Patrícia Serôdio faz canoagem, é professora e regenera ecossistemas no Ribatejo
Patrícia Serôdio deixou Lisboa para se dedicar à agricultura biológica. No Ribatejo criou uma rede de permacultura e dedica-se à regeneração de ecossistemas. A canoagem faz parte do seu dia-a-dia e treina na Ribeira de Santarém.
A agricultura no Ribatejo é muito agressiva. A opinião é de Patrícia Serôdio, 47 anos, uma das pioneiras da permacultura em Portugal. Natural de Lisboa e formada em Artes Plásticas, Patrícia Serôdio decidiu mudar de vida quando conheceu o projecto de agricultura biológica de um jovem na Catalunha. Depois de terminar a faculdade trabalhou em várias empresas, mas a verdadeira mudança aconteceu após o último trabalho numa farmacêutica, onde prestava assistência a programas informáticos para os delegados farmacêuticos. “O que é suposto registar são subornos com palavras bonitas. Existem incentivos aos médicos para passarem determinados medicamentos. As contrapartidas vão desde uma caneta, um almoço, uma viagem. A partir daí quis mudar”, relata. Deixou a capital, arregaçou as mangas, e desenvolveu um projecto de agricultura biológica num terreno dos pais em Alpiarça, município onde ainda vive. Começou a acumular conhecimento e passou a ter projectos na área do agro-florestamento e permacultura. Foi das primeiras pessoas a iniciar o movimento de permacultura em Portugal, através da criação de uma rede no Ribatejo.
A especialista explica que a permacultura é uma abordagem holística que envolve todo o ecossistema, em que o ser humano está inserido e não é excluído da equação. São planeados ao pormenor ambientes humanos sustentáveis em que se utilizam práticas agrícolas e sociais com um design concebido de forma a não haver desperdício de recursos. Patrícia Serôdio dá aulas de artes visuais em Alcanena aos alunos do quinto e sexto anos. “As artes plásticas fazem com que nós sejamos mais criativos e que tenhamos um olhar sobre os problemas diferentes da maioria das pessoas. Mediante as adversidades encontrei sempre soluções de forma criativa”.
Trabalho exigente
Patrícia Serôdio considera que os agricultores fazem uma má gestão dos recursos naturais e falta de protecção. Neste momento está a trabalhar na regeneração de ecossistemas no concelho de Coruche para contrariar esta lógica. Começa a trabalhar às 6h30 na regeneração da foz da ribeira da Erra com o rio Sorraia, um projecto financiado por fundos europeus. Uma zona onde predominam os salgueiros e os freixos e em que será usada matéria orgânica disponível no local para diminuir a erosão que existe, provocada pelas máquinas giratórias que retiram o canavial. A ideia é reflorestar o canavial com árvores, estimular a biodiversidade com hotéis para insectos e fazer sementeiras de prados floridos. “O trabalho que estou a fazer na Erra é muito exigente fisicamente. Tenho o relógio programado para fazer um treino de canoagem por dia e nas seis horas de trabalho já atingi os 100% de actividade física. Houve alturas em que precisei de dinheiro e apanhei curgetes e beringelas para agricultores e trabalhei nas vindimas”, confessa. A preparação física que tem por conta da canoagem tem ajudado Patrícia Serôdio no trabalho. Na categoria de master B está entre as melhores atletas do país. No ano passado arrecadou a medalha de ouro e sagrou-se campeã nacional de fundo pelo Clube de Canoagem Scalabitano da Ribeira de Santarém. Hoje em dia está associada a um clube de Ferragudo, onde tem um treinador, mas pratica todos os dias na ribeira de Santarém onde a tratam como família.