Toureiro Diogo Peseiro regressou a Almeirim para se estrear já com a alternativa

Almeirim, tarde de 27 de Abril, dia especial de Primavera e muito sol para receber o “menino da terra”, Diogo Peseiro, naquela que foi a estreia do matador de toiros em Portugal depois da alternativa tirada em Espanha, em Setembro de 2024.
O MIRANTE foi ao encontro de Diogo Peseiro num quarto de hotel, em Almeirim, no domingo, 27 de Abril, dia em que se estreou como toureiro em Portugal depois de receber a alternativa como matador de toiros em Setembro de 2024, em Espanha. Acompanhado de Alejandro Rubio, o seu moço de espadas, já passava das quatro da tarde quando Diogo Peseiro começou a vestir o traje de luces, processo que normalmente demora 40 minutos. O telemóvel vai tocando música espanhola, e a conversa com os jornalistas de O MIRANTE vai servindo para perceber como está o espírito do toureiro: “a música é boa para relaxar, de outra forma o ambiente fica muito pesado”, justifica o toureiro.
Um fato de toureiro branco como um vestido de noiva
O fato que veste é o mesmo que usou quando tirou a alternativa, branco com pormenores a dourado, um branco puro como um fato de noiva, compara Diogo Peseiro; “achei que era a cor ideal para começar um capítulo tão importante da minha vida”, explica com os olhos no espelho. No capote, também branco, a imagem da Virgem da Esperança de Macarena, cujo culto é muito forte em Espanha, principalmente em Sevilha. Depois de vestir as meias, veste a taleguilla, os calções, cujos machos só com ajuda consegue apertar. O fato é bem justo, como deve ser, e são muitos os ajustes necessários até que tudo esteja perfeito. “Tem de estar tudo no devido lugar, ao pormenor”, afirma Diogo Peseiro enquanto abotoa com delicadeza a camisa branca, impecavelmente passada a ferro.
As horas que antecedem a actuação num dia de corrida são normais, mas não decorrem normalmente por razões mais do que evidentes. A 27 de Abril, de volta a Almeirim, terra natal que já não visitava há muito, o matador de toiros optou por dar uma volta a pé e visitar a campa dos avós maternos no cemitério. O nervosismo existe, mas é mais difícil controlar os nervos dos seus amigos e familiares que o seu, garante Diogo Peseiro. Por isso, gosta de estar mais solitário nos momentos de preparação para a corrida, para não se deixar contagiar pela ansiedade de quem lhe quer bem, e que por ele sofre a cada entrada na arena. Mas nem todos os amigos sofrem da mesma maneira, confessa, já que tem alguns que não concordam que a sua profissão seja uma arte e condenam a tauromaquia, mas garante que não é isso que abala a amizade. “Cada um tem direito à sua opinião e não é por isso que deixamos de nos entender”, partilha o matador de toiros, que aceitou o desafio de O MIRANTE de o acompanhar até à hora de entrar na arena de Almeirim.
A avó que não assiste à corrida por não ter coração que aguente
Enquanto ajusta a gravata ao espelho, chega a sua avó paterna para lhe dar um beijo de boa sorte. Não vai assistir à corrida porque os problemas cardíacos não lhe permitem; “sofro muito a ver o meu menino lá em baixo, na arena”, diz, apreensiva, apesar do orgulho. Chegada a hora de sair do hotel para o caminho da praça de touros, Diogo Peseiro não sai sem antes fazer uma oração a Nossa Senhora de Fátima, Virgem de Guadalupe e Esperança de Macarena, cujas imagens guarda dentro do estojo de viagem. A todas dirige um beijo e, depois de se benzer, abandona o quarto e segue em passo firme rumo ao exterior do hotel.
Pouco antes das cinco da tarde o sol brilha forte em Almeirim e o fato de Diogo Peseiro reflecte a luz que nele incide. De passada larga, caminha na companhia dos peões de brega até à arena, que fica a meio quilómetro do hotel. Durante o percurso é notório o entusiasmo dos aficionados quando vêem o toureiro passar. “Deus te acompanhe” e “Força, Diogo” são algumas das palavras de entusiasmo que lhe são dirigidas. Ainda há tempo para fotos, mas num ápice Diogo Peseiro entra na praça pelo grande portão dos artistas.
A tarde de sol atraiu milhares de pessoas à arena de Almeirim, para uma corrida com um bom cartel e sete toiros distribuídos entre dois toureiros a cavalo e dois a pé. Nas bancadas, várias pessoas identificavam o “menino” que cresceu em Almeirim e, segundo o próprio, se fez emigrante para seguir o sonho de ser matador de toiros. Na apresentação, perante o vasto público, Diogo Peseiro desenhou com os pés uma cruz na areia quente, em jeito de superar más superstições. A corrida arrancou com os toureiros a cavalo Manuel Telles Bastos e João Ribeiro Telles. Seguiu-se o espanhol Borja Jiménez, que encantou a arena com o seu toureio a pé. O sevilhano arrancou várias ovações de um público que aguardava a actuação de Diogo Peseiro. O almeirinense tinha pela frente o quarto toiro da tarde, o n.º 44 da Ganadaria Santa Maria, que pesava 510 quilos. O boi não ajudou naquele que foi um início tímido por parte de Peseiro que, no entanto, foi proporcionando alguns momentos admiráveis. No entanto, o toiro rapidamente mostrou a sua pouca bravura e Diogo Peseiro não conseguiu brilhar tanto como queria. Na volta à praça o público não deixou de valorizar a atitude de luta, valentia e raça de Diogo Peseiro, que mesmo com sinais de alguma insatisfação, recebeu e beijou um cravo vermelho que foi atirado para o chão da arena.
A história foi diferente naquele que foi o segundo toiro para Diogo Peseiro. Pesava 515 quilos e apesar de não correr muito teve energia suficiente para provocar dois sustos ao jovem matador. Numa amostra de persistência e ousadia, com sangue-frio à mistura, Diogo Peseiro conseguiu dar a volta ao toiro e teve o merecido triunfo, com direito a música por indicação do director da corrida, Marco Cardoso. Na segunda actuação, e já com um toiro à altura, Peseiro ainda teve tempo para puxar pelo público de Almeirim, que aplaudiu de pé em vários momentos da sua actuação e depois premiou com ramos de flores durante a volta à praça.
Um sonho tornado realidade
No final da corrida, foram vários os aficionados que quiseram registar o momento e tirar uma fotografia com o toureiro, especialmente os mais jovens. Diogo Peseiro confessou a O MIRANTE que se sentiu acarinhado pelo público e que actuar em Almeirim foi como um sonho tornado realidade. “Cresci no fundo desta rua, a cerca de 100 metros daqui. Era para esta praça que olhava todos os dias e alimentava o sonho”, admitiu.
