Como uma associação local se tornou o motor cultural da vila da Marmeleira
Criado em 2009 para preservar o património da Marmeleira, o Núcleo Património de Emoções tornou-se um projecto alavancado por amor à terra e voluntariado, responsável por eventos como o Festival da Marmelada e a Aldeia de Natal, que hoje unem a comunidade e dão nova vida à vila.
Na Marmeleira, concelho de Rio Maior, uma associação que nasceu do desejo de proteger a memória da vila, acabou por se transformar num verdadeiro motor de dinamização comunitária. É essa a ideia que atravessa o trabalho do NUPAE – Núcleo Património de Emoções. Criado a 10 de Novembro de 2009 por um grupo de cinco amigos da Marmeleira, a associação tinha o objectivo de preservar o património cultural e histórico da vila. Entre os fundadores estava Rui Marcelino, que recorda que a grande motivação inicial foi a recuperação da antiga Praça de Touros da Marmeleira, ainda em ruínas. A associação chegou a negociar a compra do imóvel, reabilitou um pouco o espaço e ainda realizou vários eventos, mas o projecto acabou por ficar suspenso quando surgiram divergências. Contudo, a ideia nunca foi abandonada e este ano ganhou novo fôlego após insistência e negociação junto da Câmara de Rio Maior, que avançou com a compra da Praça de Touros. O espaço deverá agora ser requalificado e transformado num centro cultural, aquilo que o NUPAE idealizou desde o início, destaca o fundador. Entretanto, a associação foi alargando o seu campo de acção e acolhe na sua sede uma exposição anual, havendo ainda uma caminhada e, nos últimos anos, dois eventos que se tornaram marcas: o Festival da Marmelada e Aldeia de Natal.
João Cavaleiro, actual presidente do NUPAE, entrou na associação há cerca de cinco anos, a convite de Rui Marcelino. Embora não tenha nascido na vila, passou ali muitos verões em casa da avó, criando uma ligação que se mantém. Quando começou a vir com mais regularidade, sentiu vontade de fazer algo pela terra. O Festival da Marmelada surgiu naturalmente, tendo em conta que a vila deve o nome a um marmeleiro plantado no século XVI, árvore que durante décadas fez parte da paisagem e do quotidiano local. Realizado em Setembro, o evento envolve toda a comunidade, com 12 barracas espalhadas pelas ruas, a participação de restaurantes, associações locais e da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste. Mais recente, mas igualmente marcante, é a Aldeia de Natal, idealizada por Margarida Cavaleiro, que vive no Algarve e já tinha experiência na organização de feiras natalícias. “Há quatro anos o meu irmão disse-me que tinha um mercado de Natal para organizar na Marmeleira e nem me deu a hipótese de recusar, então lá tive de organizar tudo à distância”, explica, confessando que é das actividades que mais gosto lhe dá organizar. No primeiro ano, o mercado contou com cerca de 50 expositores, mas este ano já subiu para 80. A maioria dos vendedores é da vila, não havendo taxas de participação ou entradas pagas e sendo toda a logística afinada ao detalhe a partir do telemóvel de Margarida Cavaleiro, que mantém um contacto próximo com cada participante.
O envolvimento da comunidade
O crescimento traz também desafios e para João Cavaleiro, os maiores são a falta de tempo, a escassez de voluntários e o cansaço. Apesar de haver várias pessoas nos órgãos sociais, a organização das actividades recai, na prática, sobre ele e a irmã, mas mesmo com o desgaste, ambos se mantêm motivados. “Hoje existe mais diálogo, articulação de datas e uma lógica de complementaridade. A associação, outrora vista por alguns como elitista, passou a ser encarada como um espaço aberto, acessível e verdadeiramente comunitário”, afirma o dirigente. Os efeitos sentem-se também na economia local, com restaurantes cheios durante os eventos e comerciantes a receberem encomendas dos visitantes que regressam à vila. Mais do que isso, ambos os irmãos sublinham que mais importante é o envolvimento da comunidade. No futuro querem organizar um festival de música na requalificada Praça de Touros, um festival de cerveja artesanal e outro de sopas. No entanto, reconhecem que esses projectos dependem de mais apoios e, sobretudo, de pessoas disponíveis para ajudar.


