Amigos do Fado de Tomar promovem e procuram novos talentos

Criada em 2010, a associação Os Amigos do Fado de Tomar é uma referência a nível regional. Tem sede numa antiga escola do concelho, onde realizam regularmente noites de fados. Organiza ainda o único festival de marchas populares de Tomar. Um dos principais objectivos da colectividade é ir à procura de novos valores. O MIRANTE esteve na sede da associação e conversou com o presidente, António Leiria, e a esposa, Aurora Leiria.
O fado está vivo em Tomar, graças à associação Os Amigos do fado de Tomar. Criada a 25 de Maio de 2010, a associação nasceu com o objectivo de divulgar o fado e dinamizar o género musical em Tomar. A comemorar 15 anos de existência, o grupo assume-se como uma referência no fado, a nível regional e até nacional. A associação, que conta com 40 sócios, tem sede na antiga escola de Arroteia, em Venda Nova, local onde se realizam noites de fados todos os meses. Organiza ainda o único festival de marchas populares de Tomar, iniciativa que nasceu em 2013 e tem vindo a crescer de ano para ano. Actualmente, uma das principais intenções do grupo é encontrar novos valores para o fado. O MIRANTE visitou a sede da associação, na localidade de Venda Nova, em Tomar, e conversou com o presidente, António Leiria, e a sua esposa, Aurora Leiria, fundadores do grupo.
O casal começou por explicar que inicialmente a associação organizava concursos de fado amador, num restaurante de Tomar. Chegaram a fazer cinco concursos de fado, até que pararam com o projecto porque era muito dispendioso. “Foi a nossa rampa de lançamento. O que nos dá um certo gosto é saber que algumas vozes que passaram por nós agora são profissionais”, referem. Depois disso passaram a dedicar-se essencialmente às noites de fados. Após saírem do restaurante, alugaram um espaço no centro histórico de Tomar.
Com a pandemia não puderam realizar as noites de fados e deixaram de ter possibilidades financeiras para pagar a renda. Pediram ajuda ao município, numa altura em que a autarquia estava a ceder escolas desactivadas, tendo-lhes sido cedido um antigo jardim escola, que é actualmente a sede da associação e local onde decorrem as noites de fados duas vezes por mês. As noites de fados arrancam às 20h00 e só acabam perto da meia-noite. Há petiscos e actuações durante todo o serão. A adesão de público é enorme, a sala está sempre cheia, levando perto de 50 pessoas.
“As pessoas gostam muito de vir cá porque dizem que não são recebidas em lado nenhum como são aqui. Gostam deste ambiente e nós, claro, tentamos dar o nosso melhor para que as pessoas saiam daqui com vontade de voltar”, diz o casal. Além dos artistas convidados, qualquer pessoa pode subir a palco e cantar. “Funcionamos quase como uma escola de fado, temos aqui vozes a cantar que se fossem a Lisboa provavelmente não ficavam atrás dos que lá cantam”, afirmam.
Em 2013, o casal passou a organizar também o único festival de marchas populares de Tomar. Começaram com duas marchas participantes e este ano são já oito. As marchas vêm de todo o país, inclusive de Lisboa. “As marchas que participam dizem que têm convites para outros lados, mas que preferem Tomar. Acho que se deve muito ao facto de termos um percurso tão grande, onde as marchas podem mostrar-se e desfilar verdadeiramente”, realçam. Além de organizar a iniciativa, em parceria com o município, a associação tem ainda uma marcha que também desfila pelas ruas de Tomar.
“Temos a perfeita noção que a associação mexeu com o fado em Tomar. Quando nós criámos a associação notámos que começou a haver mais fado na cidade”, afirmam. Uma das grandes preocupações do grupo é preservar o fado tradicional. “Aqui praticamente ninguém canta sem xaile, já nem é preciso nós dizermos porque as pessoas sabem que é uma coisa que identifica a associação, a fadista cantar de xaile”, sublinham.
Casal partilha paixão pelo fado
António Leiria, 74 anos, e Aurora Leiria, 72 anos, são casados há 50 anos. Têm dois filhos e netos. Sempre viveram em Tomar, tendo-se conhecido nos bailaricos que se faziam na cidade. Afirmam que sempre tiveram o gosto pelo fado. António Leiria morava em Santa Cita. Recorda que, com 18 anos, tentou formar um grupo de música popular, mas não conseguiu, tendo depois criado um rancho folclórico na aldeia onde morava, o que fez com que o seu gosto pela música fosse aumentando. Começou a cantar fado, sendo que as suas referências eram os fadistas António Mourão e Tony de Matos. “Ainda hoje canto fados deles”, refere. Cantava em noites de fados e concertos, mas nunca fez do fado profissão, nem nunca pensou nisso. Diz que era “só por diversão”. Hoje confessa que gosta mais de ouvir fado do que de cantar. “Já foram muitos anos a cantar, costumo dizer que só não fui cantar ao estrangeiro”, conta bem-disposto.
Aurora Leiria afirma que gosta de fado desde criança. “Gosto de ouvir, tinha uma vizinha que cantava fado e eu gostava muito de a ouvir”. O casal, aposentando, dedicando-se totalmente à associação. António Leiria trabalhou como empregado fabril em Tomar. Aurora Leiria trabalhou muito tempo em casa na costura e nos bordados, enquanto cuidava dos filhos, tendo depois trabalhado numa salsicharia.