União Desportiva Vilafranquense vive o momento mais conturbado da sua história
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Em 65 anos de existência o UDV atravessa um momento delicado com a possibilidade de ver extinta a sua actividade e de ser criada uma nova associação.
Tudo por causa de uma dívida de um milhão e 400 mil euros que asfixia a colectividade gerida por uma comissão administrativa.
Apesar do agravar das dificuldades e do impasse gerado na última assembleia-geral, vários adeptos e rostos ligados ao União Desportiva Vilafranquense (UDV), a principal colectividade desportiva da cidade, ainda acreditam que a solução não passa por acabar com o clube, que vive tempos conturbados. Ouvidos por O MIRANTE a maioria diz-se esperançada no surgimento de uma solução que não comprometa a história do clube, criado a 12 de Abril de 1957 a partir da fusão de quatro colectividades: o Grupo Foot-Ball Operário Vilafranquense, Águia Sport Clube Vilafranquense, Hóquei Clube Vilafranquense e Ginásio Vilafranquense.
Ao longo da sua história o UDV conquistou notoriedade no hóquei em patins e no futebol, mas outras modalidades também o celebrizaram, como a ginástica, vela, futsal e basquetebol, onde ainda hoje estão mais de quatro centenas de atletas nos diferentes escalões. Também o futebol agrega centenas de jovens de várias idades. O UDV tem mais de três mil sócios mas muitos não têm as quotas em dia.
Um conjunto de dívidas ao Fisco e à Segurança Social - que totalizam perto de um milhão e 400 mil euros - contraídas no final dos anos 90 por dirigentes que entretanto já faleceram, deitaram tudo a perder e atiraram o clube para uma situação de sufoco que dura até hoje. O UDV está impedido de receber apoios financeiros directos do Estado e do município e muitos sócios afastaram-se do clube. Na última assembleia-geral realizada em Novembro os sócios chumbaram por maioria - 52 votos a favor e 32 contra - a ordem de trabalhos onde estava em cima da mesa, entre outros pontos, a suspensão da actividade desportiva do UDV e a constituição de uma nova associação desportiva. A ordem de trabalhos foi chumbada porque o clube não apresenta contas há três anos. Os dirigentes explicaram aos sócios que a situação se deveu a um problema com o contabilista mas que estará já a ser resolvida.
“Não somos criminosos”
David Inácio é um rosto conhecido no UDV e acredita numa solução que não implique o fim do clube. Foi praticante de ginástica, atleta federado de vela e líder da claque Piranhas do Tejo, que durante 16 anos apoiou a equipa de futebol. É um estudioso da história do UDV e há três anos fotografou na biblioteca da cidade mais de 3 mil jornais antigos para compilar histórias do futebol do clube até aos dias de hoje. “As pessoas esquecem-se da importância social e política que o clube tem. Custa-me a perceber como é que a câmara perdeu a ligação umbilical ao união”, lamenta a O MIRANTE.
O sócio diz que a actual situação da SAD do futebol sénior (sociedade anónima desportiva que disputa a 2ª Liga) e a sua intenção de sair da cidade não deixou os adeptos agradados. “Estou sempre preocupado com o futuro do clube, mas se ele não acabou até hoje foi graças ao futebol. É o único activo que anda com o clube para a frente e lhe dá visibilidade”, defende. David Inácio considera que os sócios confiam nos actuais dirigentes do clube mas lembra que é preciso prestar contas. Já sobre a dívida que gerou todos estes problemas não tem dúvidas: “Ninguém é totalmente culpado mas pessoas como eu, que participam activamente no clube, não têm de pagar por isso nem temos de ser tratados como se isto fosse um clube de criminosos porque alguém pode, alegadamente, ter cometido um crime. Nenhuma das pessoas que lá está hoje tem alguma coisa a ver com isso”, lamenta.
Vários pais de jovens que praticam desporto no clube, ouvidos por O MIRANTE, dizem-se expectantes sobre o futuro do emblema. Admitem que a situação não é boa mas têm esperança que os dirigentes e os sócios encontrem uma forma de manter as portas abertas à comunidade. Tirar os filhos do clube não está, por agora, em cima da mesa. “O que o UDV faz pela cidade é um serviço social por isso não pode acabar. O Estado e a câmara têm de ajudar se for preciso. O clube faz muita falta”, defende Rui Leitão, que tem o filho a jogar futsal.
“É preciso uma direcção a sério”
Vários ex-dirigentes têm opiniões diferentes sobre o que é melhor para o futuro do clube. Francisco Beirolas, que ocupou o cargo de presidente antes da actual comissão administrativa, diz concordar com todas as soluções que permitam continuar a possibilitar a prática desportiva à população. “O que é mais importante é salvar o clube e a sua actividade desportiva e social”, defende. O ex-presidente, que deu luz verde à criação da SAD no seu mandato, diz hoje não ter qualquer receio que ela abandone VFX. “Prefiro ter uma equipa da cidade na 3ª divisão nacional ou nos distritais do que ter uma equipa com o nome Vilafranquense que não nos é nada. Não me incomoda que a SAD se vá embora. Nada traz de benefício ao clube. Não vivem cá, não têm cá amigos, não sentem VFX, não sabem sequer quantos sócios tem o clube nem os problemas que vive”, critica.
Já Joaquim Pedrosa, que foi presidente durante seis anos antes da entrada de Francisco Beirolas, é contra o fim do clube. “O clube tem uma história e acabar com ele levanta problemas sobre a posse do pavilhão. Temo que se perca o historial do clube caso essa ideia avance”, afirma. Também Eurico Cid, que foi presidente entre 1995 e 2000, diz lamentar o estado vegetativo em que o UDV se encontra. “Só tem um caminho: começar do zero. Continuar assim não dá. Não importa se com outro nome ou não”, defende a O MIRANTE.
Eurico Cid apela aos sócios que se possam juntar num derradeiro esforço de salvação colectiva para criar uma direcção que permita ao UDV deixar de ter uma comissão administrativa. “Devíamos encontrar um espaço no centro da cidade para fazer a nossa sede social. Um espaço onde os sócios pudessem tomar café, ver a bola e os toiros, conviver. É desses laços que se formam listas. Não é com as pessoas desligadas do clube como hoje acontece”, critica, considerando que ter o clube entregue a duas ou três pessoas é de loucos.
“Isto tem de ser com pessoas voluntárias mas organizadas. Não podem ser voluntários a fazer o que querem. É preciso uma direcção a sério para haver regras e procedimentos. Temos de chamar as forças vivas da cidade para saber o que querem do desporto em VFX. Na minha opinião se não apresenta contas há três anos esta comissão administrativa não está legal”, conclui Eurico Cid.