Cultura | 21-10-2025 21:00

“O Touro Azul”: um espectáculo de Nuno Labau inspirado nas histórias da sua bisavó

“O Touro Azul”: um espectáculo de Nuno Labau inspirado nas histórias da sua bisavó
Nuno Labau e a tia, Maria José Labau, homenageiam a bisavó com a peça “Touro Azul” - foto O MIRANTE

Nuno Labau estreia “O Touro Azul”, peça inspirada nas histórias da bisavó Adelaide Nogueira, que ao combinar dança contemporânea, projecções visuais e música original traz à vida um conto sobre um touro azul e a jovem Flor.

Nuno Labau cresceu a ouvir histórias antes de aprender a contar passos. O bailarino natural da Romeira, no concelho de Santarém, iniciou-se no rancho folclórico da localidade aos seis anos e mais tarde seguiu carreira como bailarino profissional em Lisboa. Contudo, apesar de pisar palcos contemporâneos há mais de uma década, nunca se desligou das raízes e agora, aos 39 anos, decide dar corpo a uma das memórias mais marcantes da sua infância: as histórias que a bisavó, Adelaide Nogueira, lhe contava.
É desse legado que surge “O Touro Azul”, espectáculo que estreia a 18 de Outubro e que Nuno Labau criou em parceria com André Vasconcelos e Filipa do Carmo. A dramaturgia é de Samuel F. Pimenta e a narração ficou entregue à tia, Maria José Labau, de 75 anos e neta de Adelaide Nogueira, que ao gravar o conto sentiu-se transportada no tempo. “Ao narrar não ouvia a minha voz, ouvia a voz da minha avó”, revela emocionada a O MIRANTE. O espectáculo parte de uma fábula com dezenas de versões, sobre um touro azul de olhos luminosos que acompanha uma jovem chamada Flor numa jornada de resistência contra a opressão. A peça começa com a narração do conto e transforma-se depois em dança física, projecções visuais, sombras e música original, num universo pensado para crianças a partir dos quatro anos, mas capaz de tocar qualquer adulto com memória de infância.
Nuno Labau explica a O MIRANTE que a ideia nasceu do desejo de homenagear a bisavó e que o processo de adaptação exigiu escolhas cuidadosas, devido ao facto de existirem versões com elementos assustadores ou complexos demais para crianças. A dramaturgia da peça precisou de simplificar o final para manter a clareza da narrativa sem perder a essência da tradição oral, tendo, segundo Nuno Labau, um dos maiores desafios sido transformar a história em movimento e abstração, mantendo a magia e o encanto original do seu conto favorito. “Ao contrário do que muitos pensam, as crianças conseguem envolver-se com peças mais abstratas. Com “O Touro Azul”, queremos revitalizar a imaginação e capacidade delas de criar imagens e histórias a partir de estímulos variados”, explica.
Tanto para Nuno Labau como para Maria José, a preservação das tradições no mundo actual, dominado por tecnologias digitais, é fundamental. O espectáculo mantém a essência das histórias que marcaram a infância deste artista escalabitano e da sua família. O touro azul, símbolo de diferença e força, transforma-se neste espectáculo numa figura de empoderamento, mantendo vivas memórias de infância e oferecendo a novas gerações uma narrativa infantil de forma contemporânea e sensorial. Questionados sobre como Adelaide Nogueira reagiria se visse o espectáculo, ambos os netos concordaram que iria ficar orgulhosa com a recriação de uma história que ela contava com tanto carinho. “Ela resplandecia, ia ficar encantada em ver o bisneto a dar vida a algo que contou durante a sua vida inteira”, diz a tia, com um sorriso no rosto.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal