Cultura | 03-09-2025 18:00

Joaquim Correia: o fotógrafo de Samora Correia que fintou a morte e conquistou a admiração e o carinho das suas gentes

Joaquim Correia: o fotógrafo de Samora Correia que fintou a morte e conquistou a admiração e o carinho das suas gentes
Joaquim Correia é conhecido por fotografar há vários anos as tradições ribatejanas, especialmente as de Samora Correia - foto O MIRANTE

Joaquim Correia dedica a vida a registar em imagem as tradições e festas do Ribatejo, com especial atenção à sua terra, Samora Correia. Começou nos anos 80 no cinema de animação e acompanhou a evolução tecnológica, passando por VHS, DVD e formatos digitais. Em 2018 enfrentou um tumor no pâncreas, recuperou e intensificou o registo de largadas de toiros e outros eventos culturais. O reconhecimento da população é tanto que, quando a sua máquina fotográfica avariou, foram rapidamente angariados fundos para a aquisição de novo equipamento, que utiliza actualmente.

Joaquim Júlio Abreu Correia, mais conhecido como “cameraman”, é uma figura incontornável na vida cultural e festiva do Ribatejo. Natural de Samora Correia, nasceu mesmo no centro da vila e, apesar de Samora já ser cidade, ainda a trata carinhosamente de vila. Aos 56 anos, continua a documentar cada detalhe das festas, largadas de toiros e eventos culturais como teatro e espectáculos musicais (sobretudo no Centro Cultural de Samora Correia), com um olhar que alia técnica, sensibilidade e uma paixão antiga pelas imagens em movimento.
Joaquim Correia começou nos anos 80, com o cinema de animação, através de um grupo de jovens de Samora, liderado por Fernando Galrito, onde filmava em Super 8 e 16 mm. O som para os filmes era muitas vezes colocado à parte. A evolução tecnológica obrigou-o a adaptar-se: VHS, DVD e, mais tarde, o digital mudaram completamente a forma de trabalhar, mas nunca apagaram a sua paixão pela captura de momentos. Os rolos das máquinas fotográficas eram mandados para Lisboa, para revelar, e minimizava-se os erros na altura de carregar no botão. “Chegámos a representar Samora Correia no Porto, no Festival de Animação, em Espinho e também em França. Lembro-me de entrarmos numa sala em Annecy e toda a gente bater palmas porque éramos os representantes de Portugal”, recorda.

Passagem do tempo guardada nos arquivos
Na sua casa em Samora Correia, Joaquim Correia tem as ferramentas de trabalho: três ecrãs de computador, dezenas de imagens e vídeos guardados em discos, um leitor de VHS e DVD. Muito do material que tem está ligado à tauromaquia, com centenas de largadas de toiros e fotografias dos animais no campo. “Vivo mesmo o movimento dos toiros, conheço-os bem. Tenho muitas aventuras no campo como estar preso dentro da lama e os toiros olharem para nós. Algumas situações tínhamos de reagir e fugir”, relembra.
O fotógrafo colabora desde há vários anos com o encenador, actor e dinamizador cultural do município de Benavente, Joaquim Salvador. Já foi até aos Açores com o grupo de teatro e chegou a fazer projecção de vídeo numa das peças, além de colaborar nas rábulas. Desde há quatro anos que colabora também com a Junta de Freguesia de Samora Correia. Há 20 anos filmou o Festival de Gastronomia da Lezíria Ribatejana e perguntaram-lhe que interesse tinha filmar pessoas a comer. Passadas duas décadas publicou o vídeo nas redes sociais e foi um sucesso. “As pessoas reconheciam-se, mas tudo tinha mudado: os penteados, a decoração das tasquinhas. É uma recordação daquele tempo. Tenho também muita coisa de festas, nomeadamente de Samora Correia e carnavais”, diz.

Fintou a morte e contina a fotografar
Trabalhou numa bomba de combustível, numa fábrica de tubos de rega e 17 anos na Opel de Azambuja, onde trabalhava com publicidade e marketing. Em paralelo dedicava-se à fotografia e vídeo. Em 2018 esteve à beira da morte devido a um tumor no pâncreas e passou por uma longa recuperação, incluindo cirurgia e quimioterapia. Ficou com mazelas para a vida, nomeadamente ao nível da mobilidade, e ficou reformado por invalidez com incapacidade de 65%. Mesmo assim, manteve o espírito positivo. “Quando acordei nunca mais me senti negativo. Porque a vida são dois dias. Apesar da situação senti-me tranquilo, até porque quando estava no hospital tive muitas visitas de pessoas da terra. Chegaram a proibir as visitas porque era muito movimento”, conta.
A solidariedade das pessoas e o carinho manifestaram-se quando a máquina fotográfica de Joaquim Correia avariou. Sem o seu conhecimento, o amigo Paulo Vale lançou uma campanha de solidariedade através das redes sociais para se angariarem verbas para a compra de novo equipamento. Em quatro dias a campanha teve de terminar porque a conta já ultrapassava os 4 mil euros, valor que foi gasto numa nova máquina fotográfica e numa nova lente. “Foi incrível, uma onda de solidariedade muito grande. Está no meu coração e significa que as pessoas reconhecem o meu trabalho”, sublinha.

O cameraman que domina o YouTube

Joaquim Correia ri-se e diz que se tornou “influencer” sem ter noção do conceito. O seu canal no YouTube conta com mais de 12 mil seguidores e, por causa das visualizações de alguns vídeos das largadas de toiros, já foi pago pela rede social. Diz-se surpreendido como as festas de Samora Correia despertam tanto interesse, não só de emigrantes mas também de espanhóis e franceses, por exemplo. Também conta que ficou admirado quando, nas largadas de toiros, as crianças e jovens lhe pedem autógrafos, como se fosse um cantor.
“Tal como acontece com as fotografias, às vezes não acho graça nenhuma e, no entanto, as pessoas gostam. Tento sempre pôr qualidade, especialmente nas fotografias. Todas são editadas, mas às vezes as pessoas pressionam porque não têm noção do trabalho que dá e do tempo que levo. Há dias com duas mil, três mil fotos, e não se consegue fazer tudo num só dia. Quando a cabeça está cansada, preciso de me afastar do computador”, explica.

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