Feiras no Cartaxo continuam a resistir e mantêm-se como ponto de encontro entre comerciantes e comunidade
Apesar da popularização das vendas online, comerciantes garantem que os certames continuam a ser essenciais para criar laços, divulgar produtos e reforçar a economia local.
Na ExpoCartaxo e Feira de Todos os Santos, os comerciantes garantem a O MIRANTE que os certames continuam a valer a pena, mesmo em plena era digital e de compras online. Entre a tradição das vendas cara a cara e a modernização das plataformas na Internet, todos concordam num ponto: nada substitui o contacto humano e de mostrar o produto ao vivo.
Para Filipe Dionísio, 42 anos, natural do Cartaxo e responsável pela empresa Abelhas e Companhia, participar em certames como a ExpoCartaxo é tão emocional quanto estratégico. “Esta feira tem um valor especial para mim, porque como muitos aqui foi a primeira onde promovi os meus produtos”, contou. Apesar de reconhecer que as vendas presenciais já não têm o mesmo peso de antes, considera que “o digital veio ajudar como complemento e não como substituição”, pois as pessoas ainda gostam de ver e comprar cara a cara. “As pessoas compram menos do que antes, mas continuam a dar valor a estes eventos”, sublinhou.
Também Cláudia Santos, 28 anos, da agência de publicidade 100 Escudos, considera que estar presente fisicamente é uma mais-valia, mesmo para quem trabalha sobretudo online. “Nós funcionamos essencialmente na Internet, mas o contacto presencial é diferente, mais especial. Aqui conseguimos falar, mostrar o que fazemos e criar ligações”, explicou. A empresa, criada com o marido, começou com o fabrico de presentes personalizados e evoluiu para uma agência de publicidade e merchandising. “Muitas pessoas que nos conhecem aqui voltam depois a entrar em contacto. É uma forma de chegar a públicos que, no online, talvez nunca nos encontrassem”, contou.
A queda do digital e as desvantagens do online
Vanessa Jorge, 33 anos, criadora da marca Acessórios Vanessa, ainda vai mais longe e diz que o auge do comércio digital já passou. “O online teve um boom na altura da Covid-19, mas agora está a descer a pique. Compensa mais vir a estes eventos do que viver só do online”, afirma. Para a empreendedora, as feiras são também uma forma de divulgar as lojas físicas dos comerciantes e de criar relações duradouras. “Mesmo que a pessoa não compre na hora, leva o cartão e depois visita a loja. Já tive muitos clientes assim”, contou, acrescentando que “a venda pode não vir hoje, mas pode vir daqui a um mês”. Também António Vidigal das Neves, cesteiro de Salvaterra de Magos, garante que o contacto directo com o público é o que mais valoriza e que o meio digital tem as suas limitações. Com 78 anos e mais de sete décadas dedicadas ao artesanato em vime, aprendeu o ofício aos oito anos com o pai e garante que vende mais em certames do que pela Internet. “Aqui as pessoas vêem-me a trabalhar e isso chama a atenção, o que na Internet é difícil, apesar de todas as vantagens que tem”, disse.
Entre a tradição e a tecnologia, os comerciantes da ExpoCartaxo mostram que o segredo está no equilíbrio. O digital abriu novas portas, mas o comércio de feira continua a ser um espaço único de partilha, contacto humano e identidade local.
João Heitor destaca força da tradição e dinamismo económico
Na abertura da ExpoCartaxo e Feira de Todos os Santos, o presidente da Câmara do Cartaxo, João Heitor, sublinhou que os certames “carregam o peso da história, da tradição e da alma do concelho”, sendo um ponto de encontro entre o passado e o futuro. O presidente revelou que esta edição contou com 27 expositores no pavilhão, dos quais 16 são do concelho, além de 23 empresas de produtos alimentares e bebidas, mais de 20 expositores de artesanato e 14 associações e entidades locais.
Em declarações a O MIRANTE, João Heitor reforçou ainda o esforço colectivo que mantém viva uma feira com esta dimensão, dizendo que “é com muito esforço, envolvimento de todos e orgulho nas nossas tradições” que se consegue realizar e preservar um evento desta importância para o concelho. O autarca sublinhou também que o objectivo passa também por “criar oportunidades para as associações locais consolidarem a sua sustentabilidade financeira e dinamizarem a cultura do concelho”, acrescentando que esta participação activa “fortalece a economia local e o tecido associativo”.


