Cultura | 04-05-2025 15:00

Concertos de jazz na Moita do Norte à procura de novos públicos

Concertos de jazz na Moita do Norte à procura de novos públicos
Os músicos Carlos Barreto, Jorge Esperança e Pedro Pedroso. Manuel e Conceição Maia, amantes do jazz entre o público. Luís Esperança, director da associação CIR Ex-Tuna

Numa pequena localidade ribatejana onde o jazz poderia parecer improvável, há uma casa que mantém vivo o estilo musical. Na associação CIR Ex-Tuna, na Moita do Norte, em Vila Nova da Barquinha, as noites de jazz acontecem quinzenalmente há mais de duas décadas, resistindo às dificuldades e conquistando novos públicos.

Em Moita do Norte, freguesia de Vila Nova da Barquinha, o jazz está vivo e perdura. Num concelho longe dos grandes centros urbanos, a música resiste graças ao espaço associativo CIR Ex-Tuna, onde quinzenalmente o pequeno bar enche-se de músicos e curiosos que se deixam levar pelas jam sessions da iniciativa “Jazz na Tuna”.
Na noite de 26 de Abril, o jazz já pairava no ar enquanto músicos afinavam os seus instrumentos em preparação para mais uma sessão. No pequeno bar, o público começava a chegar para ouvir os três músicos que iam actuar naquela noite: Carlos Barreto (contrabaixo), Jorge Esperança (guitarra) e Pedro Pedroso (bateria). Pouco antes do concerto, no escritório da associação, Luís Esperança recordava a origem e evolução da casa, afirmando que tudo começou com dois dos músicos que iam actuar à noite, o seu irmão, Jorge Esperança, e o músico Carlos Barreto.
A iniciativa “Jazz na Tuna” remonta a 2004, quando Carlos Barreto, então a viver em Tomar, conheceu Jorge Esperança, um jovem guitarrista local que lhe pediu aulas e mentoria. “Vim fazer um concerto na Barquinha e o Jorge abordou-me e disse-me que gostava de jazz e que estudava guitarra, mas não tinha professor, então pediu-me umas aulas e foi assim que nos conhecemos e começámos esta aventura”, explica.
Após alguns anos, a iniciativa perdeu alguma adesão do público e foi revitalizada há cerca de dez anos, quando Luís Esperança assumiu o cargo da direcção da associação centenária do concelho de Vila Nova Barquinha. Fã do jazz, tal como o seu irmão, o comercial de 58 anos afirma que com esforço e empenho a colectividade conseguiu com que a população voltasse a aderir às sessões de jazz, tendo a iniciativa crescido estavelmente e trazido já artistas internacionais. “Foi curioso, porque muitas pessoas aqui nunca tinham ouvido estas sonoridades, nunca tinham ouvido jazz, mas começaram a vir e a gostar. Houve alturas complicadas, mas insistimos, persistimos e aqui estamos”, conta Luís Esperança, com orgulho.
A associação que promove a iniciativa foi fundada há 104 anos e aposta ainda em aulas de música e danças de salão, reforçando a sua missão de dinamizar a freguesia. E apesar de nem sempre ser fácil, Luís Esperança acredita que manter estas noites é fundamental. “Não é algo para ser rentável, é algo que fazemos por gosto. Mas claro que tentamos promover e inovar o espaço e a associação. Por exemplo, um dos objectivos das aulas é tentarmos incluir os alunos aqui nas jam sessions. Dar-lhes essa oportunidade e experiência”, destaca.

O Jazz em Portugal e importância de o promover no Interior
Carlos Barreto, figura renomada do panorama jazzístico nacional, afirma que o género musical em Portugal “está de boa saúde”, com cada vez mais jovens a ingressar no meio, sendo importante que haja mais iniciativas como o “Jazz na Tuna” fora dos grandes centros, para dar trabalho aos jovens músicos e também para expor a música a mais pessoas. “Há um certo fascínio pela improvisação do jazz que cativa muitas pessoas. Para quem não está habituado, improvisar parece mágico e há sempre essa surpresa em cada actuação e é das coisas que mais adoro no jazz”, comenta com um sorriso no rosto.
Durante a sessão onde o músico actuou, podia-se precisamente ver na pequena casa de jazz de Moita do Norte, espectadores de diferentes idades, incluindo um casal idoso que já é cliente habitual. Manuel e Conceição Maia, de 84 e 76 anos respectivamente, já assistem às sessões de jazz da localidade há muito tempo e afirmam que só não vão se ocorrer algum imprevisto inesperado. “Se falhámos quatro vezes foi muito. Como somos aqui da terra, ficámos muito contentes quando soubemos da iniciativa, até porque não conhecíamos mais nenhum sítio que tocasse este tipo de música aqui na região”, afirma Manuel Maia.
Manuel e Conceição Maia são também sócios do CIR Ex-Tuna, tendo Manuel sido inclusive dirigente da associação. Acham importante a colectividade ter apostado nesta ideia musical, pois traz novas pessoas à localidade. “Nestas noites, o espaço está sempre quase cheio e é maravilhoso. Vem muita gente de fora, porque aqui da terra há cá pouca gente. Então, de certa forma revitaliza a freguesia e o próprio género musical”, salienta Conceição Maia.
No final da noite, depois de cada solo partilhado e cada compasso improvisado, o ambiente de convívio prova que enquanto houver lugares assim e pessoas que acreditem, o jazz terá sempre casa, mesmo numa pequena freguesia do Ribatejo.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1714
    30-04-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1714
    30-04-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1714
    30-04-2025
    Capa Vale Tejo