Cultura | 29-09-2025 15:00

Céu Duarte luta para que Casa do Albardeiro ganhe novo fôlego

Céu Duarte luta para que Casa do Albardeiro ganhe novo fôlego
Céu Duarte vai continuar a lutar pela Casa do Albardeiro e espera que o projecto reabra na aldeia da Paúla - foto O MIRANTE

O projecto da Casa do Albardeiro, na aldeia de Paúla, continua parado e aguarda nova vida com o apoio da Câmara de Alenquer e da Junta de Freguesia de Cabanas de Torres. Céu Duarte, professora e natural da aldeia, dedicou a vida a recolher e preservar objectos, tradições e memórias da comunidade.

Céu Duarte nasceu em 1961, na aldeia de Paúla, freguesia de Cabanas de Torres, Alenquer, numa época em que ainda não havia energia eléctrica nem água canalizada. Cresceu a celebrar os santos populares com fogueiras no chão de terra e acompanhou as transformações ao longo dos anos. Na aldeia, a linguagem sempre foi mais arcaica em relação à zona sul do concelho, explica a professora de português, que foi a primeira mulher da aldeia a licenciar-se.
A paixão pela memória materializou-se num projecto que há muito zela: a Casa do Albardeiro, espaço etnográfico criado a partir do espólio herdado da família, a que se foram juntando muitos outros objectos recolhidos na comunidade, bem como outros que foi comprando na Internet e em feiras. A casa, que pertenceu ao bisavô albardeiro, foi adaptada, com a ajuda do marido Marcial Machado, para acolher exposições e recriar ambientes da escola, da mercearia, da agricultura e dos ofícios tradicionais, como os moleiros, sapateiros e tecedeiras. “Sempre disse que não me desfazia das coisas. São as minhas raízes, a minha história, as minhas memórias e não sou capaz de me desfazer delas”, disse a O MIRANTE.
Actualmente, o espólio ultrapassa os dois mil artigos, muitos guardados no sótão e em arrecadações, e encontra-se em risco de se degradar. “Um dos que tenho maior estima, por ser professora, é uma carteira de madeira que tem mais de cem anos e já ganhou caruncho. Tenho tecidos, documentos, fotografias e até objectos relacionados com a 1ª Guerra Mundial”, refere.

Projecto pendente de obras e apoio dos autarcas
Com a criação da página de Facebook em 2012, a Casa do Albardeiro ganhou visibilidade. O espaço integrou as Jornadas Europeias do Património, a convite da Câmara de Alenquer, organizou noites do conto e desfolhadas e recebeu visitantes sempre que solicitado. No entanto, a pandemia e a morte dos pais levaram Céu Duarte a suspender a dinamização. “Nessa altura, pensei entregar o espólio à comunidade e pedi ajuda à presidente da junta, Rosa Brandão, e o apoio da câmara. Sinceramente, esperava que houvesse incentivo para que as escolas do concelho visitassem o espaço e para me colocar em contacto com os meus colegas professores, de forma a criarmos uma dinâmica e actividades. Nunca aconteceu”, lamenta.
Céu Duarte tem esperança de que, após as eleições autárquicas, os novos executivos da câmara e da junta não deixem o projecto de lado. Continua a contar com o apoio de Rosa Brandão, até porque a autarca disponibilizou um espaço na Paúla que estava subaproveitado e que pode ser transformado no museu etnográfico. A câmara chegou a visitar o espaço, que precisa de pequenas obras, mas nada chegou a concretizar-se.
A professora não tem filhos e gostava de deixar as memórias para outras crianças, e refere que está prestes a reformar-se, pelo que vai ter total disponibilidade para a Casa do Albardeiro.

Cada objecto conta uma história

No dia em que a Casa do Albardeiro abriu, pela primeira vez, as portas, em 2017, uma idosa da aldeia recriou o benzer de uma criança e fez o que antigamente se chamava “virar o bucho”, utilizando folha de couve, azeite e rezas. A mercearia está recheada de objectos e produtos que Céu Duarte comprou na baixa de Lisboa, onde falou com antigos proprietários sobre o que mais se vendia noutras épocas. Os objectos e utensílios que guarda são de até aos anos 70, incluindo um caixão, que, apesar do nome, se refere a uma arca de grande porte onde se guardavam os cereais.
A professora nunca deitava nada fora e, nas gavetas de casa, era possível encontrar o seu passe da rodoviária, quando andava na escola primária, ou o pote do albardeiro exposto em casa. “O meu marido, quando via alguma coisa mais antiga fora das gavetas, dizia que não queria a nossa casa transformada num museu (risos). Lembro-me de um pote que o meu bisavô trouxe às costas de uma feira em Vila Franca de Xira e eu gosto muito. Coloquei umas flores e ficou à vista em casa”, recorda.

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