Teatro Salvador Marques de Alhandra em consulta pública após décadas de promessas

Novo projecto para o Teatro Salvador Marques, em Alhandra, foi apresentado pela Câmara de Vila Franca de Xira e está a recolher contributos. A Sociedade Euterpe Alhandrense defende mais capacidade na sala e um modelo de gestão viável. Presidente da união de freguesias apela aos políticos para deixarem de usar o teatro como “arma de arremesso” e apela à concretização da obra.
Até dia 30 de Outubro está em consulta pública o estudo prévio do Projecto de Reabilitação do Teatro Salvador Marques, em Alhandra. A recolha de contributos e opiniões acontece depois da apresentação pública do projecto por parte da Câmara de Vila Franca de Xira, acompanhada pelo arquitecto David Carvalho, que decorreu a 21 de Julho nas instalações da Sociedade Euterpe Alhandrense.
A intervenção proposta no estudo prévio visa manter, segundo o município, tanto quanto possível, a imagem original do Teatro Salvador Marques, preservando apenas as paredes exteriores da fachada, que serão reforçadas de modo a garantir resistência em caso de sismo. O edifício irá também ser dotado de condições que cumpram na íntegra a regulamentação da segurança contra riscos de incêndio.
A proposta apresenta um palco com as dimensões para a realização dos mais variados espectáculos, a grande sala com dotação máxima estimada de 483 lugares (sentados ou em pé), condições acústicas e de climatização adequadas e acessos (mobilidade reduzida). Terá ainda um foyer, salão nobre, camarins, áreas técnicas e instalações sanitárias. O projecto inclui um terreno adjacente, já adquirido pelo município, onde se propõe a construção de um edifício novo, com café-concerto, zona administrativa/espaço de co-working para artistas, sala de ensaio e sala multiusos.
Relembre-se que o contrato de adjudicação do projecto de reabilitação foi assinado no dia 25 de Outubro de 2024, tendo sido elaborado pela empresa AW Projects Engenharia, em parceria com a maisrarquitetos.
O financiamento da obra passa por “encontrar os parceiros que possam associar-se na intervenção, na perspectiva da criação de um centro cultural da Área Metropolitana de Lisboa”, disse o presidente da autarquia, Fernando Paulo Ferreira.
Euterpe defende mais lugares e modelo de gestão sustentável
A gestão do futuro Teatro Salvador Marques deve passar pela Sociedade Euterpe Alhandrense. O presidente da colectividade, Jorge Zacarias, explicou a O MIRANTE que as preocupações em relação ao projecto são precisamente as implicações de gestão. Além disso, a Euterpe precisa de um auditório com capacidade suficiente para desenvolver as suas actividades com qualidade, o que não acontece actualmente na sua sede. “Os 482 lugares não são suficientes. Para nós, têm de ser acima dos 500 a 550. O projecto tem condições para aumentar o número de lugares, mas vamos aguardar para desenvolver o nosso contributo e submeter à discussão pública”, reiterou. O dirigente levanta ainda preocupações de sustentabilidade e diz que não faz sentido ficar com a responsabilidade de gestão e andar dependente de subsídios ou andar a pedir financiamento para manter a sala.
A solução apresentada pela Câmara de VFX foi bem acolhida pela associação Gente em Alhandra. Manuela Peleteiro sublinhou o facto de o projecto conservar a sala antiga e espera que a obra seja efectivamente concretizada. Para o grupo Árvores d’Alhandra, as questões de falta de estacionamento não fazem qualquer sentido e o automóvel não é prioritário. “Quando vamos ao Teatro Nacional de São Carlos ninguém leva o carro. O parque de estacionamento de apoio para a Euterpe parece-nos suficiente e vamos, por isso, intervir na consulta pública”, reiterou Manuela Peleteiro, membro do grupo de cidadãos.
Presidente da junta pede que teatro deixe de ser arma política
Autarca desde 1997, Mário Cantiga, presidente da União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, tem ouvido os partidos prometerem a reabilitação do Teatro Salvador Marques ao longo dos anos, sem que a obra avance. Apela, por isso, a que deixem de usar o teatro como instrumento político e o reconheçam como uma casa com identidade e importância cultural para Alhandra. Defende que cabe ao próximo presidente da câmara agir e concretizar finalmente a obra.
O autarca recorda que trabalhou dos 11 aos 18 anos no teatro, enquanto cinema. Primeiro como arrumador de plateia, depois no bar e, por fim, como projeccionista de filmes. Quando as portas fecharam, alegadamente para férias, nunca mais abriram. Já lá vão quatro décadas. Mário Cantiga fez parte do movimento popular que, em 2006, interpôs uma providência cautelar para impedir a demolição do teatro, planeada pela Câmara de VFX à época. O município chegou a pensar em transformar o teatro numa biblioteca e, de acordo com o autarca, até houve a ideia de construir ali o novo centro de saúde e o Museu do Neorrealismo.
“Os alhandrenses têm uma relação afectiva muito grande com o Salvador Marques. Gosto deste projecto porque mantém a fachada original e vai tentar preservar parte da fundição. Mas eu já só quero o Salvador Marques aberto enquanto for vivo. O poder político deve isto a esta terra”, diz Mário Cantiga.
Um teatro com história à espera de futuro
Com uma localização privilegiada em Alhandra, o Teatro Salvador Marques foi inaugurado a 10 de Abril de 1905, tendo sido adquirido pelo município de Vila Franca de Xira em 2001. O edifício existente apresenta as diversas transformações a que foi sujeito, na fachada e na organização do interior, que lhe retiraram grande parte da sua elegância e arquitectura original. Esquecidas durante anos, as instalações foram alvo de vandalismo e das intempéries até serem colocados os tapumes nas portas e janelas. Os projectos apresentados ao longo dos anos foram sendo contestados pela população e autarcas, conforme O MIRANTE noticiou.