Em Vialonga aprende-se kickboxing e a ter auto-controlo

No Grupo Desportivo de Vialonga aprendem-se técnicas de defesa pessoal pelas mãos de um instrutor que ali se curou depois de ficar com uma perna incapacitada na sequência de um acidente de automóvel.
Um grave acidente de viação que o deixou com uma perna incapacitada foi o ponto de partida para Ricardo Sobreiro se ter focado no kickboxing e na defesa pessoal; hoje, no Grupo Desportivo de Vialonga (GDV), ensina os atletas a defenderem-se e incute-lhes valores e princípios de vida em sociedade. Em 2010 na sequência do acidente, Ricardo Sobreiro precisou de fazer fisioterapia e ao mesmo tempo viu o filho começar a sofrer de bullying na escola. Em família decidiram inscrevê-lo nas aulas de kickboxing do GDV. Num dos treinos Ricardo acompanhou o filho e gostou tanto que se tornou praticante da modalidade, vendo também nela uma oportunidade de recuperação.
“Eu curei-me aqui dentro, com muito esforço e muitas dores. Por isso, se me curei aqui, não vou desistir. Já lá vão oito anos, adoro isto e faço-o por amor”, revela com emoção a O MIRANTE.
Hoje, nas suas aulas de kickboxing e de defesa pessoal aprende-se a não lutar. Pode parecer estranho, mas é mesmo isso que Ricardo Sobreiro ensina às duas dezenas de adultos e crianças que frequentam as suas aulas no GDV.
“É mesmo importante que eles percebam que lutar é sempre a última opção na lista. O objectivo é estar sempre em segurança e conseguir sair das situações sem ter que pôr em prática aquilo que aprendem nas aulas. É aprender a lutar aqui para não lutar lá fora”, explica. Nas aulas do grupo aprende-se a teoria e a prática do kickboxing e da defesa pessoal, o principal objectivo é dar ferramentas e métodos para que quem frequenta as aulas possa, em caso de perigo, defender-se de maneira rápida e prática.
Um bom anti-stress
O instrutor caracteriza a modalidade como exigente e trabalha a parte física, mas também a mente e o espírito, reduzindo o stress, aumentando a auto-estima, o raciocínio e o auto-controlo. Mecânico de automóveis de profissão, o instrutor confessa que notou bastantes diferenças depois de ter começado a praticar kickboxing, dando até o exemplo do stress do trânsito, onde antigamente se irritava rapidamente e partia para a discussão sem pensar duas vezes.
Nelson Guerreiro, 35 anos, já pratica kickboxing há uma década e leva para a sua vida quotidiana o que tem aprendido ao longo dos anos, evitando ao máximo qualquer tipo de conflito. Amante da modalidade, é adjunto de Ricardo Sobreiro. Caracteriza a modalidade como uma excelente forma de praticar exercício físico e mental. Assumir o papel de adjunto tem sido uma aventura e uma aprendizagem que ainda deixam Nelson um pouco nervoso, mas grato e feliz. “Eu adoro kickboxing. Quando entramos no treino esquecemos os problemas todos. É um excelente exercício e este é um papel diferente”, confessa com um sorriso.
Foi em Abril deste ano que Ricardo Sobreiro começou a dar aulas no GDV. Começou com apenas um aluno, mas ao longos dos meses o número de inscrições tem vindo a aumentar. As aulas são abertas à comunidade desde que os praticantes não tenham problemas graves de saúde. A oportunidade surgiu quando o antigo instrutor da modalidade decidiu seguir outro caminho e passou a pasta a Ricardo Sobreiro. “Muitas das pessoas que procuram as aulas é mesmo para a prática de exercício físico ou porque tinham curiosidade sobre a modalidade, mas também temos muitas à procura da vertente da defesa pessoal. Aqui somos todos iguais, as diferenças não interessam. Apenas o respeito mútuo e o gosto pela modalidade”, conclui.