Desporto | 27-03-2023 07:00

Ginastas e pais alegam falta de apoio para participação em provas internacionais

Ginastas e pais alegam falta de apoio para participação em provas internacionais
Luís Arrais, presidente da Federação de Ginástica de Portugal. Francisco Rodrigues treina no Ateneu Artístico Cartaxense. Matilde Brilhante é atleta do Gimno Clube de Santarém. Fotos Martinho Cruz

Ginastas do Gimno Clube de Santarém e do Ateneu Artístico Cartaxense confessam alguma desilusão por não terem mais apoio financeiro para participar em competições internacionais. Pais dizem que Federação de Ginástica pode fazer mais, mas presidente do organismo afirma que “o dinheiro não dá para tudo”.

Matilde Brilhante é uma ginasta de 18 anos que passa grande parte do seu tempo nos trampolins do Gimno Clube de Santarém desde criança. É uma das grandes promessas da associação de Santarém que conta com o talento de cerca de 130 atletas e o esforço de uma direcção que aposta em fazer serviço público. “Gostava de ir à final individual de um Mundial e de um dia representar o país nos Jogos Olímpicos”, afirma a jovem que já conseguiu o apuramento para a Competição Mundial por Grupos de Idades em cinco ocasiões, mais do que qualquer outro ginasta do concelho.
O maior problema surge com as verbas necessárias para participar em grandes competições internacionais. “É difícil assegurar as idas da Matilde às grandes competições internacionais devido à falta de apoios financeiros. Para a minha filha poder ir ao estrangeiro contamos com ajuda e patrocínio de amigos e simpatizantes do seu percurso desportivo, que pretendem patrociná-lo”, declarou Carla Brilhante.
Fernando Gaspar, presidente do Gimno Clube de Santarém e um dos rostos mais conhecidos e acarinhados da associação que se dedica à prática de ginástica de trampolins há 25 anos, reconhece essa dificuldade e encara o desafio. “Felizmente estamos numa condição em que somos capazes de suportar uma parte da deslocação, mas já houve alturas em que teve de ser totalmente os pais”, informa o dirigente, acrescentando que, “devido ao esforço das autarquias e da associação que fazem algum esforço, não tenho conhecimento de nenhum ginasta do distrito que se tenha apurado para um campeonato do mundo e não tenha podido ir por falta de apoio financeiro”.

O dinheiro não dá para tudo
No Ateneu Artístico Cartaxense, um espaço de cultura e desporto do concelho do Cartaxo, treina Francisco Rodrigues, um ginasta de 15 anos. É o actual campeão nacional da 1ª divisão de juniores masculinos de tumbling – uma disciplina dos trampolins - e integrou a equipa que se sagrou vice-campeã da Europa do mesmo escalão, nesta modalidade. “É um desporto que gosto muito, também do lado da competição, e vir para aqui treinar ajuda-me a relaxar, a pôr a cabeça no sítio”, confessa. Sobre o momento em que os seus pais lhe disseram que não iriam conseguir suportar os custos da deslocação ao Azerbaijão para a participação no campeonato do mundo do seu escalão etário, Francisco Rodrigues desabafa que “é sempre um sentimento de que foi tanto esforço para nada, mas também sei que os meus pais fazem sempre tudo o que podem e haverá mais campeonatos para disputar”.
Uma das pessoas que acompanhou esta situação de perto foi Maria João Oliveira, a actual vereadora responsável pelos pelouros da Cultura e do Desporto da Câmara do Cartaxo. Foi presidente da direcção do Ateneu Artístico Cartaxense durante oito anos e conta que Francisco “treinou durante toda a pandemia para se preparar para Baku, com uma autorização especial para sair de casa”. Agora que ocupa um cargo no executivo municipal, admite que a “autarquia ainda não tem condições para apoiar os atletas do seu concelho que se apurem para este tipo de competições”, e que “a Federação de Ginástica de Portugal pode fazer mais nesse sentido”.
Luís Arrais, natural de Santarém e presidente da Federação de Ginástica de Portugal, afirma que a entidade nacional deste desporto “assegura a ida aos campeonatos da Europa e do Mundo de seniores de todas as oito disciplinas da ginástica, assim como os juniores das disciplinas olímpicas”. No entanto, afirma que se faz frequentemente confusão de que as competições mundiais por grupos de idades são campeonatos do mundo quando não é verdade. “Para além de pagar ao chefe de delegação, aos treinadores nacionais, a um fisioterapeuta, um juiz, e de oferecer os fatos de treino, o dinheiro não pode dar para tudo e não conseguimos fazer mais”, assume.

Texto: Martinho Cruz
Editado por Bernardo Emídio.

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