Ranchos folclóricos lutam contra dificuldades financeiras e falta de sangue novo
A falta de apoios para suportar as despesas e a dificuldade em mobilizar os mais jovens são desafios comuns a muitos ranchos folclóricos da região. Quem o diz são alguns elementos dos ranchos folclóricos da Casa do Povo de Fátima e da Casa do Povo de Arcena, que O MIRANTE acompanhou no 41.º Festival de Folclore e Desfile Etnográfico de Fátima.
Movidos pelo respeito às tradições do passado, os ranchos folclóricos estão ameaçados pelo futuro: “não é fácil mobilizar os mais novos para o rancho”, queixa-se Ricardo Pereira, director técnico do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arcena, que deixou de ter grupo infantil nos últimos anos. Apesar de o rancho adulto estar actualmente composto por cerca de 12 pares, “os mais pequenos cresceram” e, no regresso aos espectáculos pós-pandemia, ainda não foi possível reactivar o grupo infantil, nota o responsável pela colectividade que celebrou, em 2022, 43 anos.
Dois anos mais velho, com 45, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Fátima ainda consegue manter o grupo adulto e o infantil, criado em 1996, mas enfrenta desafio semelhante, lamenta a responsável, Sandra Santos. “Não tem sido fácil encontrar jovens que se queiram juntar ao rancho, temos de aproveitar os meninos que entram no rancho infantil e depois passam para o adulto”, adianta.
Acompanhadas por O MIRANTE no 41.º Festival de Folclore e Desfile Etnográfico, que decorreu a 25 de Setembro, em Fátima, e reuniu sete ranchos de diversos pontos do país, ambas as colectividades apontam o dedo à falta de verbas para assegurar as actuações. “Somos subsídio-dependentes, como todos os grupos”, afirma Ricardo Pereira, que saúda o apoio financeiro que o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arcena recebe da Câmara de Vila Franca de Xira, embora admita que não chega: “se tivéssemos capacidade financeira, tínhamos os fins-de-semana todos ocupados com espectáculos, mas infelizmente não podemos”, reconhece. “É tudo muito dispendioso, sobretudo as deslocações”, acrescenta Sandra Santos, que explica que o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Fátima funciona em regime de permuta. “Se recebemos cinco grupos no nosso festival, temos de ir aos festivais que eles organizam e isso tem um custo elevado”, vinca
Festa e diversão ajudam a contornar as dificuldades
As dificuldades não chegam para travar a paixão pelo folclore, que une gerações ao redor da tradição, afirma Ricardo Pereira, que está na colectividade da Casa do Povo de Arcena desde os 10 anos e hoje já é acompanhado pelas filhas. “Temos aqui diferentes gerações de muitas famílias e o que nos move é essa partilha e o convívio”, salienta, lembrando que os ensaios “são sempre uma festa”. O mesmo sentimento tem Sandra Santos, que entrou no rancho da Casa do Povo de Fátima com apenas cinco anos “como uma das pastorinhas: a Jacinta”. Hoje com 44 anos, a responsável também já passou o amor ao rancho ao marido e aos filhos e diz que os encontros para ensaiar são sempre o “ponto alto” da semana. “O folclore vive da partilha e da diversão. Nós representamos os momentos em que os nossos antepassados se encontravam para se divertir no final de um dia de trabalho, portanto não podemos fazer disto uma coisa sisuda e rigorosa”, conclui.