Rui Miguel Pinto: um jovem escritor no topo de vendas das livrarias portuguesas

Rui Miguel Pinto é natural de Benavente e escreveu “O Segredo de Tomar”, um thriller histórico que esteve no topo de vendas das principais livrarias portuguesas durante várias semanas. Em início de carreira como escritor, fala com O MIRANTE sobre a sua paixão por História e o estado da Literatura e do Ensino em Portugal.
Rui Miguel Pinto nasceu em Benavente, terra onde ainda reside e pela qual não esconde o seu carinho e apreço. O gosto pela escrita surgiu juntamente com a paixão pela História. A vontade de escrever surge depois de ler Anjos e Demónios, de Dan Brown, mas foi durante uma visita ao Convento de Cristo, em Tomar, com o irmão mais velho, que decidiu começar a escrever mais a sério. “Queria escrever algo que fizesse os leitores sentirem o que eu senti”, afirma o autor de 30 anos, que tem em Luís Miguel Rocha uma das suas maiores referências. O interesse pela área conduziu-o à licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, mas desmotivado com o estado do sector na época acabou por sair e trabalhou alguns anos como controlador de tráfego, actividade que conciliava com as aulas de ténis, outra das suas paixões.
Rui Miguel Pinto considera que um bom escritor tem de ler muito, especialmente géneros diversificados, para escrever “cenas mais emocionais e complexas”, mas admite não ler com tanta variedade quanto gostaria durante o processo de escrita, pois passa mais tempo nos livros técnicos e de investigação histórica. O que mais desfruta no processo é de adaptar a sua história à “história com H grande”, admite. “O que mais me dá gosto é visitar os locais e perceber o que posso encaixar na narrativa”, refere a O MIRANTE.
O Segredo de Tomar
A visita ao Convento de Cristo com 12 anos foi um marco importante naquilo que viria a ser o seu primeiro bestseller. Recorda-se de ter levado um bloco de notas e apontar aquilo que lhe chamou à atenção. Aos 19 anos, depois de ter abandonado o curso de História, lançou o livro O Túmulo do Mestre. “Não correu da melhor forma, pois não conhecia muito bem o meio editorial e acabei por desmotivar”. Durante a pandemia, quando começou a trabalhar remotamente, voltou a dedicar-se à história e reescreveu essa primeira obra, adicionando-lhe a continuação que a viria a tornar n’O Segredo de Tomar. “Demorei cerca de dois anos na escrita e investigação do livro e o processo para a publicação demorou cerca de quatro meses”, explica. Acredita que é essencial escrever todos os dias para manter o ritmo e combater a “folha em branco”. O seu cenário ideal para a escrita é depois do jantar, em casa e rodeado de livros e apontamentos. A música desempenha um papel essencial naquilo que é o seu imaginário para idealizar cenas. “Oiço música enquanto imagino, depois escrevo em silêncio e volto a pôr música quando releio. Quase que consigo associar uma música a cada capítulo”, admite, acreditando que todos os autores têm os seus próprios rituais.
O sector literário em Portugal
O jovem autor reconhece que a tendência da leitura tem vindo a aumentar, especialmente nos mais jovens, algo que atribui às redes sociais. “Acho que os leitores cada vez valorizam mais a literatura nacional e isso deve-se aquilo em que as editoras apostam”, assume, reconhecendo que o próprio foi uma das apostas da Porto Editora para reforçar a oferta de autores portugueses no mercado. “Sou um autor português desconhecido e estive seis semanas no top de vendas. As coisas estão a mudar, há mais autores jovens a serem publicados e valorizados”. Apesar de ser um autor em início de carreira, acredita que é possível viver da escrita em Portugal, mas defende que o preço dos livros devia ser reduzido, por ser semelhante ao de outros países com outros custos de vida.
Rui Miguel Pinto assume: “nenhuma das obras que li do Plano Nacional de Leitura me apaixonou verdadeiramente pela leitura”, afirma, defendendo que deviam ser incluídos autores contemporâneos de forma a atrair mais os jovens. “Acho fundamental termos conhecimento dos nossos marcos literários, mas não acredito que nenhum jovem de 14 ou 15 anos se vai apaixonar por leitura a ler Camões”, atira. Rui Miguel Pinto considera que muitas das obras abordadas no ensino exigem uma maturidade específica que nem sempre está em conformidade com a idade dos estudantes. “Falta algo que seja mais próximo aos jovens de hoje. Que os faça ler e não acharem que a leitura é um sacrifício”, remata.
A relação com Benavente e o carinho por Tomar
Rui Miguel Pinto não esconde o apreço que tem à sua terra, Benavente. Admite até que já pensou escrever um livro baseado na história da vila, mas não passou de uma ideia. “Seria um conto com o nome O Tesouro do Navegador, sobre Duarte Lopes, navegador português natural de Benavente. O protagonista seria um jovem estudante que, influenciado pelo professor, descobria segredos da região e se aventurava em todo um mistério”, explica. Uma relação forte, que também foi surgindo na região, foi com a cidade de Tomar, que visitou várias vezes para obter informações e pormenores para o livro. Sente o carinho da população e admite que o maior sucesso da sua obra seria suscitar o interesse de mais pessoas em visitar a cidade Templária. “Fiz a apresentação do livro no Convento de Cristo e estavam mais de 120 pessoas. Para mim é muito importante que os leitores consigam apalpar os sítios e perceber que estão a pouca distância de os conhecer”, afirma, confessando que os tomarenses lhe transmitem um sentimento de gratidão por ter escolhido a cidade para ser palco do enredo.
Já com contrato assinado com a Porto Editora para o próximo livro, Rui Miguel Pinto admite que se quer manter no thriller histórico, até por ser um género pouco explorado em Portugal. “Quando um autor começa a mudar muito o leitor não sabe o que esperar”, afirma. Entre os géneros que gostava de escrever, destaca o policial e o romance histórico. Por agora, vai trabalhando numa nova obra que terá como tema principal os Caminhos de Santiago de Compostela, que o próprio percorreu durante a pandemia.