Três campinos que encaram a profissão com a responsabilidade e o respeito de antigamente

Mário Gordo, Ruben Lucas e André Condeixa são campinos. Uma profissão que vai muito para além do que se vê nas festas, com trabalho 365 dias por ano e cada vez menos jovens interessados.
A actividade de campino é cada vez mais polivalente e vai perdendo a sua essência, mas ainda há quem queira honrar os valores e os profissionais de antigamente. O MIRANTE conversou com os campinos Mário Gordo, Ruben Lucas e André Condeixa que participaram no desfile etnográfico do Cartaxo.
Mário Gordo, 45 anos, é filho do ilustre campino António Gordo, de 75 anos, e representa há 15 anos nas festas a Quinta da Silveira, na Fajarda, concelho de Coruche. O filho, António Maria, dizia em entrevista a O MIRANTE em 2015 que queria ser campino e actualmente, aos 16 anos, frequenta o curso profissional de gestão agrícola e pecuária e está a estagiar na Ganadaria Veiga Teixeira. A filha, Maria Inês, de 20 anos, estuda enfermagem veterinária e também acompanha o pai a cavalo. O campino quer que o filho siga os estudos e fique ligado ao campo porque hoje são os engenheiros agrónomos e zootécnicos que tomam conta das herdades e as ganadarias de gado bravo têm uma pessoa ou duas a trabalhar e os ordenados não são muito altos, revela.
Mário Gordo vai à herdade 365 dias por ano e viu a profissão mudar. Em alguns casos, já não se trabalha ao fim-de-semana, dada a sua “industrialização”, termo utilizado pelo campino. “Dizia-se que ser campino era saber ir apanhar um cavalo selvagem ao campo, amansá-lo e pô-lo a trabalhar. Há poucas ganadarias a cavalo, hoje é a moto4, a carrinha, fecha-se os touros, as vacas, e durante o dia faz-se outros trabalhos. O pessoal novo não sabe andar a cavalo”, diz.
O campino natural de Lavre, no Alentejo, afirma que falta responsabilidade aos jovens que pensam que ser campino é só aparecer nas festas, lamentando ter deixado de haver gosto em apresentar um jogo de cabrestos bem trabalhado. Mário Gordo diz ainda que a falta de emoção nas corridas de touros tem afastado as pessoas das praças. “Hoje as figuras do toureio em Portugal e Espanha querem um touro mais cómodo”, argumenta.
Ruben Lucas e André Condeixa são os únicos a trabalhar na Herdade de Almada, em Santo Estêvão, concelho de Benavente, e André é mais operador de máquinas. Concluiu o 12º ano do curso de cozinha e pastelaria, mas o que sempre quis foi trabalhar no campo. Já acompanhava gado bravo desde novo e por volta de 2018/2019 começou a fardar-se e sair à rua.
No caso de Ruben Lucas, 36 anos, a oportunidade apareceu há cerca de uma década. O pai trabalhou muitos anos com gado e com 12 anos, nas férias da escola, ia para a ganadaria de Dilário Cavaco, vizinho dos avós, a qual representa nas festas. “É uma profissão de risco e tem de se gostar e respeitar a farda. São princípios que hoje poucos têm”, defende.
