Cultura | 27-05-2025 18:00

Entre danças e cantares o Rancho da Romeira resiste ao tempo

Entre danças e cantares o Rancho da Romeira resiste ao tempo
Sandra Conceição e a filha, Luís Silva e Carlos Almeida

Há mais de cinco décadas que o Rancho Folclórico da Romeira preserva e promove as tradições. Com raízes firmes na história local e os olhos postos no futuro, o grupo preserva as danças, os trajes e as músicas da freguesia do concelho de Santarém. No próximo sábado organiza o 43º Festival de Folclore da Romeira e o 18.º Festival Luso-Espanhol.

O Rancho Folclórico da Romeira nasceu, como tantos outros da região ribatejana, da vontade de preservar e promover as raízes e tradições. Em 1961, impulsionado pelo convite à participação na Feira do Ribatejo, um grupo de pessoas decidiu formar oficialmente o rancho e desde então, mesmo com um interregno provocado pela Guerra do Ultramar, o grupo tem mantido viva a alma da Romeira.
O trabalho do rancho vai muito além da dança, fazendo uma recolha minuciosa do que era vivido antigamente na freguesia: danças, cantares, trajes, modos de vida e ritmos que já não se ouvem nas ruas. Essa identidade local distingue-se também nas danças. Luís Miguel Silva, 58 anos, refere que uma das que se destaca é a moda das “mornas”, assim como outras danças com passagens em passcate. “A nossa localidade não tem campinos nem touros. Aqui semeava-se trigo, havia muito olival. Isso molda o que somos”, explica o presidente da direcção da Sociedade de Recreio e Educativa da Romeira, a “casa-mãe” do grupo.
Carlos Almeida, dançarino do rancho, começou com apenas cinco anos, tendo uma ligação antiga e profunda com o grupo. O electromecânico de 53 anos afirma que todo o rancho é uma grande família e que apesar de já ser dos elementos mais antigos, ainda sente nervosismo ao entrar em palco, pois todos os festivais são diferentes. Já Sandra Conceição, de 43 anos, estreou-se no grupo há 20 anos num dos festivais da Romeira, convencida a participar por amigos. “Já pertencia à colectividade da Romeira e comecei no rancho por curiosidade, mas acabei por me apaixonar por isto e até trouxe o meu marido e depois a minha filha de 7 anos”, partilha.
Hoje, o grupo conta com cerca de 30 a 40 elementos em palco, afirmando Luís Silva que, apesar de o grupo não ser muito grande, “nunca deixou de haver quem dançasse”. Ainda assim, atrair jovens é cada vez mais difícil devido à diversificação de actividades desportivas e culturais que existe actualmente. Apesar disso, o grupo continua a ser o pilar cultural da freguesia e é a actividade mais antiga da localidade e aquela que mais dinamiza a freguesia com música, convívios e iniciativas ao longo do ano.

Atrair jovens é um desafio
O Rancho Folclórico da Romeira vive hoje entre o orgulho do passado e a vontade de continuar. Manter viva a tradição tornou-se uma missão, afirmando Luís Silva que neste momento, “o sentimento mais forte é o de não deixar morrer a tradição”. E para isso, o grupo está a preparar novos projectos, sendo um dos mais recentes a digitalização de todas as modas e canções, antes que se percam. “Todas as músicas foram gravadas e convertidas em formato digital, estando agora disponíveis em pens USB, tanto para arquivo como para facilitar o acesso dos novos elementos. Demorou cerca de 10 anos, porque havia sempre entraves, mas valeu a pena”, explica o dirigente.
Outro projecto em curso é a construção de um espaço para expor o espólio da história do rancho, para que as pessoas possam perceber o percurso e ver as lembranças do rancho recolhidas ao longo dos anos. Apesar do empenho local, Luís Silva não esconde a preocupação com o futuro do folclore na região e no país. “Acho que vai haver sempre grupos folclóricos, mas acho que alguns grupos aqui de Santarém correm o risco de deixarem de existir, porque é difícil conseguir convencer jovens a interessarem-se pelo rancho. Por enquanto o da Romeira acho que está bem vivo, mas uma pessoa nunca sabe o futuro”, ressalva.

Sábado há festival na Romeira

O 43º Festival de Folclore da Romeira e o 18.º Festival Luso-Espanhol vão decorrer no sábado, 24 de Maio, às 21h30, no Largo de Santa Catarina. A vinda de grupos do Douro Litoral, Alentejo e de Espanha (Ibiza) mostra que a Romeira continua a ser um ponto de encontro do folclore ibérico. Com os olhos postos no futuro e os pés bem assentes na tradição, o Rancho Folclórico da Romeira continua a dançar, a cantar e a preservar uma herança que teima em não desaparecer.

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