Desporto | 24-01-2024 12:00

Família de campeões do triatlo de Pedrógão já andou pelo mundo a competir

Família de campeões do triatlo de Pedrógão já andou pelo mundo a competir
O triatlo e o duatlo são uma paixão comum na família de Gonçalo Neves

Passam horas juntos a treinar e neste caso são mesmo uma família. O pai, Gonçalo Neves e os filhos André e Guilherme Neves, são atletas do Pedrógão Triatlo, no concelho de Torres Novas, e campeões mundiais em modalidades que vão do triatlo ao aquatlo. Já percorreram o mundo em provas que servem para fortalecer laços e ganhar medalhas.

Quando um sobe ao pódio numa competição é como se os restantes membros da família também ganhassem. O festejo pela vitória é fervoroso e sincero. Quando o objectivo fica por cumprir todos sentem, mas o foco é voltado para a próxima prova. Gonçalo, André e Guilherme Neves são pai e filhos, mas também treinador e atletas campeões nacionais e do mundo em triatlo, biatlo e outras variantes da modalidade-mãe, que combina as disciplinas de corrida, ciclismo e natação.
“O triatlo é paixão, não consigo imaginar a minha vida sem praticar. É como se fizesse parte de mim, desde sempre”, começa por dizer a O MIRANTE André Neves, que na época passada foi campeão nacional de duatlo cross pelo Sport Lisboa e Benfica (SLB) e campeão do mundo de triatlo cross e de aquatlo sub-19. “A mim ajuda-me a limpar a mente”, acrescenta o irmão Guilherme Neves, campeão mundial de biatlo (corrida-natação-corrida) sub-17 no campeonato do mundo que decorreu em Novembro, em Bali, na Indonésia.
Foi o pai, Gonçalo Neves, quem lhes incutiu a importância da prática desportiva, mas a vontade de competirem e de quererem ir mais além, essa, foi nascendo e crescendo à medida que iam colhendo classificações cada vez mais próximas de um lugar no pódio. Ambos atletas do Pedrógão Triatlo, onde o pai treina e é treinador, chegam a entrar em picardia. “Mas saudável”, esclarece André, acrescentando que “há sempre vontade de ajudar quando um está menos bem. Apoiamo-nos sempre”.
Juntos já correram o mundo a competir. De Ibiza, onde André Neves se sagrou campeão do mundo, ao Havai, para a prova de Ironman disputada por Gonçalo Neves, o desporto tem sido uma forma de viver experiências e fortalecer os laços familiares. “Esta viagem de 15 dias ao Havai é um dos melhores momentos da nossa família”, destaca o treinador e atleta. No SLB, André Neves tinha “o suporte próprio da dimensão do clube”, mas agora regressou ao Pedrógão - porque está a treinar com menos intensidade para se dedicar ao curso de Engenharia de Materiais que frequenta no Instituto Superior Técnico em Lisboa – onde os patrocínios existem mas não são suficientes para que as famílias não tenham de investir em material de competição e transportes. “É uma opção e nós optámos por isto. Pode não se ter um carro tão bom mas competimos e viajamos em família para nos apoiarmos”, destaca Gonçalo, explicando que cada um tem o seu material de treino, mas já aconteceu uma bicicleta passar de uns para outros.

Ser pai e treinador é desafio a dobrar
“Tive a felicidade, o trabalho e o incómodo de treinar os próprios filhos”. É desta forma, directa e frontal, que Gonçalo Neves introduz o tema na conversa com O MIRANTE que decorreu nas Piscinas Municipais Fernando Cunha, em Torres Novas, onde habitualmente treinam natação. Os filhos, prossegue, “devem ter alguma distância dos pais no desporto de competição, porque traz momentos que não são confortáveis” que também são próprios do processo de educação dos filhos. “Passam então a haver momentos desconfortáveis a mais”, diz, explicando que tenta ser o mais “equidistante possível” e não exercer sobre eles uma discriminação positiva ou negativa face aos outros atletas que treina.
Para André e Guilherme as águas parecem estar bem separadas. Não é que durante os treinos o pai se torne noutra pessoa, mas há um certo distanciamento e o respeito que tem de haver entre treinador e atleta. “Em casa é o pai, durante o treino é o treinador e nós respeitamos”, vinca Guilherme.
Sobre o papel dos pais no desporto, Gonçalo Neves defende que estes devem acompanhar o percurso dos filhos com o objectivo de os apoiarem, independentemente dos resultados. Infelizmente, refere, “vê-se muitos pais nas bancadas dos treinos a tirar tempos aos filhos, ou seja, não existe uma naturalidade de deixar que o filho construa e percorra o seu percurso”. Parecem esquecer-se que têm um papel “muito importante” a desempenhar, que é o de estarem presentes sem “lhes exigir aquilo que gostavam de ter sido eles próprios quando eram mais novos. Vai quase tudo parar aí, ou mesmo ao crescimento do ego do pai pelo filho”, diz o treinador que foi vice-campeão do mundo de biatlo em 2023, vice-campeão de triatlo, campeão nacional de biatlo em 2022 e de estafetas mistas numa prova em que participou com a atleta, mulher e mãe dos seus filhos, Catarina Neves.

Triatlo é modalidade afamada em Torres Novas

Pai e filhos são três dos nomeados para atletas do ano da gala do desporto da Câmara de Torres Novas. Uma forma de reconhecer o mérito desportivo que é bem-vinda num concelho onde o triatlo é modalidade de destaque e acarinhada pela população. “Há campeões e há uma grande quantidade de atletas neste desporto que é desinibido e que, no caso do Pedrógão Triatlo, os leva a treinar em barragens, nos rios, na natureza e então torna-se num estilo de vida que os pais gostam para os filhos”, afirma Gonçalo que aos 52 anos não pensa em deixar a competição. “Gosto tanto de correr que espero que quando um dia for mais velho e não puder correr já me tenha esquecido do quanto é bom correr”, conclui.

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