Cultura | 13-09-2025 21:00

As memórias de Clotilde Sentieiro deram um livro que evoca o passado de Vila do Paço

As memórias de Clotilde Sentieiro deram um livro que evoca o passado de Vila do Paço
Clotilde Sentieiro, 75 anos - foto O MIRANTE

Moradora de Vila do Paço, em Torres Novas, apresentou o livro “As minhas gratas memórias” na sua aldeia natal. Clotilde Sentieiro foi presidente da Sociedade Filarmónica e Recreativa de Vila do Paço. O MIRANTE esteve na casa da autora para uma conversa reveladora.

As memórias de uma vida passada na aldeia de Vila do Paço, freguesia de Olaia e Paço, concelho de Torres Novas, deram substância ao livro “As minhas gratas memórias”, recentemente lançado por Clotilde Sentieiro, 75 anos. Com 360 páginas, a obra conta histórias dos antepassados e vivências mais recentes da localidade em que a autora foi presidente da Sociedade Filarmónica e Recreativa de Vila do Paço. O MIRANTE esteve na casa de Clotilde Sentieiro para uma conversa onde se falou sobre o livro e a história de vida da autora.
Sentada à mesa de jantar da sala de estar, Clotilde Sentieiro começou por referir que demorou oito anos a escrever o livro. A autora conta que sempre teve um grande interesse pelos antepassados da aldeia, mas que não existiam documentos onde se pudesse informar. O que sabia era o que ia ouvindo dos seus pais e de outras pessoas da aldeia quando era mais nova. “Contavam que esta terra antigamente era um pólo de trabalhadores, onde existia uma firma muito grande, com armazéns de vinho e de azeite, muitas propriedades e muita gente a trabalhar”, explica.
Clotilde Sentieiro diz que sentiu a necessidade de partilhar o que sabia sobre a sua terra, tendo assim surgido a ideia de escrever um livro. “Disse que não vou morrer e levar tudo comigo, eu tenho que deixar pelo menos um legado à minha neta, que tem 14 anos”, afirma com um brilho no olhar. Sublinha que toda a informação presente no livro vai sendo ilustrada com imagens, afirmando que tem mais de mil fotografias em casa, que foi guardando ao longo da vida. O livro foi lançado numa cerimónia simbólica, realizada na Sociedade Filarmónica e Recreativa de Vila do Paço no domingo, 7 de Setembro. O local para o lançamento da obra não podia ser outro, até porque Clotilde Sentieiro foi presidente da colectividade durante 18 anos.

Venceu cancro da mama e pancreatite aguda
O MIRANTE quis conhecer melhor a história de vida de Clotilde Sentieiro. A escritora de 75 anos conta que nasceu e cresceu na aldeia de Vila do Paço. Andou na escola até à quarta classe. Aos 10 anos recebeu o primeiro ordenado, tendo trabalhado no campo até aos 21 anos. Depois trabalhou numa fábrica de malhas e numa fábrica de frutos secos. Cresceu com a mãe e com o pai e com os seus 10 irmãos. A sua infância foi marcada pela morte, visto que muitos dos seus irmãos faleceram com poucos anos de vida. “Uma menina nasceu morta, outra morreu ao fim de oito dias e outra morreu aos dois anos e meio com meningite”, conta. Quatro dos seus irmãos nasceram deficientes, um morreu com 12 anos, outro com 21, outro com 28 e o último aos 54. Ainda teve dois irmãos surdos mudos. “Tenho muita pena da minha mãe, os meus pais devem ter passado muito a ver os filhos a morrerem à frente deles”, diz.
Clotilde Sentieiro também já teve alguns problemas de saúde. Aos 45 anos foi diagnosticada com cancro da mama. Pouco tempo depois, teve uma pancreatite aguda que a obrigou a ficar oito dias internada no hospital. Também já apanhou alguns sustos com o seu marido, que teve um cancro nos intestinos, no fígado e dois na cara. “Eu digo que a fé tem sido o meu baluarte, a gente tem tido problemas de saúde, mas a força e a fé para ir em frente têm sido essenciais. Felizmente conseguimos superar tudo e estamos bem”, afirma sorridente.

Vila do Paço já não é o que era

Com cerca de 200 habitantes, a aldeia de Vila do Paço já não é o que era, pelo menos é o que considera Clotilde Sentieiro. A escritora recorda que antigamente a localidade tinha correios, uma loja grande, dois talhos, padaria, escolas, posto médico e junta. “Hoje não tem nada, fechou tudo. Só temos um supermercado que abriu há poucos anos, depois é só a capela e a colectividade”, refere. Clotilde Sentieiro diz que quando precisa de ir ao médico ou a outro local tem de pedir boleia à filha. Já foi uma figura muito activa na aldeia, mas hoje Clotilde Sentieiro fica mais por casa. Acorda antes do sol nascer, trata dos afazeres em casa, faz renda, reza, canta, lê, escreve e vê televisão.

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