Caminhos de Santiago ajudam a dar vida à aldeia de Calvinos

A pequena aldeia de Calvinos, em Tomar, fica na rota dos Caminhos de Santiago. Há três anos a colectividade local passou a gerir um albergue para peregrinos criado pelo município numa antiga escola primária. A associação tem 43 anos de existência e prossegue a missão de dar vida à aldeia e unir a população, organizando diversas iniciativas ao longo do ano.
A aldeia de Calvinos, na União de Freguesias de Casais e Alviobeira, concelho de Tomar, é um ponto de passagem para muitos peregrinos dos Caminhos de Santiago vindos de sul e essa realidade motivou a transformação da antiga escola primária da aldeia num albergue para os passantes. Quem faz a gestão do espaço, aberto há três anos, é a Associação Recreativa e Cultural de Calvinos. O presidente da colectividade, Hipólito Silva conta que a escola primária fechou há 17 anos porque tinha poucos alunos, que transitaram para um centro escolar nas proximidades. O espaço onde funcionava a escola esteve ao abandono durante 10 anos, até que a Câmara de Tomar teve a ideia de o transformar num albergue para peregrinos.
“Antigamente na zona de Tomar não havia albergue nenhum, os peregrinos ou iam dormir para hotéis particulares ou para os bombeiros, depois decidiram fazer um na freguesia de Asseiceira e de seguida foi este”, conta Hipólito Silva. O espaço foi transformado pelo município, passando a ser gerido pela associação após a obra feita. Recebe peregrinos durante todo ano, tendo recebido 825 no ano passado. O albergue começou em 2022 com 300 peregrinos, depois ganhou fama, no ano seguinte já foram mais de 700 e o número tem vindo a crescer, explica o presidente.
Embora as despesas com luz e água sejam assumidas pela Câmara de Tomar, a associação tem investido no albergue, recebendo os peregrinos, fazendo limpeza e manutenção do espaço. “Temos a preocupação de ter sempre chá e café para poderem consumir. Eu vou todos os dias lá”, afirma Hipólito Silva. Os peregrinos pagam 7,5€ por noite, dinheiro que vai para a associação. Numa aldeia pacata, a presença dos peregrinos também acaba por trazer algum dinamismo ao local. “Eles participam em algumas iniciativas da associação, ainda o ano passado tivemos peregrinos da Argentina que passaram a passagem de ano connosco”, conta.
Obras na sede para facilitar mobilidade
Criada em 1982, a Associação Recreativa e Cultural de Calvinos esteve fechada durante oito anos mas voltou a abrir determinada em dar vida à aldeia e ser ponto de encontro da comunidade. Com 95 sócios, número que se tem mantido estável ao longo dos anos, organiza diversos eventos, como o almoço de aniversário, a Festa de Verão, Carnaval, Passagem de Ano, caminhadas solidárias e torneio de sueca. O futuro da associação é visto com alguma apreensão, não existindo interesse de jovens em continuar com o projecto. “Enquanto houver velhos a associação vai continuar, mas no futuro vai ser complicado. Os jovens não se chegam à frente, têm outros interesses”, diz.
Hipólito Silva conta que a associação surgiu através de um grupo de meia dúzia de pessoas que organizava a Festa de Verão da aldeia e que achou estar na altura de se criar uma agremiação. Aproveitaram um edifício que estava ao abandono para instalar a sede, que continua a funcionar no mesmo local. A associação quer construir no edifício uma rampa para deficientes, com acesso ao primeiro andar do edifício. “É uma coisa que já devia ter sido feita há muito tempo, mas nunca houve possibilidade”, refere o dirigente. O projecto, que implica um investimento de 15 mil euros, já está em andamento e deve estar concluído antes da próxima Festa de Verão.
A nível financeiro, Hipólito Silva afirma que a associação está bem. As receitas são angariadas essencialmente dos eventos que promovem e do albergue. Recebem ainda um apoio da junta de freguesia, no valor de 250€. Melhorar a sede, com obras regulares, é sempre uma preocupação. O espaço, de grandes dimensões, dispõe de diversos equipamentos, como mesas de snooker, matraquilhos, bar, restaurante e campo de futebol.
Emigrante durante meio século regressou à terra nantal
Hipólito Silva, 68 anos, é presidente da Associação Recreativa e Cultural de Calvinos desde 2022, mas participa na colectividade como colaborador e sócio desde a fundação. Nasceu na aldeia, tendo emigrado para França, juntamente com os pais, com apenas nove anos. Esteve no estrangeiro durante 50 anos. Diz que gostava de estar em França mas teve sempre saudades de Portugal e da sua aldeia, regressando duas a três vezes por ano. Trabalhou durante toda a vida na construção civil, estando actualmente reformado. “A minha reforma tem sido muito ocupada, costumo dizer que trabalho mais agora do que quando estava empregado”, refere bem-disposto.
Calvinos tem pouco mais de cem habitantes
Localizada a 10 quilómetros da cidade de Tomar, a aldeia de Calvinos tem cerca de 130 habitantes. A população é muito envelhecida. Actualmente há muitos estrangeiros a comprarem casas na aldeia, como ingleses, americanos e holandeses. Serviços tem muito poucos, apenas um pequeno café, a associação e o albergue para peregrinos. Passa um autocarro três vezes por dia para levar as crianças para a escola. Tem padeiro e peixeiro, que passam de carro regularmente durante a semana.