A paixão pelo tango de Vanessa e Franclim
A 11 de Dezembro celebra-se o Dia Internacional do Tango, em homenagem a Carlos Gardel e Júlio de Caro, dois dos criadores de uma dança sensual que está classificada como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Para a dançar são precisos dois e na região não faltam pares. Em Vila Franca de Xira o tango dança-se na sua forma clássica e já valeu vários títulos a Franclim Conde e Vanessa Costa.
A compasso dois por quatro os sons de canções de acordeão, contrabaixo, piano e violino de autores como Astor Piazzolla, Carlos Gardel ou Hugo del Carril emanam das colunas de som à medida que Franclim Conde e Vanessa Costa ensaiam alguns passos de tango no salão dos Bombeiros de Vila Franca de Xira.
O tango tem uma coreografia complexa e, para muitos, é conhecido por ser uma das danças mais sensuais e intensas, de dançarinas de saia curta rendilhada e dançarinos de colarinho aberto e rosa na boca. Há, no entanto, uma outra forma de dançar tango que ainda é desconhecida de boa parte da comunidade, que é ensaiada na Xiradance de Vila Franca de Xira. Chama-se tango clássico e está inserido num grupo com outras quatro danças clássicas: valsa inglesa, valsa vienense, slowfox e quickstep.
A propósito do Dia Internacional do Tango O MIRANTE foi conhecer um par, campeão nacional, para quem o tango é uma das danças de eleição. “O nosso tango é o de competição, tem alguns pormenores e muitos passos do tango argentino mas teve de ser adaptado para poder ser usado numa pista de competição. Uma diferença óbvia é não termos os ganchos (um entrelaçar das pernas entre os dois dançarinos). Tiveram de o tornar um pouco mais clássico e elegante. Menos sexy e burlesco e mais elegante”, contam Franclim Conde e Vanessa Costa a O MIRANTE.
Ainda assim, avisam, quando se dança tango têm de passar para o júri “a atitude, o espírito e a intensidade” do tango original. Os olhares fixos, o rasgo de conquista da parceira, a afirmação corporal, a paixão, o desejo mas também a tristeza. “Ainda se conhece pouco esta vertente do tango desportivo. Tem mais acções rápidas que o tango argentino mas é igualmente exigente porque tem muitas paragens e arranques, é intenso”, contam a O MIRANTE. Para os dançarinos, de todas as danças clássicas o tango é a sua favorita. E se tiverem de fazer uma exibição, fora de competição, admitem que se vestem a rigor. “Com chapéu, cadeira, rosa, tudo”, brinca Franclim Conde.
O sonho de conhecer o berço do tango
Franclim Conde diz que um dia gostava de ir à Argentina para ver o tango dançado no país onde foi criado. “Visitar uma casa de tango, conhecer melhor a origem, sentir os cheiros e a atitude das pessoas para aprender mais um pouco”, conta. Vanessa Costa concorda. Os dançarinos são ambos de Vila Franca de Xira, ela é médica dentista e ele operador num posto de abastecimento. São amigos que se conheceram na dança. “A mulher do Franclim não gosta de dançar e o meu marido também não e acabámos por dançar os dois”, conta Vanessa Costa.
O ano passado a dupla sagrou-se campeã nacional e este ano venceu a Taça de Portugal, entre outras conquistas que foi somando ao longo dos anos. Tem também representado Portugal no estrangeiro e já percorreu boa parte do mundo a dançar, sempre com a bandeira de Vila Franca de Xira na bagagem. “A dança ajuda muito a nível psicológico e físico. Traz-nos satisfação, liberdade e podemos praticar um desporto saudável e que nos dá muito prazer”, lembra Vanessa Costa, que perdeu 40 quilos só a dançar.
A dupla dança para conquistar pódios e vai em Maio à Alemanha, ao campeonato do mundo. “Infelizmente, a dança ainda não é vista como um desporto por grande parte da sociedade. As pessoas sem experimentar não têm noção, pensam que isto é como vir para um bailinho de domingo. Não sabem o que custa fazer estas rotinas”, contam. Para quem ensaia na Xiradance encontrar homens que possam formar par é ainda um dos maiores desafios. Para Franclim e Vanessa, haja lesões ou frio, nada quebra a paixão pelo tango e pela dança. “Gostávamos de dançar até aos 80 anos, até de canadianas se fosse preciso”, brincam.
Das prostitutas aos salões burgueses
Quando Carlos Ramos escreveu a sua “Biografia do Fado” lembrou que este era “um ébrio, um vadio” que andava pela Mouraria, de origens pobres e de rua, e essa descrição pode bem ser copiada para as origens do tango. Uma dança que teve início no século XIX nas margens do Rio da Prata em Buenos Aires, na Argentina, e também no Uruguai. Os primeiros relatos do tango mostram que estava bastante presente na população suburbana dos dois países, à margem, principalmente em casas de prostituição, bares e cafés. Foi, durante anos, uma dança reprimida e escondida, até ao início de 1910 quando passou a ser aceite pela burguesia e conquistou os salões, modernizando-se e espalhando-se pelo mundo. Em 2009 a UNESCO classificou o tango como Património Imaterial da Humanidade, tal como fez com o fado em 2011.