Ceboleiros mantêm viva a tradição na FRIMOR em Rio Maior





A FRIMOR volta a encher, até domingo, o Pavilhão Multiusos de Rio Maior de aromas e sabores, reunindo ceboleiros de Alvorninha que trouxeram a sua suculenta cebola. Para além da cebola, esteve também em destaque o pão de Rio Maior, com padeiros e padarias locais a ter, pela primeira vez, um espaço só deles.
A FRIMOR – Feira Nacional da Cebola voltou a encher o Pavilhão Multiusos de Rio Maior e a zona envolvente de cor, aromas e movimento, mas são os ceboleiros de Alvorninha, nas Caldas da Rainha, que continuam a dar alma ao certame. Entre os corredores cheios de visitantes e o cheiro intenso da cebola recém-colhida, sobressaem as vozes dos vendedores que há gerações se dedicam a esta cultura.
Ilídio Bernardino, de 60 anos, é um dos muitos ceboleiros ávidos da feira, que frequenta desde os dez anos, primeiro ao lado do pai e, há 18 anos, com banca própria. Para ele, a diferença das cebolas de Alvorninha está no sabor, sendo a cebola da sua terra “tenra, suculenta e carregada de sumo”, bem distante das variedades rijas que “parecem de ferro”. Apesar da experiência vasta na área, o vendedor reconhece que a agricultura é cada vez mais incerta. A crise que motivou a vinda da Troika fê-lo abandonar o trabalho que tinha numa fábrica de louças e mergulhar a fundo no campo, onde a instabilidade do clima dita a sorte de cada semente.
Este ano, Ilídio Bernardino salienta que a batata sofreu com os extremos de frio e calor, mas que a cebola resistiu melhor e que continua a ser de boa qualidade. Mesmo assim, o agricultor afirma que o risco continua presente. Num ano os produtos podem render e no outro podem ser sinónimo de perda e prejuízo. Entre os clientes mais frequentes da FRIMOR, o vendedor afirma que há “um pouco de tudo”, desde gente da região, visitantes de fora e sobretudo muitos emigrantes, que compram sempre produtos “quase como lembrança de Portugal”.
Também Maria do Céu encontrou no campo uma forma de vida desde jovem e depois de duas décadas na indústria do calçado, regressou à agricultura há dez anos. Vende cebolas e outros produtos agrícolas na FRIMOR desde 2017 e divide o tempo entre o trabalho agrícola e o trabalho no serviço doméstico, pois como diz, “viver só da agricultura é muito difícil”. Este ano, para Maria do Céu a colheita também não foi das melhores, devido ao Inverno duro. “A verdade é que as sementes já não tão boas como antigamente. E depois, com um Inverno duro como o deste ano, as colheitas foram muito afectadas”, ressalta. Ainda assim, a vendedora mantém-se fiel à colheita dos seus produtos, que vão além da cebola, sendo a sua motivação o gosto pela terra, mesmo sabendo que é uma vida exigente.
Pão de Rio Maior em destaque
Se a cebola é a alma da FRIMOR, este ano o pão de Rio Maior ganhou um protagonismo especial, com um espaço dedicado às padarias e padeiros locais. Um orgulho partilhado por Déborah Barbosa, CEO da Panificadora Costa & Ferreira, que vê nesta decisão uma forma de valorizar um produto que já atravessou fronteiras. Para ela, o tradicional pão de Rio Maior, de 450 gramas, continua a ser o mais procurado pelos consumidores, mas as inovações, como o pão de forma brioche ou o pão escuro com sementes, têm conquistado cada vez mais clientes. O contínuo sucesso da panificadora, garante, está na tradição de cozer o pão a lenha em fornos de alvenaria, sem corantes nem conservantes, tal como era há 35 anos.
No entanto, nem todos os padeiros ficaram totalmente satisfeitos com a organização dada às bancas de pão. António Coelho, da Alvorada Talentos Padaria, lamentou a separação das bancas, com algumas no interior e outras no exterior e considerou que todas deviam estar juntas para dar ainda mais força ao sector. Acrescentou que algumas padarias desistiram de participar ao aperceberem-se da disposição das barracas. Padeiro desde os 16 anos, mantém desde 2010 a sua padaria no concelho de Rio Maior e continua a apostar no pão como um dos símbolos da região, salientando que, apesar das críticas à organização, a ideia de dar destaque ao pão do concelho é uma boa iniciativa, esperando que se repita.
Já Vítor Pereira, da Roulote Pão com Todos, vê na feira a continuação de uma tradição familiar que já dura há décadas. Cresceu a ver o pai fazer pão e garante que este foi um dos primeiros em Portugal a lançar a moda do pão com chouriço. Hoje percorre o país em food trucks, levando consigo o pão e nome de Rio Maior, mas mantendo sempre na FRIMOR uma paragem obrigatória. Para ele, o destaque dado ao pão este ano é um justo reconhecimento a um dos maiores produtos do concelho.