Cultura | 06-09-2025 12:00

Lázaro Menino: um jovem de Santarém a fazer pela vida no mundo da música

Lázaro Menino: um jovem de Santarém a fazer pela vida no mundo da música
Lázaro Menino - foto O MIRANTE

Lázaro Menino, músico de Santarém, enfrenta com resiliência e persistência as dificuldades de viver da arte em Portugal. Entre sacrifícios financeiros e a necessidade de ser multifacetado, mantém o sonho vivo de conquistar palcos maiores sem perder a identidade artística.

Ser músico nunca foi um caminho fácil e para os jovens que dão os primeiros passos a realidade é ainda mais dura. Entre os custos elevados de produção, a falta de apoios consistentes e a pressão para criar conteúdos que “vendam” nas plataformas digitais, muitos acabam por desistir antes de alcançar algum reconhecimento. Outros, como Lázaro Menino, 25 anos, natural de Santarém, fazem da persistência uma arma contra as dificuldades.
A música sempre esteve presente na vida de Lázaro. Começou a cantar em criança, inspirado pela mãe e pelo avô maestro, e nunca se imaginou a seguir outro caminho. “Acho que nunca tive outra vocação ou sonho além da música”, confessa. No ensino secundário escolheu multimédia já a pensar em complementar a carreira musical com edição de vídeos e, mais tarde, ingressou na ETIC, em Lisboa, para estudar Criação e Produção Musical. A entrada na faculdade foi o ponto de não retorno, em que a decisão de seguir a música como profissão estava tomada, mas a realidade de fazer música rapidamente se impôs. “Em Portugal, como se sabe, é um bocado difícil viver da música, mas o segredo é não desistir. É como estar numa fila gigante: se fores consistente, uns vão saindo e um dia chegas ao primeiro lugar”, destaca.

O impulso do The Voice e o custo de lançar música
Com a participação no The Voice Portugal a vida de Lázaro Menino deu uma reviravolta em 2020, quando foi convidado para participar no programa, tendo chegado à fase dos tira-teimas, já em directo na televisão. A experiência foi marcante. E apesar da ansiedade de cantar em directo para milhões, o jovem músico ganhou bagagem de palco. Daí nasceu um contrato com a editora Universal Music, que lhe abriu portas ao mundo profissional. “Acho que o contrato com a Universal foi o que mais me colocou dentro da indústria, pois o grande público pode ainda não me conhecer, mas ganhei contactos, o que é importante”, sublinha.
Porém, chegar a esse ponto não significa estabilidade, pois segundo Lázaro Menino produzir uma música com qualidade profissional implica um investimento avultado. “Uma produção ronda os 1000 euros, depois mais 200€ para mistura e masterização, mais cerca de 1000€ para o vídeo. E isso é o mínimo”, explica. Para conseguir suportar estes custos, mantém outro emprego como chefe de turno no restaurante H3 em Santarém, em que o ordenado serve, quase todo, para financiar a carreira musical.
Além do esforço financeiro, o jovem músico explica que os artistas hoje têm de ser multifacetados e terem competências em edição de vídeo, serem gestores de conteúdo, criadores de imagem e até mesmo influencers. “Hoje em dia não chega cantar bem. Tens de saber editar, escolher o guarda-roupa, pensar na estética do vídeo. Há quem contrate pessoas para fazer isso tudo, mas quem está a começar tem de aprender a fazer muito sozinho”, diz.
A pressão é constante, em que desistir e largar tudo é um pensamento diário, mas o jovem garante que nunca abandonaria a música, mesmo que não fosse financeiramente sustentável. O músico salienta ainda que viver em Santarém coloca mais um desafio devido à distância cultural e musical entre os grandes centros urbanos como Lisboa e outras cidades do país. “A maior parte do que faço é em Lisboa, pois é onde a indústria está em peso. Acho que devia haver mais iniciativas locais para artistas jovens da região, seja em Santarém, como nas outras cidades”, sugere.

Novos caminhos e novas sonoridades
Depois de lançar o single Camomila, com a Universal, em 2022, que passou em rádios nacionais, Lázaro Menino percebeu que estava a perder a sua essência ao tentar seguir apenas os sons mais comerciais e hoje procura reinventar-se, aproximando-se de géneros urbanos como o R&B, o hip hop ou até o reggaeton. “Senti que estava a fugir daquilo com o que me identifico musicalmente, então decidi mudar de estilo. Prefiro construir uma base de fãs fiel, mesmo que demore mais a ter sucesso”, afirma.
Isso resultou no lançamento do seu EP “Eu Nem Queria Falar de Amor” em Maio, sendo o próximo passo apresentar o EP no Tokyo Lisboa, em Outubro, num concerto que irá organizar por conta própria. As metas para o futuro também já estão traçadas: em 2028, sonha já estar a fazer coliseus, e em 2030 gostava de tocar no Altice Arena. Até lá, a “fila gigante” da música portuguesa continua e Lázaro Menino insiste em não desistir do seu lugar.

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