“O Touro Azul”: um espectáculo de Nuno Labau inspirado nas histórias da sua bisavó

Nuno Labau estreia “O Touro Azul”, peça inspirada nas histórias da bisavó Adelaide Nogueira, que ao combinar dança contemporânea, projecções visuais e música original traz à vida um conto sobre um touro azul e a jovem Flor.
Nuno Labau cresceu a ouvir histórias antes de aprender a contar passos. O bailarino natural da Romeira, no concelho de Santarém, iniciou-se no rancho folclórico da localidade aos seis anos e mais tarde seguiu carreira como bailarino profissional em Lisboa. Contudo, apesar de pisar palcos contemporâneos há mais de uma década, nunca se desligou das raízes e agora, aos 39 anos, decide dar corpo a uma das memórias mais marcantes da sua infância: as histórias que a bisavó, Adelaide Nogueira, lhe contava.
É desse legado que surge “O Touro Azul”, espectáculo que estreia a 18 de Outubro e que Nuno Labau criou em parceria com André Vasconcelos e Filipa do Carmo. A dramaturgia é de Samuel F. Pimenta e a narração ficou entregue à tia, Maria José Labau, de 75 anos e neta de Adelaide Nogueira, que ao gravar o conto sentiu-se transportada no tempo. “Ao narrar não ouvia a minha voz, ouvia a voz da minha avó”, revela emocionada a O MIRANTE. O espectáculo parte de uma fábula com dezenas de versões, sobre um touro azul de olhos luminosos que acompanha uma jovem chamada Flor numa jornada de resistência contra a opressão. A peça começa com a narração do conto e transforma-se depois em dança física, projecções visuais, sombras e música original, num universo pensado para crianças a partir dos quatro anos, mas capaz de tocar qualquer adulto com memória de infância.
Nuno Labau explica a O MIRANTE que a ideia nasceu do desejo de homenagear a bisavó e que o processo de adaptação exigiu escolhas cuidadosas, devido ao facto de existirem versões com elementos assustadores ou complexos demais para crianças. A dramaturgia da peça precisou de simplificar o final para manter a clareza da narrativa sem perder a essência da tradição oral, tendo, segundo Nuno Labau, um dos maiores desafios sido transformar a história em movimento e abstração, mantendo a magia e o encanto original do seu conto favorito. “Ao contrário do que muitos pensam, as crianças conseguem envolver-se com peças mais abstratas. Com “O Touro Azul”, queremos revitalizar a imaginação e capacidade delas de criar imagens e histórias a partir de estímulos variados”, explica.
Tanto para Nuno Labau como para Maria José, a preservação das tradições no mundo actual, dominado por tecnologias digitais, é fundamental. O espectáculo mantém a essência das histórias que marcaram a infância deste artista escalabitano e da sua família. O touro azul, símbolo de diferença e força, transforma-se neste espectáculo numa figura de empoderamento, mantendo vivas memórias de infância e oferecendo a novas gerações uma narrativa infantil de forma contemporânea e sensorial. Questionados sobre como Adelaide Nogueira reagiria se visse o espectáculo, ambos os netos concordaram que iria ficar orgulhosa com a recriação de uma história que ela contava com tanto carinho. “Ela resplandecia, ia ficar encantada em ver o bisneto a dar vida a algo que contou durante a sua vida inteira”, diz a tia, com um sorriso no rosto.