Cultura | 07-09-2025 15:00

David Mourato regressa a Samora Correia para partilhar experiências no Cine Tejo

David Mourato regressa a Samora Correia para partilhar experiências no Cine Tejo
David Mourato vai participar numa masterclass  de animação no próximo dia 6 de Setembro no Cine-Teatro de Benavente, num festival de curtas - foto DR

O animador de personagens 3D David Mourato, nascido em Vila Franca de Xira e que viveu em Samora Correia, regressa em Setembro ao concelho de Benavente para uma masterclass no Cine Tejo - Festival Internacional de Curtas. Diz que é especial voltar às origens, pois foi no Ribatejo que nasceram os primeiros projectos colectivos que lhe abriram portas nesse mundo.

“Se não existe, cria”. É esta a mensagem que David Mourato quer deixar aos jovens que vão assistir à masterclass de animação que vai orientar no Cine Tejo - Festival Internacional de Curtas, a decorrer entre 5 e 7 de Setembro em Benavente e Samora Correia. Aos 41 anos, o animador soma mais de uma década de experiência em produções internacionais, mas não esquece as raízes ribatejanas que, diz, o moldaram.
Nasceu em Vila Franca de Xira e residiu em Vialonga até aos 10 anos. Estudou na sua infância e adolescência em Samora Correia e foi durante a juventude que descobriu a paixão pela criação gráfica no Photoshop, ainda no secundário, ao mesmo tempo que partilhava trabalhos online com amigos e com o irmão, Cristiano Mourato, também animador em 2D e stop-motion. Seguiu depois para a Escola Superior de Artes e Design (ESAD), nas Caldas da Rainha, onde conheceu professores como o samorense Fernando Galrito, director do Festival Monstra, e cedo percebeu que o caminho seria a animação 3D. “Para mim, os professores eram como clientes: as notas eram o pagamento”, recorda, sublinhando o sentido de exigência com que encarou a formação.
A carreira levou-o a colaborar em estúdios como a Axis, que tem sede em Glasgow, para quem trabalhou cinco anos, e a Fortiche, em Paris, onde integrou a equipa da série Arcane, da Netflix, baseada no universo do videojogo League of Legends, vencedora de vários prémios Emmy. Passou também pela Blur, responsável por produções na área do cinema e dos videojogos.
Hoje, vive nas Caldas da Rainha e trabalha como freelancer em animação para jogos e séries, mas não esconde o simbolismo de regressar à terra onde cresceu. “É especial voltar às origens. Foi no Ribatejo que nasceram os primeiros projectos colectivos que me abriram portas. O município cedeu-nos um espaço no centro cultural, fizemos parcerias com a universidade sénior e a nossa forma de pagamento em troca do espaço onde podíamos trabalhar era oferecer workshops à comunidade”, diz, em referência ao Colectivo Bambu, espaço de co-work criativo que dinamizou com colegas no início da carreira.

“O importante é sermos a nossa melhor versão”
No Cine Tejo, a sua masterclass vai centrar-se não apenas em técnicas, mas também no percurso pessoal e nos desafios de uma indústria que considera estimulante e precária ao mesmo tempo. “Há sempre alguém melhor em qualquer parte do mundo, mas o importante é sermos a nossa melhor versão e continuarmos a aprender”, defende. Em França, como refere, existe o estatuto de “intermitente”, que protege melhor os artistas. Em Portugal essa estrutura não existe, é tudo mais precário, o que o obriga a planear os seus trabalhos com cuidado ou a evitar créditos bancários.
Como animador admite que o grande desafio é dar emoção e fazer esquecer quem vê ou joga que está perante um boneco digital. David prefere cenas de acção. E todos os pormenores contam para um bom trabalho, mesmo que isso implique, por exemplo, estudar como é que os ursos ou tigres sobem às árvores.
Sobre o impacto da inteligência artificial, David Mourato assume preocupação, mas também curiosidade. “Se a IA automatizar tarefas técnicas, liberta-nos para a parte criativa. O que é preciso é haver regulação para proteger os artistas. O 2D não desapareceu com o 3D; coexistem. Talvez aconteça o mesmo com a IA”, diz. Com um percurso que alia técnica, emoção e perseverança, o animador ribatejano regressa agora como convidado de um festival que pretende colocar o Ribatejo no mapa do cinema internacional.

A ligação a Samora Correia através de amizades e do taekwondo

David Mourato nasceu a 12 de Maio de 1984, em Vila Franca de Xira, e cresceu em Samora Correia. É licenciado pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e completou ainda formações online de animação 3D em escolas internacionais como a Animation Mentor e a iAnimate. Ao longo da carreira passou por estúdios de referência como a Axis Studios, em Glasgow, a Fortiche, em Paris, e a Blur, em Los Angeles, onde trabalhou em projectos de grande visibilidade mundial. Entre eles está a série Arcane, produzida para a Netflix, que lhe valeu reconhecimento internacional. Actualmente vive nas Caldas da Rainha, onde trabalha como freelancer, mas mantém a ligação a Samora Correia através de amizades e da prática do taekwondo, modalidade que começou em jovem e continua a integrar em estágios anuais promovidos pelo mestre António Medeiros. Hoje já não se identifica tanto com a cultura taurina, é adepto de caminhadas e gosta de cozinhar para os amigos nos tempos livres.

Cine Tejo estreia em Benavente e Samora com 65 curtas e nove prémios

A primeira edição do Cine Tejo - Festival Internacional de Curtas realiza-se entre 5 e 7 de Setembro no Cine-Teatro de Benavente e no Centro Cultural de Samora Correia, com entrada gratuita. O festival contará com a exibição de 65 curtas-metragens seleccionadas de um total de 345 submissões e vai atribuir nove prémios, com valores entre 200 e mil euros, destacando-se o Grande Prémio Cine Tejo. Haverá ainda distinções para melhor actriz, prémio Maria João Bastos, melhor animação, prémio Fernando Galrito, melhor realização e melhor curta de realidade virtual - 360º, categoria que poderá ser experienciada com recurso a óculos próprios.
Além das competições, o Cine Tejo aposta também em momentos de partilha e formação. Estão programadas três masterclasses: de animação, com David Mourato; de realização, com Miguel Cardoso e João Pupo; e de produção, com Luís Santos.

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