Cultura | 03-07-2025 21:00

Na Glória do Ribatejo a cultura alternativa tem olhos postos no futuro

Na Glória do Ribatejo a cultura alternativa tem olhos postos no futuro
João Monteiro, banda Ganso e todos os membros da Associação Febre Amarela - foto O MIRANTE

Glória ao Rock destaca-se no panorama da música alternativa na região e realizou mais uma edição com sucesso. Novo espaço, debate sobre cultura e cartaz variado foram algumas das apostas para mais uma edição do festival de rock mais antigo do Ribatejo.

Há mais de duas décadas que a Glória do Ribatejo se enche de música, campistas e juventude em Junho, mas o “Glória ao Rock” é muito mais do que um festival de Verão. Em 2025, assinalou a sua 24.ª edição com uma mudança de cenário, do parque de campismo para o centro da vila, numa aposta clara na ligação ao território e à sua gente. João Monteiro, presidente da Associação Febre Amarela, organizadora do evento desde a sua fundação, fala de uma “viragem simbólica” no panorama do festival. “Sentíamos que o festival já não estava ligado à vila. Os artistas chegavam, tocavam e iam embora sem perceber onde estavam. Faltava alma”, admite. Este ano, o evento mudou-se para o Jardim Público de Glória do Ribatejo e foi ali que, durante três dias, artistas como Ganso, Máquina e Benny Broker trouxeram sonoridades alternativas a um público que cresceu em número e diversidade.
A decisão de trazer o festival para o centro da Glória foi também uma tentativa de reverter o distanciamento entre o evento e a população local. “Quisemos mostrar que a cultura alternativa pode ter lugar no coração da vila e não apenas num campo à parte”, explica João Monteiro. A mudança foi bem recebida: houve mais campistas (cerca de duas dezenas de tendas), mais habitantes a assistir e mais curiosos a circular. “A sensação foi de reconquista, como se o festival tivesse voltado a casa”.

O rock, as cores e a carteira feita de bordados
O Glória ao Rock nasceu em 1998 como um festival de nicho, apostado em dar palco ao rock progressivo, punk e metal, géneros pouco representados na altura. Desde então, o cartaz tem evoluído com os gostos da nova geração, passando pelo reggae, indie pop, electrónica e, mais recentemente, pelo hip hop. Mas manteve-se sempre fiel ao espírito de descoberta musical e independência. Essa mesma independência vê-se na forma como a associação trata os artistas convidados, fazendo-os mergulhar também na cultura e história da vila. Todos recebem uma carteira bordada à mão, em estilo de bordado da Glória do Ribatejo. É esse objecto, feito por mulheres da Glória, que transporta simbolicamente o cachet. Este ano, até as cores do festival mudaram, com o amarelo e azul da associação a darem lugar ao vermelho e azul dos bordados locais. Um gesto simples, mas significativo, segundo a organização. A programação do próprio cartaz é pensada ao pormenor para ter até uma relação com a própria história da vila. “Queríamos trazer um estilo de música que envolvesse mais ruído, para simbolizar a RARET e a interferência das transmissões de rádio que muitas vezes eram audíveis na vila”, acrescenta.

Um espaço de resistência cultural
Além da música, 2024 marcou também a estreia de um momento de debate cultural, que juntou associações para reflectir sobre os desafios que enfrentam os pequenos festivais e o consumo da cultura na região ribatejana. Falou-se da falta de apoio das entidades locais, do aumento dos custos desde a pandemia, da pressão logística e outros temas marcantes da realidade de muitas colectividades que tentam promover a cultura. Apesar das dificuldades, a associação tem resistido com voluntariado, criatividade e muita paixão.
Com os olhos postos em 2026, a Associação Febre Amarela quer assinalar os 25 anos do festival com uma edição especial e mais abrangente. A ideia é trazer ainda mais música às ruas da Glória, com pequenos concertos espalhados pela vila durante as tardes. “Queremos mostrar que a cultura popular e a alternativa não são rivais. Podem coexistir, dialogar, enriquecer-se mutuamente”, frisa.

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