da fiel Dona Luísa, que com 77 anos, também já participa na tradição desde criança. Entre risos e conversas, Luísa Lopes da Corte relembra a época em que roubava flores para levar à capela e dos bons momentos que passou a adornar a igreja do seu coração. “Uma vez ia levando uma sova por roubar flores. Mas fiz de bom gosto! Sempre gostei de ajudar, porque o meu santo é este aqui e tudo em prol dele é bom”, expressa com contagiante boa disposição.
Filha mais velha entre 10 irmãos, Luísa já viu incontáveis tapetes de flores e salienta que é uma tradição muito importante para a vila e um momento de muita alegria e de fé. “Já passei por muito. Tive que ajudar a criar os meus irmãos e irmãs e muitas vezes pedi na rua para eles não passarem fome, mas esta altura da Semana Santa sempre foi mais alegre e trabalhar nestes tapetes ajudava muitas pessoas a esquecer as dificuldades e agarrarem-se à fé”, destaca.

Tradição e espírito de comunidade transmitidos às novas gerações
Entre as várias capelas e igrejas, o trabalho prolonga-se até de noite, voltando todos com mais energia após irem jantar a casa. Um dos grupos onde se sentia mais energia e animação era na capela do Espírito Santo, onde o “chefão” e mentor Gregório Fernandes coordenava os trabalhos. “Tal como o resto da comunidade, vibro e vivo mesmo isto. E se Deus quiser ainda vou continuar a participar por muitos mais anos”, afirma.
Juntamente com Marta, Zélia, Beatriz e Cristina, o grupo trabalha entre risos e conversas, afirmando Gregório Fernandes que a tradição alicerça-se no espírito de comunidade, que é passado aos jovens, que também demonstram interesse em manter vivo o costume. “O desenho é meu, então coordeno como arranjamos o tapete, mas há muita gente que me ajuda. Às vezes enervamo-nos uns aos outros, porque é um trabalho cansativo, mas estamos todos juntos pelo mesmo motivo, que é perpetuar esta tradição que significa muito para a comunidade e a nossa fé”, refere.
Apesar da fé ser um dos pilares que sustenta este costume, muitos reconhecem que o olhar dos visitantes nem sempre é religioso. Contudo, Ana Borges salienta que as pessoas do concelho gostam dos tapetes florais genuinamente pela mensagem de fé que transmitem e envolver os jovens também tem sido uma missão importante para si. Ana e o marido, Miguel Borges, actual presidente da câmara, ajudaram a criar nas escolas o “Projecto Capela”, onde os alunos desenham e planeiam tapetes, aprendendo sobre as flores e o significado de cada detalhe.
Esta transmissão geracional também acontece em casa do casal, tendo a filha de ambos, que está em Erasmus na Bélgica, acompanhado os trabalhos deste ano à distância e o filho ajudado a criar um tapete em 3D com a mãe o ano passado. “Tenho muito orgulho de ter passado esta paixão para os meus filhos. Espero que um dia eles a continuem e passem também aos seus”, expressa.

Semana Santa no Sardoal com cada vez mais visitantes

Desde que a Semana Santa de Sardoal foi classificada como Património Cultural Imaterial, em Dezembro de 2023, o presidente do município, Miguel Borges, nota um reforço na visibilidade e no reconhecimento desta tradição secular. O autarca destaca que a afluência tem aumentado de ano para ano e que, apesar da Semana Santa sempre ter tido grande participação, há agora uma renovada curiosidade, inclusive por parte de quem já a visitou antes. “Todos os anos os tapetes são diferentes, por isso há sempre algo novo para ver”, afirma o autarca.
Miguel Borges acrescenta que mais do que atrair visitantes, é essencial preservar o legado histórico desta tradição, que é um dos momentos altos da comunidade. Além do valor simbólico e religioso, o autarca salienta que o evento tem também um impacto relevante na economia local, com restaurantes, alojamentos e pastelarias a beneficiar da procura da Semana Santa, que se tornou num produto turístico de valor.

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