Cultura | 11-06-2025 21:00

Há quem viva da pesca com orgulho e paixão em Salvaterra de Magos

Há quem viva da pesca com orgulho e paixão em Salvaterra de Magos
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Gonçalo Matias é natural de Alenquer e faz da pesca no Tejo o seu dia a dia - foto O MIRANTE

Gonçalo Matias vive unicamente do sector da pesca, sendo pescador nas águas do Tejo e peixeiro no mercado de Salvaterra de Magos. O MIRANTE embarcou numa pequena viagem com o pescador para conhecer a sua actividade e perceber o dia-a-dia de quem exerce esta profissão.

A rotina de Gonçalo Matias, de 43 anos, é normalmente pautada pela tabela das marés do rio Tejo e pela actividade dos peixes que por essas águas circulam. “A melhor altura para pescar é ao anoitecer ou pela madrugada antes do amanhecer, quando os peixes estão mais activos”, confessa. Natural de Alenquer, a paixão pela pesca surgiu cedo, dada a proximidade àquele que é o rio mais extenso do país. Licenciou-se em Engenharia Agroalimentar na Escola Superior Agrária de Santarém e exerceu na área durante uma década, mas o “bichinho” da pesca levou-o a mudar a sua vida para se dedicar à actividade.
Actualmente a residir em Salvaterra de Magos, é por lá que, juntamente com a mulher, gere o negócio de peixaria no mercado local e pesca semanalmente. “Muitas vezes venho pescar de madrugada e depois vou directamente para o mercado”. O processo é simples: tem a seu serviço dois barcos no Cais da Vala, onde também dispõe de uma das tradicionais casas de pescadores que o município disponibiliza a preços acessíveis para guardar material. Veste o fato, liga o motor e arranca rumo ao alto curso do rio, que fica a poucos minutos do cais. “Um dos maiores benefícios é o trabalho ao ar livre, no meio da natureza e longe do resto”, afirma. É já na cabeceira do rio que começa a posicionar o barco para lançar a rede, estendendo uma colcha numa das pontas da embarcação para facilitar o caminho da rede até à água. A primeira bóia salta fora do barco e a partir daí inicia-se o desenrolar da rede pelo caudal do rio, formando uma meia-lua que joga em conformidade com o sentido da corrente. Vai de uma margem à outra com uma mão no leme e outra embalando os vários metros de nylon para a água, terminando a redada com o lançamento da segunda bóia. A partir daí é um jogo de paciência, que depende das condições do rio.
O barco vai balançando pela corrente e o pescador admite que já apanhou alguns sustos em certas situações. Para além de pescar junto a Salvaterra de Magos, uma das zonas de eleição é próximo ao Carregado ou a Vila Franca de Xira, onde o rio é mais aberto. Entre as várias espécies do Tejo, o sável, a fataça ou o robalo são algumas das que são pescáveis, tal como outras várias que migram até ao rio para desovar. “Também existem algumas espécies invasoras que colocam em risco a existência destas. Normalmente quando apanho dessas não as devolvo ao rio”, afirma, assumindo que para além destes perigos, os jacintos de água ou a excessiva regulação dos caudais também dificultam a pesca.
Enquanto aguarda mais um pouco por sinais da rede, relembra outros momentos que já viveu durante a pesca, como a apanha de uma tartaruga marinha em pleno rio. “Devolvi-a às águas na esperança que se orientasse”, confessa. A paixão que tem também pelas espécies e ecossistemas é notória, admitindo que acaba por pescar apenas o essencial, acabando por devolver muito peixe ao rio para não estar a matar sem necessidade. Chega a hora de recolher a rede e o vento que se faz sentir torna a tarefa mais difícil. À medida que puxa os vários metros da rede, vai sentindo se há ou não peixe. “Normalmente apanho cerca de 20 peixes com um lanço de rede deste género”, admite. A proibição para a pesca de certas espécies também pode ser uma dificuldade, dado que o pescador não controla os peixes que se emaranham nos fios de nylon. “Acredito que a proibição de pesca de certas espécies esteja um pouco desactualizada, pois há espécies que estão proibidas há muito tempo e agora existem em abundância”, afirma, admitindo que o controlo feito pela União Europeia também pode ser limitativo.
Terminado o duro trabalho de recolher da rede e contabilizado o peixe, é hora de voltar ao cais, a não ser que a pesca se prolongue. A paisagem pelas margens do Tejo é um local de trabalho que muitos gostavam de ter e o pescador dá o devido valor a isso, desfrutando também da viagem de regresso. Com o barco atracado e o serviço feito, guarda o material e costuma seguir para o mercado. Gonçalo Matias reconhece a pesca como uma actividade nobre e valoriza o património natural junto a Salvaterra de Magos para a profissão que exerce, reconhecendo que é uma zona de boa pesca. A história do pescador é um testemunho vivo de como a paixão e o respeito pela natureza podem guiar escolhas de vida sustentáveis. O seu dia-a-dia é feito de esforço, paciência e ligação ao rio, mas também de consciência ambiental e valorização de um modo de vida simples, mas cheio de significado. Em Salvaterra de Magos, prova que é possível iver do que o rio oferece sem deixar de cuidar dele.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Vale Tejo