Cultura | 25-01-2022 18:00

Bombeiros e festa brava de braço dado em tertúlia de VFX

Bombeiros e festa brava de braço dado em tertúlia de VFX

Eduardo Abreu foi enfermeiro na guerra colonial e bombeiro em Vila Franca de Xira. Foi um dos que prestou assistência nas cheias de 1967. Em 2014 criou com a mulher uma tertúlia que une as duas paixões da família: os bombeiros e a tauromaquia. Matador Nuno Casquinha apadrinhou o espaço que está sempre aberto para os amigos.

Já apertam as saudades do Colete Encarnado no peito de Eduardo Abreu e Maria Irene. A emblemática festa de Vila Franca de Xira não se realiza há dois anos e a esperança é que este ano os abraços e convívios possam finalmente ser retomados na tertúlia que ambos criaram em 2014, chamada “O Bombeiro Aficionado”. Era um sonho da família que, peça a peça, tem ganhado forma e é hoje uma tertúlia única que junta duas paixões do casal: os bombeiros e os toiros.
Maria Irene, natural de Samora Correia, é a presidente da tertúlia e a que tem apostado mais na parte taurina da tertúlia. Eduardo Abreu, natural de Vila Franca de Xira, tem nos bombeiros a sua grande paixão e colecciona objectos não apenas da corporação da cidade mas também de outras do país onde foi fazendo amigos. “O Bombeiro Aficionado” é uma tertúlia familiar mas que abre as portas sempre que alguém a deseja visitar. E por lá têm passado centenas de pessoas, de escolas a turistas estrangeiros que se mostram fascinados com a cultura taurina.
Eduardo Abreu foi serralheiro numa metalo-mecânica e Maria Irene trabalhou num pronto-a-vestir. Conheceram-se depois da guerra colonial quando Eduardo regressou de uma comissão onde foi enfermeiro e por pouco não morreu ao escapar milagrosamente de pisar uma mina. “Há muito tempo que tínhamos esta vontade de ter a nossa tertúlia e aqui poder juntar os amigos”, contam. As tertúlias são, de resto, uma tradição fortemente vincada na identidade ribatejana.
“Quando era puto agarrava-me às pernas do José Júlio para ir ver as corridas de toiros e ele deixava-me entrar”, recorda Eduardo Abreu enquanto vai mostrando alguns dos objectos a O MIRANTE. O matador de toiros Nuno Casquinha é o padrinho da tertúlia. “A vida é feita de sorrisos e convívio e é aqui que gostamos de passar todos os nossos bocadinhos”, contam.

Cheias de 1967 ainda na memória

Eduardo Abreu foi bombeiro durante 35 anos e, nesse percurso, não consegue esquecer as cheias de 1967 que causaram centenas de vítimas em toda a região. Foi um dos primeiros a chegar ao lugar das Quintas, na freguesia de Castanheira do Ribatejo, que foi dos locais mais afectados. “Chovia torrencialmente. Era um silêncio e uma escuridão terrível. O graduado mandou-nos avançar e quando entrei numa casa pisei uma coisa leve que não era lama. Como estava demasiado escuro e nada podíamos fazer regressámos no dia a seguir e encontrámos nessa casa três crianças, a mãe e o pai. Marcou-me para sempre”, recorda com emoção.
Maria Irene foi sempre o seu grande pilar e conheceram-se na cidade. “Andava na costura do Palha alfaiate e tinha cinco minutos para chegar a casa. Se estivesse a chover e eu fosse vista debaixo do chapéu dele tinha problemas”, recorda Maria Irene com um sorriso. Têm dois filhos e quatro netos e temem pelo planeta que lhes vão deixar. Estão inscritos na associação das tertúlias de Vila Franca de Xira e acreditam que esta entidade será capaz de dinamizar mais as tertúlias logo que a pandemia acabe. “Muitas, como a nossa, são mais museus que tertúlias”, afirmam.
O casal diz que há muita falta de iniciativas em Vila Franca de Xira e que quando alguém faz ou promove alguma coisa há logo muita gente a criticar em vez de ajudar a fazer melhor. “A cidade precisa de uma nova vida”, defendem, dizendo que Vila Franca de Xira deve apostar no turismo sem esquecer as suas raízes identitárias e taurinas. “É isso que nos torna especial e nos faz sentir um grande orgulho de sermos vilafranquenses”, concluem.

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