Festival de Setembro celebrou a imigração em Ourém

Entre as várias actividades realizadas no Festival de Setembro, que teve como palco a Vila Medieval de Ourém, destaque para a participação de imigrantes residentes no concelho. O MIRANTE conversou com duas imigrantes oriundas de Cabo Verde e da China.
A Vila Medieval de Ourém foi palco para mais uma edição do Festival de Setembro. Este ano, o festival organizado pela Câmara de Ourém pretendeu celebrar a imigração, a criação e o encontro. Ao longo de três dias não faltaram momentos de música e performances, literatura e conferências, cinema, exposições, gastronomia e brincadeiras. Entre as várias actividades promovidas, salienta-se o envolvimento de imigrantes residentes em Ourém, que além de partilharem os seus testemunhos de vida, também deram a conhecer um pouco dos seus países de origem. O MIRANTE esteve no Festival de Setembro e conversou com duas imigrantes, oriundas de Cabo Verde e da China.
Kátia Rocha, 31 anos, é natural de Cabo Verde, mas está a morar no concelho de Ourém, desde Maio de 2024. Veio para Portugal ao encontro do marido, que trabalha num hotel em Fátima. Embora tenha muitos familiares a viver em Lisboa, diz que nunca tinha vindo a Portugal antes. Kátia Rocha nasceu e cresceu em Cabo Verde, sempre trabalhou na área da restauração, assumindo-se como uma apaixonada por cozinha. “Desde pequena que cozinho. Aprendi com a minha mãe que é uma cozinheira de mão cheia. E mais tarde fui fazer um curso profissional nessa área”, conta. Actualmente não está empregada porque está a cuidar do seu filho que tem apenas seis meses.
A imigrante cabo-verdiana afirma que gosta de viver em Fátima porque é uma cidade muito calma e tranquila, referindo mesmo que não trocaria por outro lugar em Portugal. Sobre a adaptação ao país, diz que não sentiu muitas dificuldades, apontando a adaptação ao clima como o maior desafio, principalmente no Inverno. A morar num apartamento em Fátima, com o marido e o filho, Kátia Rocha explica que vai com regularidade ao Santuário. “Costumo ir aos domingos à missa, tenho muita fé. A fé tem sido muito importante na minha vida”, sublinha. A cozinheira garante que não se arrepende de ter emigrado, sendo mesmo um objectivo que já tinha há alguns anos. Participou no Festival de Setembro como protagonista de um workshop sobre cachupa e gastronomia cabo Verdiana. “Gostei muito, teve muita adesão. As pessoas gostaram e queriam muito provar a comida”, conta sorridente.
Veio da China à procura de uma vida melhor
Chunqin Yang, 41 anos, natural da China, mudou-se para Portugal em 2000 em busca de uma vida melhor. Tendo estudado na China, aos 16 anos decidiu mudar-se para Portugal, onde já tinha família a residir. Começou por trabalhar como empregada de balcão, abrindo depois algumas lojas suas para venda de produtos chineses. Afirma que a adaptação a Portugal foi boa, tendo mesmo aprendido sozinha a falar português. É casada e tem dois filhos, estando a morar em Ourém desde Abril, data em que abriu uma loja na cidade. Refere que está a gostar de viver e trabalhar em Ourém. “Portugal é completamente diferente da China, o trabalho é mais calmo, na China é tudo a despachar”, conta bem-disposta.
A cidadã chinesa afirma que não imagina, para já, a vida fora de Portugal, assumindo, no entanto, que gostava de voltar à China quando for mais velha, na reforma. Embora tenha trabalhado sempre na área do comércio, Chunqin Yang conta que em criança sonhava ser professora. “Ainda hoje gostava, mas já é tarde. Gosto de ensinar os outros, sempre gostei”, diz com um sorriso. A comerciante assume que já sofreu de xenofobia em Portugal. “Às vezes oiço as pessoas a chamarem-me de chinoca, é maldade. Hoje já está melhor, no início é que sentia mais, muita gente não aceitava os chineses. Sentia-me triste quando me chamavam nomes, ninguém gosta de ouvir”, afirma. Sobre o Festival de Setembro, Chunqin Yang não poupa nos elogios, considerando uma excelente ideia juntar os imigrantes em torno do evento.
Presidente da Câmara de Ourém deu as boas-vindas aos participantes
O Festival de Setembro arrancou com uma sessão de boas-vindas, que teve lugar no Auditório do Paço dos Condes. A sessão contou com a presença do presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque (PSD), entre outros autarcas e entidades. No seu discurso, Luís Albuquerque referiu que Ourém é um local de muitos imigrantes, afirmando que existem mais de 50 nacionalidades no concelho. O autarca explicou que a edição deste ano foi dedicada aos imigrantes, sendo que o objectivo era que pudessem partilhar no evento as suas experiências e costumes. “Esperamos que a Vila Medieval seja um espaço vivo e de convívio, onde todos se possam sentir bem e onde todos possam querer voltar no futuro”, sublinhou.