Cultura | 02-12-2025 15:00

“O mundo não está brilhante para a liberdade e a democracia”

“O mundo não está brilhante para a liberdade e a democracia”
José Pacheco Pereira esteve em Arruda dos Vinhos a falar para estudantes do Externato João Alberto Faria sobre a censura - foto O MIRANTE

Jornalista, historiador e ex-deputado, José Pacheco Pereira esteve em Arruda dos Vinhos na última semana a falar da censura e das mulheres amordaçadas pelo antigo regime. Perante uma plateia de estudantes o comentador político deixou alertas sobre o futuro que temos pela frente.

O crescimento dos movimentos populistas e do fenómeno das notícias falsas, aliado a um cada vez menor interesse das pessoas em ler e questionar o mundo que as rodeia, está a fazer crescer um sentimento de que a liberdade de expressão e a democracia são bens valiosos pelos quais é preciso cada vez mais lutar. A reflexão foi deixada pelo ex-deputado, historiador e jornalista José Pacheco Pereira na manhã de sexta-feira, 21 de Novembro, em Arruda dos Vinhos, falando para uma plateia de estudantes a propósito do 12º colóquio Irene Lisboa.
O tema era sobre Irene Lisboa e as mulheres censuradas pela ditadura, mas Pacheco Pereira optou por dar aos mais jovens uma amostra do que era viver em censura, partilhando histórias da sua adolescência, de quando tinha documentos falsos e teve de passar um ano fugido de casa depois da polícia política (PIDE) a ter revistado. “Um mundo que vocês nunca conheceram, mas que ainda anda por cá”, avisou o historiador, lembrando que a sua vida por estes dias “é andar aos papéis” para fazer crescer a sua biblioteca pessoal, a Ephemera.
“Tivemos a segunda mais longa ditadura do mundo, só ultrapassada pela soviética. Naquele tempo, nem numa esplanada se podia conversar com medo de quem estivesse a ouvir as conversas. Não se falava de sexo, não nos podíamos vestir como queríamos, as mulheres estavam amarradas a uma vida em casa e de servidão. A censura não queria as mulheres a escrever, quanto mais a afrontar o poder”, lamentou.
Aludindo a Irene Lisboa, mulher que destacou como sendo “uma das grandes combatentes” pelo pensamento livre, José Pacheco Pereira lembrou a escritora de Arruda dos Vinhos como uma mulher que sofreu uma vida terrível, de eterna esperança por uma liberdade que, para ela, chegou tarde demais. “A vida da Irene Lisboa aconteceu num mundo que ela não gostava. As mulheres tiveram um papel importante no combate à ditadura e para conquistar o seu papel”, destacou. Além de Irene Lisboa, outras mulheres que dedicaram a sua vida a resistir ao regime foram, por exemplo, Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Carolina Beatriz Ângelo e Maria Lamas.

Olhos postos na “Irene Moscovo”
Os efeitos da censura mantêm-se até hoje, como a ideia de que “mais vale estar calado”, lembrou Jorge da Cunha, professor e historiador entusiasta da vida e obra de Irene Lisboa. Desde 1945 que todas as actividades de Irene Lisboa eram vigiadas pela PIDE, incluindo as suas deslocações pessoais. “Era considerada como sendo do movimento oposicionista. Foi a única mulher em 1945 a assinar uma carta pública em defesa da democracia. O regime chamava-lhe Irene Moscovo. Foi uma de muitas mulheres de coragem que defenderam a liberdade e a democracia e o papel de igualdade perante os homens”, defendeu. O 12º colóquio Irene Lisboa, realizado no Centro Cultural do Morgado, contou na assistência com alunos do Externato João Alberto Faria.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias