Produtores locais deram sabor e identidade à Feira de Doçaria em Abrantes
Entre o aroma do mel, a doçura conventual e as receitas de gerações, quatro artesãos do Ribatejo Interior mostram que a doçaria é herança, cultura e paixão. Feira Nacional de Doçaria Tradicional já é uma referência na região ribatejana.
A Feira Nacional de Doçaria Tradicional voltou a encher de aromas, histórias e tradição a cidade de Abrantes. Entre os expositores que marcaram presença na Esplanada 1.º de Maio, quatro produtores da região partilharam com O MIRANTE a paixão que os une: preservar o sabor autêntico da doçaria portuguesa e dar continuidade a saberes que passam de geração em geração.
António Alves e a sua esposa, Elisabete Dias, são os rostos do “Mel d’Aldeia”, produzido em Bicas, na freguesia de São Miguel do Rio Torto. O negócio é, como sublinha Elisabete Dias, verdadeiramente familiar e são os dois que tratam de todo o processo. A história começou com o sogro, que mantinha colmeias apenas para consumo próprio. “O meu marido foi aumentando a produção e em 2018 decidimos colocar o produto no mercado”, explica. Desde então, o “Mel d’Aldeia” tem conquistado paladares para lá de Abrantes. “Vendemos em várias lojas e também online, mas a zona de Torres Novas é uma das que mais nos procura”, afirma Elisabete Dias. Apesar de utilizarem máquinas durante o processo, o casal faz questão de o manter o mais natural possível “Tentamos que seja tudo feito com as nossas mãos. É assim que o mel mantém o sabor e a pureza”, vinca.
De Constância, Maria Manuela Arsénio é doceira há cerca de uma década e dedica-se ao fabrico artesanal dos tradicionais Queijinhos do Céu: “é um doce conventual à base de amêndoa e doce de ovos, feito inteiramente por mim em casa”, descreve a O MIRANTE. A história começou quase por acaso. “Um dia olhei para o produto e pensei: sou capaz de fazer isto. Experimentei, dei a provar a algumas pessoas e fui afinando aos poucos”, explica. O negócio é simples: Maria vende os seus produtos desde casa e a alguns estabelecimentos de Constância que comercializam os seus doces. Mas também há quem a contacte directamente pela internet. “É tudo em pequena escala, mas feito com muito amor”, sublinha Maria, revelando que o segredo deste doce está na fidelidade à receita e na sensibilidade de quem respeita as etapas: “Não se pode apressar o processo. Cada fase tem o seu tempo, e é isso que faz a diferença”, conclui.
Em Alferrarede, Ana Custódio é a alma por trás da marca “D’Ana”, um espaço que abriu há três anos. “Comecei a fazer bolos para amigos e eles pediam mais. Um dia percebi que podia vingar e o passo seguinte foi abrir a loja”, recorda Ana. “Foi um desafio, mas adoro o que faço. Tudo é preparado à mão, com produtos da região”, explica Ana a O MIRANTE. Entre os doces mais procurados estão as tigeladas, a palha de Abrantes e as broas fervidas, que faz questão de confeccionar durante todo o ano. “Gosto de experimentar coisas novas, mas só ficam as que as pessoas realmente apreciam”, refere. O sucesso, garante, deve-se ao rigor: “trabalho como se os estivesse a fazer para mim. Só assim faz sentido”, frisa Ana.
Também com raízes abrantinas, Maria e Jorge Madeira, da “Delícias d’Maria”, representam outra faceta da doçaria local: “faço doces há muitos anos, primeiro em part-time, para amigos e colegas. Hoje tenho o meu trabalho, mas dedico-me também ao negócio”, conta Maria. O casal participa em várias feiras regionais, como as do Crato e de Leiria, e prepara-se para abrir o seu próprio espaço em Abrantes. “Tudo o que fazemos é artesanal, com produtos frescos e locais sempre que possível. É um trabalho exigente, mas dá-nos muito orgulho”, acrescenta.


