Reabriu o museu onde cabe toda a tradição<br>e vivências do povo de Azambuja
O Museu Sebastião Mateus Arenque, em Azambuja, reabriu ao público dois anos após ter encerrado para obras. O espaço traz novidades através da tecnologia audiovisual e ganhou uma área dedicada ao etnógrafo azambujense que recolheu e doou grande parte do espólio do museu.
Com a exposição permanente “Quotidianos: recordar, conhecer e aprender”, agora apoiada por ilustrações e tecnologia audiovisual e interactiva, o Museu Municipal Sebastião Mateus Arenque, em Azambuja, voltou a abrir portas ao público mais moderno, atractivo e reorganizado. A inauguração decorreu no sábado, 17 de Setembro, e contou com a presença do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, do presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio, e de familiares do etnógrafo azambujense e patrono do museu, Sebastião Mateus Arenque.
Silvino Lúcio destacou que se pretende com esta requalificação aguçar o “gosto pela descoberta das memórias colectivas” e criar uma forte ligação com as gerações mais jovens através dos serviços educativos do museu e dinamização de mostras temáticas e temporárias. Também os mais velhos, sublinhou, terão numa visita ao museu um “reencontro com o passado” dos tempos de infância e juventude.
Aproveitando ainda a presença do ministro o autarca afirmou que o município depara-se com a dificuldade no acesso a financiamentos na área da cultura, por se privilegiar apenas projectos digitais e a cultura imaterial. “Gostaríamos que se entrasse num novo paradigma; se assim não for corremos riscos de que muito património físico desapareça”, disse, dirigindo-se a Pedro Adão e Silva, numa alusão ao castro de Vila Nova de São Pedro, património pré-histórico classificado como monumento nacional, situado no concelho.
A requalificação e modernização do museu, iniciada em 2019, custou 200 mil euros, investidos na totalidade pela Câmara de Azambuja sem apoio de programas do Governo ou da União Europeia. O primeiro piso dá destaque à máquina secadora de arroz, a única em Portugal tão completa e bem conservada, num espaço onde é agora possível simular o processo de secagem com o apoio de imagens digitais e de uma máquina de fumo. Pode-se também percorrer espaços onde se recorda o trabalho nos campos da Lezíria, com as alfaias agrícolas e os carros de bois; os avieiros do Tejo e as barbearias onde eram publicitadas as corridas de toiros.
Filho de Sebastião Mateus Arenque deixa recado ao Governo
O segundo piso do percurso expositivo ganhou uma nova área dedicada ao poeta e etnógrafo auto-didacta Sebastião Mateus Arenque, que faleceu em 2019, aos 96 anos. Foi entre as memórias fotográficas e em vídeo presentes nesta secção que O MIRANTE encontrou a família do patrono do museu. A neta, Sónia Gomes, que interpretou o fado ‘Borda d’água dos meus olhos’, no acto inaugural, destacou ao nosso jornal o “orgulho” que a família sente por ver o museu – que foi “uma grande conquista do avô” – remodelado e mais atractivo para novos públicos sobretudo para as camadas mais jovens. Além de um espaço dedicado às crianças, conta também com exposições sobre feiras, mercados, tauromaquia e a primeira escola de aviação de Vila Nova da Rainha.
Na parte final da visita, Lourenço Mateus Mota, filho de Sebastião Mateus Arenque, declamou o célebre poema do seu pai, “Fandango Ribatejano”, que retrata as gentes do Ribatejo, o fandango e a vida de campino. Emocionado, não quis deixar de mandar um recado ao ministro da Cultura: “Vai ser muito difícil tirar a um ribatejano o que mais adora, que são os toiros, os cavalos e a festa brava”. Embora não tenha feito referência directa à tauromaquia Adão e Silva sublinhou no seu discurso a importância de “ser tolerada e acolhida” a diversidade cultural e as suas práticas que estão presentes no país.