Artesãos do Sardoal dão vida à Feira de Artesanato nas festas do concelho

Feira de Artesanato das festas do concelho de Sardoal, integrada nas comemorações dos 494 anos da elevação da vila, reuniu dezenas de criadores locais e regionais. Entre eles destacaram-se três artesãos sardoalenses: “Frank O Mudo”, Maria Teresa Gomes e “Miss Pink”.
As Festas do Concelho de Sardoal, que este ano celebraram os 494 anos da elevação da vila, voltaram a encher as ruas do centro histórico de cor, música, sabores e tradições. Entre os vários espaços de animação, a Feira de Artesanato destacou-se como ponto de encontro entre gerações e saberes, juntando dezenas de expositores locais e regionais, onde, mais do que simples bancas de venda, o certame revelou histórias de vida, percursos de persistência e formas únicas de expressão artística. Entre os participantes estiveram três artesãos sardoalenses que deram rosto à diversidade criativa do concelho.
Francisco Sousa, que assina como “Frank O Mudo”, apresentou um trabalho pouco convencional, baseado na transformação da linguagem das mãos em arte. Francisco é ilustrador e um dia, enquanto trabalhava num projecto, começou a desenhar mãos. Assim surgiu a ligação ao seu nome artístico: “chamo-me assim porque me expresso através das mãos. Não sou realmente mudo”, explica a O MIRANTE. Gostou da ideia, percebeu que podia levá-la mais longe e “hoje é uma forma de se expressar sem ser pelas palavras ou pela voz”, refere. Há cinco anos que se dedica a este conceito, mas o seu percurso é diversificado: desenha fanart, faz colagens digitais e até colabora em ilustrações para livros infantis. O processo criativo começa num caderno, onde desenha e experimenta, e só depois passa ao computador para dar forma final às ilustrações. Grande parte das vendas acontece online e através de galerias, em particular na Águas Furtadas, no Porto, com quem mantém uma relação regular. Conta que actualmente está em conversações com mais duas galerias na zona e que gostava também de se expandir para Lisboa. Apesar disso, valoriza os mercados locais e as feiras de artesanato.
Para Maria Teresa Esperto Gomes a costura é um ofício que lhe traz muitas memórias. Começou como um passatempo há mais de quarenta anos e acabou por se transformar no seu trabalho a tempo inteiro, onde cria e costura malas, carteiras, pegas, sacos: “tudo feito por mim, peça a peça. Trabalho sobretudo por encomenda, mas também vendo através das redes sociais e, sobretudo, do espaço Cá da Terra”, explica. O espaço, dinamizado pela câmara municipal, tem sido fundamental na valorização dos artesãos locais, reunindo não só peças de costura, mas também vinhos, doçaria, ilustrações e publicações ligadas ao território, onde os visitantes conhecem e compram o que é feito e produzido no Sardoal. Também organiza demonstrações e workshops, o que ajuda a manter a ligação à história e à cultura do concelho. Maria Teresa continua a trabalhar a partir de casa e cada peça que cria carrega um traço de dedicação e proximidade com as pessoas.
A história de Ruth Ribeiro, que muitos conhecem como “Miss Pink”, começou quase por acaso, nas redes sociais. “Tinha criado uma página para vender roupa, mandava vir algumas peças e publicava no Facebook, mas percebi que não estava a resultar. Era preciso muito stock, muitos tamanhos, e eu não tinha verba para isso. Entretanto, para compor as fotografias, punha alguns fios e correntes em cima da roupa e foi aí que vi a diferença: as pessoas queriam era os acessórios”, conta ao nosso jornal. A partir daí decidiu investir na bijuteria, primeiro montando correntes ao seu gosto, depois arriscando em criações próprias. Hoje trabalha sobretudo com aço inoxidável e cerâmica plástica (massa fimo), com peças 100% originais e personalizadas ao gosto do cliente. Foi um caminho natural e de aprendizagem. Apesar de não ter loja física, Ruth mantém presença activa no Facebook e no Instagram, canais que lhe permitem chegar a novos clientes. Mas ao mesmo tempo sonha em ter espaço próprio. Por agora tenciona continuar a “crescer aos poucos”, já que, para Ruth, o importante é que as pessoas saibam que cada peça é feita com cuidado e à medida de quem a vai usar.
Entre ilustrações, costura e bijuteria, os três artesãos mostram que cada criação é também um pedaço da história colectiva. Num ano em que o concelho celebrou 494 anos de elevação a vila, o certame deu corpo à ideia de que a identidade do Sardoal se renova na criatividade dos seus habitantes, afirmando-se na capacidade de transformar tradição, experiência e inovação em arte com assinatura própria.