Roberto Batista vive do acordeão e ensina a versatilidade e beleza do instrumento

Roberto Batista começou mais tarde no mundo do acordeão, mas foi ganhando nome e hoje dá aulas pela região, vivendo inteiramente da música. O MIRANTE conversou com o professor, alunos e jovens acordeonistas que revelam paixão pelo instrumento que vai para além da música popular portuguesa.
Roberto Batista é um jovem de 26 anos, natural de Vale do Paraíso, concelho de Azambuja, que trabalhou na agricultura para pagar aulas de música e hoje vive do ensino do acordeão em vários pontos da região ribatejana, tendo duas dezenas e meia de alunos dos sete aos 81 anos. O jovem actuou recentemente com alguns dos seus alunos em Valada do Ribatejo, no concelho do Cartaxo, onde O MIRANTE se cruzou com o acordeonista e autor do projecto Sonoridades do Acordeão, que partilha com a aluna Maria Clara.
Foi numa visita ao lar para ver a avó que ficou encantado pelo instrumento. Tinha 8 ou 9 anos. Começou a aprender aos 13 anos na Sociedade Filarmónica Cartaxense, no Cartaxo, e na impossibilidade de adquirir esperou até aos 17 anos para iniciar o estudo com Vítor Rosa, na Casa do Povo de Arcena, em Alverca. Iniciou o conservatório com 20 anos e tem o oitavo grau. Revela que sempre se sentiu atrás dos seus pares por ter começado mais tarde e chegou a fazer uma pausa quando acabou o ensino secundário, por o custo das aulas rondar os 300 euros mensais. Ao mesmo tempo que estudava música, trabalhava na agricultura em Vale do Paraíso.
Actualmente, dá aulas na filarmónica de Aveiras de Cima e toca no rancho dessa freguesia do concelho de Azambuja; nas filarmónicas de Azambuja e de Alpiarça e na sede do rancho de Alenquer, em que também toca. Pertence ainda à direcção da Associação Desportos e Recreio “O Paraíso”. Os anos e a dedicação ao instrumento vêem-se reflectidos nos dedos das mãos já atrofiados e numa fractura no dedo mindinho que tenta disfarçar durante a actuação.
Roberto Batista, apreciador do clássico, ensina a versatilidade do instrumento, continua a aprofundar conhecimento no Instituto de Música Vitorino Matono, em Lisboa, com o objectivo de se tornar professor de conservatório, e acredita que há cada vez mais jovens a querer dignificar o acordeão.
Guilherme e Madalena: dois jovens apaixonados pelo acordeão
Apesar de não ser aluno de Roberto Batista, Guilherme Matos, acordeonista de 18 anos natural de Santarém, foi um dos jovens presentes em Valada e que tem já um percurso de sucesso, com alguns convites para casamentos. Na família já se tocava acordeão e começou por vontade própria quando os pais decidiram inscrevê-lo no conservatório aos oito anos. Valsas, marchas, tangos, fados e música de baile mostram a versatilidade do instrumento que começou a explorar quando saiu do conservatório há dois ou três anos. A área de multimédia é, ainda assim, o plano principal. Guilherme é da opinião de que há poucos jovens a interessarem-se por tocar em ranchos e que, por isso, é necessário valorizar os acordeonistas, que cobram à volta de 40 euros por ensaio.
Madalena Machacaz, 15 anos, aluna de Roberto Batista, está a tentar integrar o rancho. Começou a tocar acordeão aos seis anos na Sociedade Filarmónica Alpiarcense 1º de Dezembro, em Alpiarça, depois de em criança ter ido a correr para a frente da televisão para ouvir tocar. Quando completou 10 anos foi para o conservatório, que deixou no ano passado para se focar nos estudos, pois quer ser médica. “Dá para descontrair, aliviar, conversar e criar amizades”, diz, explicando que não há problema de haver enganos em grandes actuações porque “tem de se dedicar muito tempo para ter algum à vontade com o acordeão”.
Primeiro festival de acordeão em Valada
Esta reportagem foi realizada durante o primeiro festival de acordeão em Valada, uma iniciativa da nova direcção do Ribatejano Futebol Clube Valadense. A iniciativa incluiu um jantar-convívio e contou com cerca de uma centena de pessoas e nove acordeonistas.
O sonho de uma vida
Fernando Ventura, de São Vicente do Paul, concelho de Santarém, tem 66 anos e é também aluno de Roberto Batista. Aprendeu a tocar viola aos 15 anos, embora gostasse do som do acordeão. Quando a filha tinha 13 anos, comprou-lhe um acordeão também para ele usufruir, mas chegou à conclusão de que se fosse autodidacta ia ficar com “maus vícios”.
Há três anos, Fernando Ventura entrou na pré-reforma e com mais disponibilidade de tempo foi aprender, dedicando duas a três horas diárias ao estudo. Ansioso, é o acordeão que lhe traz alguma tranquilidade. Toca viola num grupo de danças regionais de Santarém e Romeira e gostava de integrar um grupo de música popular portuguesa. “Há uns anos o acordeão era visto como um instrumento piroso, as pessoas fugiam de aprender. Mas as mentalidades mudaram, já há uma licenciatura e é um instrumento muito versátil que aparece em muito lado”, afirma.