Cultura | 07-10-2025 21:00

Sociedade Musical Mindense comemora 110 anos e dirigentes têm projectos para o futuro

Sociedade Musical Mindense comemora 110 anos e dirigentes têm projectos para o futuro
Sociedade Musical Mindense comemora 110 anos de actividade em 2025 - foto O MIRANTE

Na Sociedade Musical Mindense as sextas-feiras transformam-se em palco de memórias, risos e notas que atravessam gerações, onde cada músico não toca apenas uma melodia, mas a própria história de Minde. O MIRANTE assistiu a um ensaio e presenciou como a banda é uma família e motivo de orgulho para todos os músicos e dirigentes.

Às sextas-feiras à noite, quando a maioria da população de Minde já repousa, a sede da Sociedade Musical Mindense prepara-se para receber um novo ensaio. Entrando pela porta, um a um, os músicos da única banda filarmónica do concelho de Alcanena, que caminha para os 110 anos de vida. O ensaio de uma das últimas sextas-feiras não fugiu à rotina, estendendo-se até tarde e terminando com um convívio repleto de petiscos, bebidas e música ao som do piano. Contudo, o foco foi particularmente especial, com olhares concentrados e um maestro que guiava todos na preparação para o novo projecto da banda, “Ritmos Outonais”. O projecto, iniciado a 27 de Setembro, decorre ao longo de todo o mês com várias actividades, culminando a 25 de Outubro, no 110.º aniversário da banda, com um grande concerto de celebração.
Segundo o presidente da associação, Emídio Fonseca, de 69 anos, o projecto nasceu “num banco de igreja”, quando o maestro João Gameiro e a filha do presidente, professora de dança, imaginaram um espectáculo que juntasse música, dança e outras colectividades da terra. Desde então, tunas, ranchos e grupos de dança uniram-se para criar um espectáculo colectivo. “Vai ser diferente, com fusão de estilos. Almejamos sempre experimentar e colaborar, em vez de cada um tocar sempre no seu canto”, explica o maestro, que dirige a banda há 22 anos. Liderar uma filarmónica é “equilibrar tradição e modernidade”, não sendo sempre fácil conjugar as personalidades de todos os músicos. “Todos trabalham ou estudam, então é preciso haver flexibilidade e compreensão ao lidar com isso, mas manter o rigor e a dedicação é essencial. Antigamente a palavra filarmónica era vista quase de forma pejorativa na música, mas hoje é motivo de orgulho e devemos honrar isso”, explica.
É esse orgulho que o presidente também cultiva desde que assumiu o cargo há dois anos. Embora nunca tenha sido músico, é sócio há décadas e conhece de perto a importância da banda para a comunidade. Ainda assim, não esconde as dificuldades em manter uma filarmónica viva, em que financiar projectos é caro e manter os jovens interessados é um desafio. “O mais complicado é manter os jovens cá, porque eles depois crescem, vão para a universidade ou trabalho e nós temos de continuamente renovar e formar novos músicos”, explica. Ainda assim, tanto o presidente como o maestro seguem em frente, com os sonhos de levar a banda a tocar em Montreal, no Canadá, onde há muitos mindenses emigrados, e um dia subir a palco com uma banda de rock portuguesa.

O sentimento de família entre músicos
Na sala de ensaios sentam-se músicos de todas as idades, com adolescentes ao lado de veteranos com quarenta anos de prática. Cada um traz a sua história e algumas resumem uma vida inteira nesta casa. Uma delas é a de Anabela Capaz, 53 anos, que entrou na banda em 1983 e foi a primeira rapariga a tocar na banda. “Tirei o meu curso, casei, tive filhos e o ensaio de sexta-feira continua a ser o culminar da semana. Para mim, acaba sempre aqui”, conta, com um sorriso que carrega décadas de memórias. Anabela Capaz viria também a quebrar a barreira de ser a primeira mulher presidente da banda, cargo que exerceu durante 10 anos, com muito orgulho. “O padre Mário, que esteve à frente da banda durante meio século, dizia-me em brincadeira que eu ia ser a primeira presidente e, de certa forma, assumi-o em memória dele”, salienta, descrevendo a sua ligação com a banda como imensurável.
Outro rosto habitual nos ensaios é o saxofonista Paulo Alves, de 52 anos, que entrou na banda aos 10 anos e apesar de se ter afastado durante algum tempo, regressou há uma década, quando foi convidado a participar no centenário. Para Paulo Alves a banda é “um escape”, mas também uma responsabilidade, lembrando como um dos momentos mais marcantes da sua vida o concerto que a banda realizou em França, quando tinha 14 anos. “Quando vamos para fora com o símbolo da filarmónica ao peito, é diferente e cada vez sinto mais o peso e o mérito disso. Aqui somos uma verdadeira família”, salienta. E talvez seja isso que mantém a Sociedade Musical Mindense uma referência há 110 anos. Há quem lhe chame “associação”; há quem lhe chame “filarmónica”; mas para quem entra naquela porta às sextas-feiras à noite, é uma segunda casa.

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