Cultura | 23-10-2022 10:00

Ranchos folclóricos lutam contra dificuldades financeiras e falta de sangue novo

Sandra Santos, responsável pelo Rancho Folclórico da Casa do Povo de Fátima

A falta de apoios para suportar as despesas e a dificuldade em mobilizar os mais jovens são desafios comuns a muitos ranchos folclóricos da região. Quem o diz são alguns elementos dos ranchos folclóricos da Casa do Povo de Fátima e da Casa do Povo de Arcena, que O MIRANTE acompanhou no 41.º Festival de Folclore e Desfile Etnográfico de Fátima.

Movidos pelo respeito às tradições do passado, os ranchos folclóricos estão ameaçados pelo futuro: “não é fácil mobilizar os mais novos para o rancho”, queixa-se Ricardo Pereira, director técnico do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arcena, que deixou de ter grupo infantil nos últimos anos. Apesar de o rancho adulto estar actualmente composto por cerca de 12 pares, “os mais pequenos cresceram” e, no regresso aos espectáculos pós-pandemia, ainda não foi possível reactivar o grupo infantil, nota o responsável pela colectividade que celebrou, em 2022, 43 anos.
Dois anos mais velho, com 45, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Fátima ainda consegue manter o grupo adulto e o infantil, criado em 1996, mas enfrenta desafio semelhante, lamenta a responsável, Sandra Santos. “Não tem sido fácil encontrar jovens que se queiram juntar ao rancho, temos de aproveitar os meninos que entram no rancho infantil e depois passam para o adulto”, adianta.
Acompanhadas por O MIRANTE no 41.º Festival de Folclore e Desfile Etnográfico, que decorreu a 25 de Setembro, em Fátima, e reuniu sete ranchos de diversos pontos do país, ambas as colectividades apontam o dedo à falta de verbas para assegurar as actuações. “Somos subsídio-dependentes, como todos os grupos”, afirma Ricardo Pereira, que saúda o apoio financeiro que o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arcena recebe da Câmara de Vila Franca de Xira, embora admita que não chega: “se tivéssemos capacidade financeira, tínhamos os fins-de-semana todos ocupados com espectáculos, mas infelizmente não podemos”, reconhece. “É tudo muito dispendioso, sobretudo as deslocações”, acrescenta Sandra Santos, que explica que o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Fátima funciona em regime de permuta. “Se recebemos cinco grupos no nosso festival, temos de ir aos festivais que eles organizam e isso tem um custo elevado”, vinca

Ricardo Pereira, director técnico do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arcena
Ricardo Pereira, director técnico do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arcena

Festa e diversão ajudam a contornar as dificuldades
As dificuldades não chegam para travar a paixão pelo folclore, que une gerações ao redor da tradição, afirma Ricardo Pereira, que está na colectividade da Casa do Povo de Arcena desde os 10 anos e hoje já é acompanhado pelas filhas. “Temos aqui diferentes gerações de muitas famílias e o que nos move é essa partilha e o convívio”, salienta, lembrando que os ensaios “são sempre uma festa”. O mesmo sentimento tem Sandra Santos, que entrou no rancho da Casa do Povo de Fátima com apenas cinco anos “como uma das pastorinhas: a Jacinta”. Hoje com 44 anos, a responsável também já passou o amor ao rancho ao marido e aos filhos e diz que os encontros para ensaiar são sempre o “ponto alto” da semana. “O folclore vive da partilha e da diversão. Nós representamos os momentos em que os nossos antepassados se encontravam para se divertir no final de um dia de trabalho, portanto não podemos fazer disto uma coisa sisuda e rigorosa”, conclui.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo