À descoberta do castro de Vila Nova de São Pedro

Castro de Vila Nova de São Pedro, monumento nacional desde 1971, recebeu visitas guiadas de acompanhamento das escavações. No final, houve uma refeição pré-histórica. Equipas estão a trabalhar na segunda linha de muralhas.
O sítio arqueológico de Vila Nova de São Pedro, no concelho de Azambuja, recebeu um Dia Aberto a 17 de Julho. À semelhança dos anos anteriores, realizaram-se visitas guiadas em que os participantes tiveram oportunidade de observar os trabalhos da campanha de escavações deste ano. Ao final da tarde, realizou-se uma refeição pré-histórica com o objectivo de provar como era a gastronomia do período calcolítico em Vila Nova de São Pedro.
Mariana Diniz, professora na Faculdade de Letras, directora do Centro de Arqueologia e membro da Associação dos Arqueólogos Portugueses, explica a O MIRANTE que continuam a trabalhar na segunda linha de muralhas que é uma linha intermédia entre o reduto central e a linha mais exterior e acabaram por ser surpreendidos com a identificação de um grande muro na base do bastião oco, ele próprio uma novidade.
“Há uma série de estruturas de muralha que ainda estão preservadas de que nós não tínhamos conhecimento nem registo. E noutro sector de um talude que apoia esta segunda linha um processo de construção deste sistema muito sofisticado. É alguém que está a construir com muito cuidado e qualquer coisa que deve sobreviver no tempo. E, como surpresa extra, a ocupação debaixo de todas essas estruturas, portanto serão as coisas mais antigas de que temos registo”, adianta.
A grande curiosidade é datar por carbono-14 esses níveis, o que, segundo a professora, em Vila Nova de São Pedro é sempre uma boa experiência porque os terrenos calcários conservam a fauna e há restos de veados, javalis, ovelhas, entre outros animais, e todos esses ossos podem ser datados, podendo-se reconstituir a vida do sítio. As equipas de arqueólogos são geralmente de 10 a 15 pessoas, grande parte estudantes de diversas universidades do país. As escavações decorrem, por norma, durante três semanas.
O projecto “VNSP 3000 – Vila Nova de São Pedro, de novo - no 3º milénio” é da responsabilidade da Associação dos Arqueólogos Portugueses, do Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, contando com o apoio da Câmara de Azambuja e da União das Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa.
Monumento nacional desde 1971
O povoado fortificado de Vila Nova de São Pedro foi identificado em 1936, tendo sido escavado por Afonso do Paço e Eugénio Jalhay entre 1937 e 1967, estando em curso novas investigações desde 2017. Ao longo de 37 campanhas foram identificadas três linhas de muralha, que circundavam um reduto interior, interpretado como o centro do povoado de uma comunidade agro-metalúrgica. Os materiais arqueológicos, as estruturas identificadas e as datações por radiocarbono permitiram enquadrar este sítio no período Calcolítico, sendo ocupado até ao inicio da Idade do Bronze.
A localização deste povoado, num local com excelente visibilidade e defesas naturais, parece reflectir não só uma preocupação defensiva, visível nas suas várias linhas de muralha, mas de igual modo na necessidade de controlo da circulação de pessoas, animais e bens ao longo de uma vasta área. Considerado como um dos povoados calcolíticos ícones da pré-história europeia, Vila Nova de São Pedro foi classificado como monumento nacional em 1971.