Desporto | 01-04-2023 10:00

A mulher da Ultramaratona que corre para combater o stress da vida de enfermeira

A mulher da Ultramaratona que corre para combater o stress da vida de enfermeira
Cláudia Simão fez a sua primeira ultramaratona, uma prova com 103 quilómetros. fotoDR

Cláudia Simão terminou a sua primeira ultramaratona na TAUTe – Terra do Ancião Ultra Trail Endurance – correndo 103 quilómetros numa prova em que nem tinha planeado participar. A enfermeira de Santarém garante que correr, seja em provas ou treinos, é o escape para combater o stress da sua exigente profissão.

Cláudia Simão terminou, aos 44 anos, a sua primeira ultramaratona – prova com 103 quilómetros – depois de ter garantido que não iria participar. O seu namorado, Rogério Palmeiro, inscreveu-se na TAUTe – Terras do Ancião Ultra Trail Endurance – em Novembro do ano passado uma vez que está habituado a provas de mais de uma centena de quilómetros. No entanto, um acidente de viação impediu-o de participar e o próprio desafiou a namorada a ir no seu lugar. A atleta dos Águias de Alpiarça começou por recusar mas depois foi sendo convencida. “Ao início disse que ia só para fazer a parte nocturna, que não contassem comigo para fazer parte de nenhuma equipa, que o objectivo era desistir”, recorda a O MIRANTE.
Os seus planos de treino não incluíam preparação para 100 km. Na véspera da prova, que decorreu a 11 de Março, mudou de ideias e disse que ia tentar, sem pressões, ver o que conseguia fazer. “Comecei a prova às 19h30 e fui sempre acompanhada. Quando dei conta já estava a nascer o dia. Geri o meu esforço e quando reparei tinha feito 70km em 10 horas, o que é um excelente tempo. Nos últimos 30 quilómetros senti uma baixa de energia mas deixei-me ir, não podia parar. Já estava quase terminado”, refere.
Cláudia Simão ficou em segundo lugar do seu escalão, foi quarta da geral, em femininos, e a segunda melhor portuguesa da prova. “Durante um dos últimos abastecimentos o Rogério disse-me que estava bem classificada e isso deu-me uma motivação extra para acelerar. Cortar a meta foi uma sensação indescritível porque consegui superar-me numa prova que nunca imaginei fazer, muito menos concluir. Costuma-se dizer que a partir dos 100 quilómetros não são provas mas sim viagens. Esta foi a minha primeira viagem”, confessa a enfermeira de Santarém.
A atleta conta que durante a prova não pensa em nada além do que tem que percorrer. Vai focada no que está a fazer, ouve o som das cascatas, das folhas, dos pássaros e está sempre atenta aos obstáculos que tem que ultrapassar. O desafio e a superação são constantes. Cláudia e Rogério conheceram-se através das provas e constituem hoje um casal que se apoia mutuamente. Um dos objectivos da enfermeira é fazer uma prova destas acompanhada pelo namorado.
Cláudia Simão refere que este é um desporto caro, que exige investimento seja na roupa, nos ténis, na alimentação e suplementação. “Há quem viaje para destinos paradisíacos e fique os dias ao sol e a passear. Outros compram sapatos, roupas e malas caras. Os meus dorsais são os meus bilhetes de viagem e conheço também muitos locais fantásticos. É um modo de estar na vida muito importante para a minha saúde mental. Correr, seja em provas ou em treinos, faz com que esteja bem comigo própria”, explica.
A enfermeira, que trabalha há três anos na Unidade de Saúde Familiar do Planalto, em Santarém, depois de 16 anos a trabalhar no Hospital Distrital de Santarém, conta que praticou algum desporto em criança e na adolescência mas que depois passou a fazer apenas ginásio. Começou nas corridas em grupos de treino como os Scalabis Night Run ou Pacemakers. A primeira prova foi de 10 km na Scalabis Night Race, em Santarém.
Corre há cerca de dez anos mas há aproximadamente três anos aumentou a intensidade e passou a participar no campeonato regional de trail onde venceu o Circuito Regional do Ribatejo. Ficou em 3º lugar da geral no campeonato nacional e nas 10 melhores a nível nacional, o mesmo campeonato onde participam atletas da selecção nacional. Apesar de preferir as provas de trail fez este ano a sua primeira maratona em Sevilha. Adorou o espírito de convívio e entreajuda que diz viver-se na prova espanhola.

Os amigos e a família dizem que é maluca

Cláudia Simão diz ser fundamental o cuidado com a alimentação e ingerir suplementos para prevenir lesões. Antes das provas ingere mais hidratos de carbono e depois da prova opta mais por proteína. No dia-a-dia faz uma dieta hiper proteica. Também considera indispensável ser acompanhada por um treinador e seguir um plano de treinos específico para cuidar do corpo. Durante os dez anos que leva de caminhadas e corridas lesionou-se apenas uma vez num pé durante dois meses. “Foi um suplício porque detesto estar parada e tive que meter baixa porque não conseguia andar. As lesões são o pior mas é preciso paciência, que nem sempre tenho”, confessa com um sorriso. “Os complexos vitamínicos são muito importantes assim como os recuperadores. Eu não tomava nada até perceber que era fundamental para o corpo estar bem e mais forte”, confessa.
Os amigos que não estão ligados às corridas e a família dizem, em jeito de brincadeira, que é maluca. Cláudia Simão não avisou a mãe que ia tentar fazer a ultramaratona. A senhora é que se foi apercebendo que a prova estava a demorar muito tempo e acabou por perguntar ao namorado, que estava a acompanhar a competição. “Não a quero preocupar, mas ela sabe que sou feliz. Há uma Cláudia antes das corridas e uma Cláudia depois. É o meu escape para uma vida profissional tão intensa”, refere a enfermeira atleta. A sua maior ambição desportiva é continuar a dar o seu melhor em cada prova e superar-se a si própria embora confesse existir sempre o bichinho da competição.

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